Condutores idosos causam mais acidentes
Sinistralidade com automobilistas com mais de 65 anos está a aumentar. Autoridades vão passar a exigir exames médicos e psicológicos mais rigorosos para a revalidação da carta.
O número de acidentes rodoviários envolvendo condutores idosos com mais de 65 anos tem estado a aumentar gradualmente (de 4044 durante o ano de 2000 para 4749 em 2007), levando as autoridades competentes a "apertar" o controlo das capacidades destes automobilistas. Passaram também a exigir mais rigor na atribuição das cartas para se poder conduzir quadriciclos, - pequenos carros utilizados principalmente por idosos (ver caixa).
Representantes do sector da condução automóvel consideram que, para aumentar a segurança rodoviária, "deveria haver formação contínua para pessoas já encartadas, tanto a nível teórico como prático, porque nos últimos anos têm surgido muitas alterações na legislação e também nas características da rede viária".
Segundo estes responsáveis, tudo isto é consequência do aumento da esperança de vida, que faz subir também o número de condutores idosos. O problema é que, com o avançar da idade, a visão e audição vão diminuindo, os reflexos e a capacidade de resposta tornam-se mais lentos. Como consequência, vão-se registando mais acidentes envolvendo automobilistas com mais de 65 anos.
A origem deste problema deveria resolver-se com a obrigatoriedade de os condutores, a partir dos 60 anos, terem de passar a renovar periodicamente, de cinco em cinco anos, a carta de condução e, para isso, terem de apresentar um atestado médico provando continuarem a reunir as condições necessárias para controlar um carro em segurança.
Mas, em muitos casos isso não sucede, sendo esse atestado médico encarado apenas como um mero documento burocrático necessário para revalidar a carta de condução. "Por vezes, o condutor já é conhecido do seu médico há muitos e muitos anos e pede-lhe para passar aquele atestado, mesmo sem se submeter a qualquer teste", revelou ao DN fonte ligada ao sector da condução, que preferiu o anonimato.
Uma situação impossível de controlar actualmente pelo Instituto da Mobilidade dos Transportes Terrestres (IMTT), mas que brevemente poderá passar a ser, na sequência de o Governo ter aprovado, no dia 14 de Maio, um novo Regulamento da Habilitação Legal para Conduzir, que prevê um rigoroso teste oftalmológico e a obrigatoriedade de um exame psicológico para a obtenção e revalidação da carta de condução.
A proposta de lei, que ainda terá de ser submetida à Assembleia da República, fixa "as incompatibilidades que condicionam o exercício da actividade de avaliação médica e psicológica" e prevê "os ilícitos de mera ordenação social e respectivas sanções" no âmbito do novo Regulamento da Habilitação Legal para Conduzir.
Segundo o diploma aprovado em Conselho de Ministros, o acto médico de avaliação do candidato a condutor ou para revalidação do título de condução deve ter "o rigor adequado" e deve ter "em conta o interesse dos avaliados e o da segurança rodoviária da comunidade".
Deste modo, passa a ser dado "especial enfoque" ao exame oftalmológico e estende-se a obrigatoriedade de submissão a exame psicológico para a obtenção e revalidação dos títulos de condução, prevendo-se a abertura de Centros de Avaliação Médica e Psicológica, responsáveis pela avaliação da aptidão física, mental e psicológica.
Além deste maior controlo na avaliação médica e psicológica, o presidente da Associação Portuguesa de Directores de escolas de Condução, David Silva, defende "a necessidade de os condutores terem uma formação contínua. Devem fazer uma actualização teórica e prática de condução".
"Entre 1954 e 1994 não houve alterações no Código da Estrada e agora surgem quase todos os anos. Quem tirou a carta há quase 30 anos, não se apercebe dessas alterações", frisou ao DN.
Adianta que "também mudaram muito as características da rede viária, com nós de entrada e saída de estradas complicados, com várias alternativas e hipóteses para diversas direcções e destinos".
"A pressão rodoviária é cada vez maior e mais agressiva, sentindo-se os condutores sem tempo suficiente para interpretar correctamente toda aquela informação", diz o presidente daquela associação, considerando que "isso torna-se ainda mais complicado para quem já tem visão mais reduzida e reflexos menos rápidos. Por isso, por vezes acabam por entrar em auto-estradas e noutras vias em contramão
fonte.jn