Guardas-prisionais obrigados a levar farnel
O fecho do refeitório da cadeia de Paços de Ferreira obrigou os guardas prisionais a almoçarem em restaurantes, ou, como acontece na maioria das vezes, a levarem o almoço em marmitas e a fazerem piqueniques à porta da cadeia.
O cenário é bizarro: dezenas de guardas prisionais almoçam debaixo de árvores, à porta da cadeia de Paços de Ferreira, com farnéis partilhados entre si. À primeira vista, o ambiente parece de festa, mas na realidade é tenso. Muito tenso. A poucos metros dali, as pessoas que se perfilam para visitar os presos mostram-se admiradas com o "espectáculo".
A reportagem do JN deslocou-se ontem, à hora do almoço, ao estabelecimento prisional. A foto que publicamos, mostrando três guardas a almoçarem sobre o capô de um automóvel estacionado no parque exterior da cadeia, foi captada à distância e muitos dos guardas, ao sentirem a presença do JN, tentaram esconder o farnel da objectiva.
O refeitório era gerido pela Associação Desportiva, Recreativa e Cultural dos Funcionários do Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, fundada há nove anos, e foi encerrado no dia 22 do mês passado pela directora da cadeia que trocou as fechaduras e pôs cadeados na porta. Este refeitório servia em média 60 almoços e jantares diários, garantem os guardas.
Um aviso, colocado à porta da messe, e assinado pela directora Elisabete Ferreira Dias, informa que não há data prevista para a reabertura, lamenta o prejuízo causado aos "utilizadores", mas não explica por que motivo foi tomada a decisão. Apesar de a direcção manter abertos os bares no interior do estabelecimento prisional, os guardas prisionais recusam almoçar diariamente "sandes" ou "bolos".
A alternativa é ir aos restaurantes da zona, a alguns quilómetros dali. Mas, além de ser mais caro almoçar em restaurantes, nem sempre os horários destinados a refeições dão tempo para isso, obrigando a levar a marmita de casa. "Se havia má gestão na messe ou outros problemas deveriam ter encontrado um solução antes de fechá-la", lamenta um guarda.
"Quem tiver de fazer o turno da tarde e noite e tem de almoçar entre as 17.30 e as 18.30 horas não encontra um restaurante na zona disponível para servir almoços a essa hora", lembra um outro colega contactado pelo JN. Dentro da cadeia não há espaços para almoçar, "a não ser na camarata", afirma um outro guarda lembrando que o estabelecimento prisional funciona 24 horas por dia. "Então o pessoal da noite é que não tem nada", afirma.
Alguns lembram que pela lei qualquer empresa com mais de 50 trabalhadores é obrigada a ter um refeitório, mas no caso do estabelecimento prisional onde existem 270 guardas, além de funcionários administrativos essa regra não se aplica.
"Mais do que o incómodo que isto causa é a falta de dignidade perante os guardas prisionais. Um cenário destes não dignifica nem o Estado, nem as autoridades policiais", insurge-se um guarda à saída do estabelecimento prisional.
O JN contactou a portaria da cadeia e foi informado que a directora estava ausente e não seria possível fornecer o contacto telefónico. A Direcção-Geral dos Serviços Prisionais esteve, ontem, incontactável para que ouvissemos uma explicação em tempo útil.
Denúncia em véspera de greve
A polémica gerada com o encerramento da messe da cadeia de Paços de Ferreira ocorre dias antes da greve anunciada pelo sindicato dos guardas prisionais que paralisam amanhã, na terça e quarta-feira; e depois a 18 e 19 deste mês.
Reivindicam um estatuto profissional digno, remuneração ajustada e aposentação aos 60 anos. No caso de Paços de Ferreira já se respira um ar de protesto, sobretudo porque os guardas sentem-se, na expressão de vários elementos contactados pelo JN, "desrespeitados", "olhados sem a dignidade que a função exige" e "sem condições para exercer a profissão".
