O autor deste "picado" contou à National Geographic Portugal como conseguiu captar parte de uma selva que esconde ainda hoje relíquias da civilização maia.
Pirâmides, ruas, canais. O império maia estava repleto de estruturas complexas ocultas sob a impenetrável selva. Hoje, uma tecnologia laser permite "vê-las" em todo o seu esplendor, mais profundamente do que uma imagem aérea como esta.
A perspectiva que o fotógrafo madrileno
Rúben Salgado Escudero nos oferece nesta imagem está longe de revelar a dimensão real da antiga cidade maia
Dzibanché, na península do Iucatão, no México, mas ainda assim não deixa de nos espantar.
Em Lisboa, à distância de mais de 7.800 quilómetros deste sítio arqueológico, vários aviões sobrevoam a redacção da National Geographic Portugal, enquanto tentamos ouvir a custo um áudio que o
explorador-fotógrafo espanhol "em trânsito" nos enviou via
WhatsApp sobre os
bastidores da fotografia que serve de entrada à reportagem
"O reino oculto dos maias" e que é a razão de ser deste artigo.
Entre interrupções,
rewinds e
forwards, conseguimos finalmente transcrever as palavras de Rúben: "O plano que eu e o editor tínhamos era tirar uma fotografia aérea que demonstrasse a amplitude da selva no mundo maia [e que o leitor] pudesse apreciar a quantidade de vegetação que aí existe, percebendo que é muito complexo trabalhar nestas condições, demorando-se anos e anos, senão décadas, a estudar um pequeno pedaço de selva." Pelo menos,
até à tecnologia LiDAR aparecer e revolucionar a arqueologia da paisagem. Os arqueólogos podem agora recorrer a esta ferramenta para avançar "muito mais rapidamente na exploração" de áreas antes inescrutáveis. O
LiDAR, uma tecnologia
laser capaz de remover digitalmente a copa de uma floresta, mostra que Dzibanché, a
antiga cidade maia que vemos nesta imagem, ocupava uma
área de 20 quilómetros quadrados.
Tecnicamente, um
drone pode facilitar o trabalho de um fotógrafo, mas está longe de tomar decisões como eleger o sítio arqueológico para o registo idealizado. E, neste caso, a escolha não aconteceu do pé para a mão: "O plano era mostrar a partir de cima, como um avião, a amplitude da selva e um dos monumentos mais destacados do mundo maia. Visitei, então, várias localizações do México para ver onde íamos fazer esta foto." Depois de escolhido o cenário, "era importante esperar pela melhor luz". E, para o efeito, bateu-se por uma
hora dourada: "Dormi directamente no sítio arqueológico, onde não há hotel, nem nada. Tive permissão para ali pernoitar. Dormi numa tenda de campanha para despertar às quatro da manhã e 'sacar' do
drone nos primeiros minutos do Sol. Tudo isto para obter a imagem que podem ver agora."
O espanhol Rúben Salgado Escudero é um fotógrafo premiado internacionalmente – se estiver atento aos vencedores dos
Sony World Photography Awards e dos
Picture of The Year Latam, é possível que se lembre do seu nome.
De uma década neste ramo, destaca o arranque profissional, em 2013, quando se mudou para
Myanmar para documentar a abertura do país asiático após meio século de isolamento internacional. Nos últimos anos, lembra-nos, tem trabalhado em várias peças para a
revista National Geographic e para organizações de ajuda humanitária, como a Agência das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), e organizações não-governamentais de todo o mundo.
O
trabalho e as viagens de Salgado Escudero levaram-no a
mais de 60 países, tendo vivido até ao momento em seis, incluindo o México, onde reside desde 2017.
Portugal, "um país que ama", é uma paragem regular. Afinal, o fotógrafo colabora com o festival de música e arte chamado
Waking Life na vila do Crato, no Alentejo.