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Baú das Recordações!

marialui

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mjtc, devias prosseguir com este tópico do Baú das Recordações do tempo antigo. É um tópico interessante. Tenho uma dúvida ... Não sei se este tópico é individual ou todos podem participar?...

Vim aqui talvez estragar as coisas. Rsrsrsr....

[video]https://youtu.be/IqFND1x59Nc?t=146[/video]


:espi28:
 
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mjtc

GF Platina
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Lembram-se da escola nos anos 80?

Nesse tempo não havia hipermercados, nem muito dinheiro para gastar. O material escolar comprado era para durar. As aulas só começavam em Outubro e estrear um caderno novo era uma emoção.

A década de 80 marcou a transição para a educação de massas, onde o consumo começava a ser mais fácil mas ainda era espartano e quem mandava eram definitivamente, os pais e os professores. Nos anos 80, as escolas só reabriam na primeira semana de Outubro, depois de três meses de férias. O primeiro dia de aulas tinha já sabor de Outono. Estreavam-se roupas novas, a mala tinha que durar pelo menos quatro anos, o estojo pelo menos um ano lectivo inteiro e só havia margem para comprar cadernos, lápis e borrachas quando estes se gastavam. Não havia birras nem invejas do colega do lado, até porque a escolha não era muita e quase todos tínhamos coisas iguais.


Nesse tempo a moda era a mesma: kispos, fatos-de treino, ténis, camisolas de gola alta, gorros de malha, e nos dias de chuva, botas de borracha para andar a saltar dentro das poças.

Um dos artigos mais populares dos adolescentes dos anos 80 era o famoso kispo. A marca KISPO foi criada no início dos anos 70 por um suíço que se estabeleceu no Norte de Portugal, e rapidamente se foi impondo nos mercados português e nórdico, de tal forma que o nome da marca serve ainda hoje para denominar os tais blusões impermeáveis, à prova de vento, frio e nódoas, adorado por todas as mães e apreciados pelos jovens da época.
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O kispo era a imagem de marca. A desvantagem é que parecia que andavam sempre com a mesma farpela, o que na realidade não interessava nada: o que era importante era ser o orgulhoso proprietário de um garrido kispo e ser reconhecido na escola por isso mesmo! As cores que se usavam mais na altura eram o vermelho e o azul, que são também as cores do logo da marca. Como o preço de um kispo não era barato, tinhamos de o estimar bem.

Nesse tempo em que não havia ASAE, paranóias de segurança e pedófilos em cada esquina, íamos e vínhamos a pé para a escola, comprávamos bolos com creme numa padaria que houvesse pelo caminho, passávamos o tempo livre na rua, corríamos para todo o lado, pendurávamo-nos com audácia em árvores, muros, redes, éramos quase todos magros e ágeis. Da casa levávamos um aviso: "Ai de ti que a professora me venha fazer uma queixa".

Depois da escola, ao fim da tarde, havia desenhos animados na televisão. Primeiro ainda os víamos a preto e branco, depois passou a ser a cores. Ser criança nos anos 80 teve essa coisa importantíssima que era uma programação televisiva pensada para educar. Havia os desenhos animados japoneses que nos faziam chorar claro, como o Marco ou a Candy Candy. Mas depois havia os desenhos animados da Europa de Leste do Vasco Granja, os clássicos da literatura contados em versão infantil como o D’Artacão ("Os Três Mosqueteiros" de Alexandre Dumas), Willy Fog ("A Volta ao Mundo em 80 dias" de Júlio Verne), Tom Sawyer ("Tom Sawyer" de Mark Twain), ou a série francesa "Era uma vez …o espaço", que tinha este maravilhoso genérico:
[video=youtube_share;TAz8YW0AUdM]https://youtu.be/TAz8YW0AUdM[/video]


Nos anos 80 coleccionávamos cromos e enchíamos cadernetas, trocávamos os repetidos com os colegas na escola e o momento em que se preenchia toda a caderneta era uma alegria. Mas a mania do coleccionismo não se ficava por aí. Havia as colecções de cápsulas dos refrigerantes para ganhar um copo, uma t-shirt ou um brinquedo, as colecções de borrachas perfumadas ou de folhas coloridas para o dossier, dos autocolantes do Bollycao, dos invólucros das pastilhas elásticas.
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Por falar em pastilhas elásticas, também só as comíamos de vez em quando, por isso era preciso que durassem. Uma das técnicas era colá-las debaixo da mesa à hora das refeições e depois ir lá buscá-las e metê-las na boca outra vez.

