- Entrou
- Abr 13, 2007
- Mensagens
- 14,804
- Gostos Recebidos
- 3
Em 730 a.C., um homem chamado Pié decidiu que, para salvar o Egipto de si mesmo, a única solução seria invadi-lo e tomar o império pela força. A magnífica civilização que outrora construíra as pirâmides perdera o rumo, dilacerada por conflitos entre pequenos senhores da guerra. Antes da “salvação”, porém, muito sangue haveria de correr ao longo do Nilo.
Durante duas décadas, Pié governara o seu próprio reino na Núbia, uma região de África situada maioritariamente no actual Sudão. Texto de Robert Draper; Fotografias de Kenneth Garrett
Pié defendia que era ele o verdadeiro soberano do Egipto, o herdeiro legítimo das tradições espirituais transmitidas por faraós como Ramsés II e Tutmés III. Porém, e provavelmente porque Pié nunca visitara sequer o Alto Egipto, a sua pretensão não foi tomada a sério. Agora, Pié preparava-se para concretizar a sujeição do Egipto decadente. “Deixarei que o Baixo Egipto prove o sabor dos meus dedos”, escreveria mais tarde. Navegando Nilo acima, as suas tropas rumaram a norte e desembarcaram em Tebas, capital do Alto Egipto. Comandante de uma guerra santa, Pié deu instruções aos soldados para se purificarem antes do combate, banhando-se no Nilo, antes de vestirem tecidos de boa qualidade e aspergirem os corpos com a água do templo de Karnak, local sagrado do deus com cabeça de carneiro, Amon, que Pié reconhecia como sua divindade predilecta. Depois destes rituais, o comandante e os seus homens iniciaram combates contra todos os exércitos que lhes barraram o caminho. Após uma longa campanha de um ano, todos os líderes do Egipto capitularam, incluindo Tefnakht, o poderoso senhor da guerra do Delta que enviou a Pié uma mensagem, dizendo-lhe: “Sê piedoso! Não posso olhar o teu rosto em dias de vergonha; não posso manter-me em pé perante a tua chama, temo a tua magnificência.” A troco da sua vida, os derrotados convidaram Pié a prestar culto nos seus templos, a embolsar as suas jóias e reivindicar os seus melhores cavalos. Depois, com os vassalos tremendo perante si, o recém-ungido senhor das Duas Terras fez uma coisa extraordinária: reuniu o seu exército e o saque de guerra, navegou para sul, rumo ao seu lar na Núbia, e nunca mais regressou ao Egipto. Em 715 a.C., quando Pié morreu, após um reinado que durou 35 anos, os seus súbditos honraram-lhe a última vontade, sepultando-o numa pirâmide ao estilo egípcio, juntamente com quatro dos seus amados cavalos. Foi o primeiro faraó assim sepultado em mais de 500 anos e, de certa forma, é lamentável que este notável núbio seapresente perante nós literalmente desprovido de um rosto. Há muito que foram destruídas as imagens de Pié nas elaboradas lajes de granito, ou estelas, recordando a sua conquista do Egipto. Num relevo no templo de Napata, a grande capital núbia, só as pernas de Pié permanecem. Conhecemos apenas um pormenor físico do homem: é certo que tinha a pele escura. Pié foi o primeiro dos denominados faraós negros, uma dinastia (a XXV) de reis núbios que governaram todo o Egipto durante três quartos de século. Com base nas inscrições gravadas em estelas, tanto pelos núbios como pelos seus inimigos, podemos acompanhar o longo rasto deixado por estes soberanos no país das Duas Terras. Os faraós negros reunificaram um Egipto arruinado e ergueram na paisagem gloriosos monumentos, criando um império que se estendia desde a fronteira sul, a actual cidade de Cartum, até ao mar Mediterrâneo, a norte. Fizeram frente aos sanguinários assírios e, durante este período, é possível que tivessem salvo Jerusalém.
Fonte: National Geographic
Durante duas décadas, Pié governara o seu próprio reino na Núbia, uma região de África situada maioritariamente no actual Sudão. Texto de Robert Draper; Fotografias de Kenneth Garrett
Pié defendia que era ele o verdadeiro soberano do Egipto, o herdeiro legítimo das tradições espirituais transmitidas por faraós como Ramsés II e Tutmés III. Porém, e provavelmente porque Pié nunca visitara sequer o Alto Egipto, a sua pretensão não foi tomada a sério. Agora, Pié preparava-se para concretizar a sujeição do Egipto decadente. “Deixarei que o Baixo Egipto prove o sabor dos meus dedos”, escreveria mais tarde. Navegando Nilo acima, as suas tropas rumaram a norte e desembarcaram em Tebas, capital do Alto Egipto. Comandante de uma guerra santa, Pié deu instruções aos soldados para se purificarem antes do combate, banhando-se no Nilo, antes de vestirem tecidos de boa qualidade e aspergirem os corpos com a água do templo de Karnak, local sagrado do deus com cabeça de carneiro, Amon, que Pié reconhecia como sua divindade predilecta. Depois destes rituais, o comandante e os seus homens iniciaram combates contra todos os exércitos que lhes barraram o caminho. Após uma longa campanha de um ano, todos os líderes do Egipto capitularam, incluindo Tefnakht, o poderoso senhor da guerra do Delta que enviou a Pié uma mensagem, dizendo-lhe: “Sê piedoso! Não posso olhar o teu rosto em dias de vergonha; não posso manter-me em pé perante a tua chama, temo a tua magnificência.” A troco da sua vida, os derrotados convidaram Pié a prestar culto nos seus templos, a embolsar as suas jóias e reivindicar os seus melhores cavalos. Depois, com os vassalos tremendo perante si, o recém-ungido senhor das Duas Terras fez uma coisa extraordinária: reuniu o seu exército e o saque de guerra, navegou para sul, rumo ao seu lar na Núbia, e nunca mais regressou ao Egipto. Em 715 a.C., quando Pié morreu, após um reinado que durou 35 anos, os seus súbditos honraram-lhe a última vontade, sepultando-o numa pirâmide ao estilo egípcio, juntamente com quatro dos seus amados cavalos. Foi o primeiro faraó assim sepultado em mais de 500 anos e, de certa forma, é lamentável que este notável núbio seapresente perante nós literalmente desprovido de um rosto. Há muito que foram destruídas as imagens de Pié nas elaboradas lajes de granito, ou estelas, recordando a sua conquista do Egipto. Num relevo no templo de Napata, a grande capital núbia, só as pernas de Pié permanecem. Conhecemos apenas um pormenor físico do homem: é certo que tinha a pele escura. Pié foi o primeiro dos denominados faraós negros, uma dinastia (a XXV) de reis núbios que governaram todo o Egipto durante três quartos de século. Com base nas inscrições gravadas em estelas, tanto pelos núbios como pelos seus inimigos, podemos acompanhar o longo rasto deixado por estes soberanos no país das Duas Terras. Os faraós negros reunificaram um Egipto arruinado e ergueram na paisagem gloriosos monumentos, criando um império que se estendia desde a fronteira sul, a actual cidade de Cartum, até ao mar Mediterrâneo, a norte. Fizeram frente aos sanguinários assírios e, durante este período, é possível que tivessem salvo Jerusalém.
Fonte: National Geographic