JN
O fecho do refeitório da cadeia de Paços de Ferreira obrigou os guardas prisionais a almoçarem em restaurantes, ou, como acontece na maioria das vezes, a levarem o almoço em marmitas e a fazerem piqueniques à porta da cadeia.
O cenário é bizarro: dezenas de guardas prisionais almoçam debaixo de árvores, à porta da cadeia de Paços de Ferreira, com farnéis partilhados entre si. À primeira vista, o ambiente parece de festa, mas na realidade é tenso. Muito tenso. A poucos metros dali, as pessoas que se perfilam para visitar os presos mostram-se admiradas com o "espectáculo".
A reportagem do JN deslocou-se ontem, à hora do almoço, ao estabelecimento prisional. A foto que publicamos, mostrando três guardas a almoçarem sobre o capô de um automóvel estacionado no parque exterior da cadeia, foi captada à distância e muitos dos guardas, ao sentirem a presença do JN, tentaram esconder o farnel da objectiva.
O refeitório era gerido pela Associação Desportiva, Recreativa e Cultural dos Funcionários do Estabelecimento Prisional de Paços de Ferreira, fundada há nove anos, e foi encerrado no dia 22 do mês passado pela directora da cadeia que trocou as fechaduras e pôs cadeados na porta. Este refeitório servia em média 60 almoços e jantares diários, garantem os guardas.
Um aviso, colocado à porta da messe, e assinado pela directora Elisabete Ferreira Dias, informa que não há data prevista para a reabertura, lamenta o prejuízo causado aos "utilizadores", mas não explica por que motivo foi tomada a decisão. Apesar de a direcção manter abertos os bares no interior do estabelecimento prisional, os guardas prisionais recusam almoçar diariamente "sandes" ou "bolos".
A alternativa é ir aos restaurantes da zona, a alguns quilómetros dali. Mas, além de ser mais caro almoçar em restaurantes, nem sempre os horários destinados a refeições dão tempo para isso, obrigando a levar a marmita de casa. "Se havia má gestão na messe ou outros problemas deveriam ter encontrado um solução antes de fechá-la", lamenta um guarda.
"Quem tiver de fazer o turno da tarde e noite e tem de almoçar entre as 17.30 e as 18.30 horas não encontra um restaurante na zona disponível para servir almoços a essa hora", lembra um outro colega contactado pelo JN. Dentro da cadeia não há espaços para almoçar, "a não ser na camarata", afirma um outro guarda lembrando que o estabelecimento prisional funciona 24 horas por dia. "Então o pessoal da noite é que não tem nada", afirma.
Alguns lembram que pela lei qualquer empresa com mais de 50 trabalhadores é obrigada a ter um refeitório, mas no caso do estabelecimento prisional onde existem 270 guardas, além de funcionários administrativos essa regra não se aplica.
"Mais do que o incómodo que isto causa é a falta de dignidade perante os guardas prisionais. Um cenário destes não dignifica nem o Estado, nem as autoridades policiais", insurge-se um guarda à saída do estabelecimento prisional.
O JN contactou a portaria da cadeia e foi informado que a directora estava ausente e não seria possível fornecer o contacto telefónico. A Direcção-Geral dos Serviços Prisionais esteve, ontem, incontactável para que ouvissemos uma explicação em tempo útil.
Denúncia em véspera de greve
A polémica gerada com o encerramento da messe da cadeia de Paços de Ferreira ocorre dias antes da greve anunciada pelo sindicato dos guardas prisionais que paralisam amanhã, na terça e quarta-feira; e depois a 18 e 19 deste mês.
Reivindicam um estatuto profissional digno, remuneração ajustada e aposentação aos 60 anos. No caso de Paços de Ferreira já se respira um ar de protesto, sobretudo porque os guardas sentem-se, na expressão de vários elementos contactados pelo JN, "desrespeitados", "olhados sem a dignidade que a função exige" e "sem condições para exercer a profissão".
JN