Uma das colecções que todas as meninas tinham de ter era os cromos cor-de-rosa, e os bonecos eram também essencialmente meninas cor de rosa em jardins bucólicos com animaizinhos muito fofos e amiguinhos: meninos e meninas, muito amorosos e engraçados.
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Estes cromos traziam contudo uma novidade ainda pouco comum: eram autocolantes, o que significava que cada carteira de cromos era um pouco mais cara.
 
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mjtc

GF Platina
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Os Ousados Fatos de Banho das Refugiadas e Turistas

Enquanto em outros países europeus e norte-americanos, as mulheres exibiam os seus ousados fatos de banho, nas praias; em Portugal respirava-se ainda o provincialismo, um mundo fechado a modernidade.
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Em 1940, Portugal recebeu milhares de refugiados em fuga de uma Europa que era mais tolerante nos costumes, mas estava em guerra. As mulheres estrangeiras fumavam, usavam saias curtas e iam sozinhas paras os cafés, deixando muitos homens portugueses embasbacados com tanta modernidade. No ano seguinte, para prevenir alegados atentados ao pudor nas praias, Salazar legislou sobre o que os fatos de banho devem esconder. Estes editais permaneceram afixados nas praias portuguesas durante décadas. A partir dos finais da década de 1950, os incumpridores eram muitos e já não eram incomodados com multas.
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A chegada das refugiadas estrangeiras em 1940 abanou e arejou um Portugal cinzento e fechado sobre si próprio, e pôs os homens portugueses em alvoroço e a hierarquia religiosa em alerta.
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Mulheres em fato de banho, homens vestidos, e um
com roupa de país árabe, numa praia da zona do Estoril.

No seu livro "Recordações de um Caminheiro" − citado por Irene Pimentel na obra "Judeus em Portugal durante a II Guerra Mundial" − o escritor, dramaturgo e advogado antifascista Alexandre Babo, recorda as esplanadas da Avenida ou do Rossio onde se viam franceses, belgas, holandeses, judeus dos mais remotos lugares. O autor também se refere a uma das pastelarias mais famosas da Lisboa de então: "À Suíça, no Rossio, já chamavam o "Bompernasse" (numa alusão às pernas das mulheres que passeavam pela zona parisiense de Montparnasse), porque por ali "predominavam as mulheres fumando em público. Tudo isto era um murro na boca do estômago do provincianismo nacional. Aquela gente aparentava outros hábitos, mais livres, mais naturais e abertos, sem olharem (elas) de soslaio os machos, sentadas nos cafés, nas cervejarias, nos passeios públicos, o que até então era apanágio exclusivo dos homens e de algumas poucas mulheres.

A escritora e jornalista francesa Suzanne Chantal − que mais tarde se casaria com um português − escreveria em 1940 no "Diário de Notícias", que nunca tinha visto tantos homens juntos ao mesmo tempo numa praça pública e nem uma única mulher e que compreendia a razão por que Portugal tinha um nome masculino. No seu romance "Deus não Dorme", Chantal descreve o escândalo que os hábitos das estrangeiras provocaram entre algumas portuguesas que por vezes, mostravam incompreensão pela situação dos refugiados: "Querem que a gente tenha pena deles. Passam ali os dias inteiros sem fazer nada. Estas estrangeiras passeiam-se sem meias, sem chapéu. Trazem bâton nos lábios e não têm camisa. Uma vergonha! Um mau exemplo para as nossas filhas".

Na realidade, os refugiados que passaram por Portugal só passavam dias inteiros sem aparentemente fazerem nada porque estavam praticamente impedidos de trabalhar, e limitados no espaço geográfico em que se podiam movimentar. Na verdade, não eram turistas mas pessoas em fuga em busca de um porto seguro que os salvasse da guerra e perseguições nazis.
 

mjtc

GF Platina
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Multa a quem praticasse atentado ao pudor!

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orban89

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"Um mundo de antiguidades"​


 
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