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Mariza

edu_fmc

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Mariza - Primavera

Todo o amor que nos prendera
Como se fora de cera
Se quebrava e desfazia
Ai funesta primavera
Quem me dera, quem nos dera
Ter morrido nesse dia

E condenaram-me a tanto
Viver comigo meu pranto
Viver, viver e sem ti
Vivendo sem no entanto
Eu me esquecer desse encanto
Que nesse dia perdi

Pão duro da solidão
É somente o que nos dão
O que nos dão a comer
Que importa que o coração
Diga que sim ou que não
Se continua a viver

Todo o amor que nos prendera
Se quebrara e desfizera
Em pavor se convertia
Ninguém fale em primavera
Quem me dera, quem nos dera
Ter morrido nesse dia
 

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Mariza - Quando Me Sinto Só

Quando me sinto só,
Como tu me deixaste,
Mais só que um vagabundo
Num banco de jardim
É quando tenho dó,
De mim e por contraste
Eu tenho ódio ao mundo
Que nos separa assim.

Quando me sinto só
Sabe-me a boca a fado
Lamento de quem chora
A sua triste mágoa
Rastejando no pó
Meu coração cansado
Lembra uma velha nora
Morrendo à sede de água.

P'ra que não façam pouco
Procuro não gritar
A quem pergunta minto
Não quero que tenham dó
Num egoísmo louco
Eu chego a desejar
Que sintas o que sinto
Quando me sinto só.
 

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Mariza - Que Deus Me Perdoe

Se a minha alma fechada
Se pudesse mostrar,
E o que eu sofro calada
Se pudesse contar,
Toda a gente veria
Quanto sou desgraçada
Quanto finjo alegria
Quanto choro a cantar...
Que Deus me perdoe
Se é crime ou pecado
Mas eu sou assim
E fugindo ao fado,
Fugia de mim.
Cantando dou brado
E nada me dói
Se é pois um pecado
Ter amor ao fado
Que Deus me perdoe.
Quanto canto não penso
No que a vida é de má,
Nem sequer me pertenço,
Nem o mal se me dá.
Chego a querer a verdade
E a sonhar - sonho imenso -
Que tudo é felicidade
E tristeza não há.
 

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Mariza - Quisera Lavar O Pensamento

Sou feita de temor e ansiedade
Em tudo vejo aquilo que não presta
Uma saudade atrás doutra saudade
Porque a saudade é tudo que me resta

E quando me convenço que estou morta
Ela me faz viver mais outro dia
Corre-me o sangue ainda gota a gota
Para tornar maior esta agonia

Como a água do mar lava as areias
Eu quisera lavar o pensamento
Escorrer de mim o sangue dessas veias
E vazia partir atrás do vento
 

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Mariza - Recurso

Apenas quando as lágrimas me dão
Um sentido mais fundo ao teu segredo
É que eu me sinto puro e me concedo
A graça de escutar o coração

Logo a seguir (porquê?), vem a suspeita
De que em nós os dois tudo é premeditado.
E as lágrimas então seguem o fado
De tudo quanto o nosso amor rejeita.

Não mais queremos saber do coração
Nem nos importa o que ele nos concede,
Regressando, febris, àquela sede
Onde só vale o que os sentidos dão.
 

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Mariza - Recusa

Se ser fadista, é ser lua,
É perder o sol de vista,
Ser estátua que se insinua,
Então, eu não sou fadista

Se ser fadista é ser triste,
É ser lágrima prevista,
Se por mágoa o fado existe,
Então, eu não sou fadista

Se ser fadista é no fundo,
Uma palavra trocista,
Roçando as bocas do mundo,
Então eu não sou fadista

Mas se é partir à conquista
De tanto verso ignorado
Então eu não sou fadista
Eu sou mesmo o próprio fado.
 

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Mariza - Retrato

No teu rosto começa a madrugada.
Luz abrindo
De rosa em rosa,
Transparente e molhada.

Melodia
Distante mas segura;
Irrompendo da terra,
Quente, redonda, madura.

Mar imenso,
Praia deserta, horizontal e calma.
Sabor agreste.
Rosto da minha alma.
 

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Mariza - Rosa Branca

De Rosa ao peito na roda
Eu bailei com quem calhou
Tantas voltas dei bailando
Que a rosa se desfolhou

Quem tem, quem tem
Amor a seu jeito
Colha a rosa branca
Ponha a rosa ao peito

Ó roseira, roseirinha
Roseira do meu jardim
Se de rosas gostas tanto
Porque não gostas de mim?
 

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Mariza - Saudade

Ai, se de saudade morrerei ou não
Meus olhos dirão de minha verdade
Por eles me atrevo a lançar nas águas
Que mostrem as mágoas
Que nesta alma levo
Se me levam águas, nos olhos as levo

As águas que em vão me fazem chorar
Se elas são do mar, estas de amor são
Por elas relevo todas as minhas mágoas
Que se força de águas
Me leva e eu as levo
Se me levam águas, nos olhos as levo

Todas me entristecem, todas são salgadas
Porém as choradas doces me parecem
Correi doces águas, que se a vós me elevo
Não dóem as mágoas
Que no peito levo
Se me levam águas, nos olhos as levo.
 

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Mariza - Sina

Reza-te a sina nas linhas traçadas na palma da mão
Que duas linhas se encontram cruzadas no teu coração
Sinal de amargura, de dor e tortura, de esperança
perdida
Indício marcado de amor destroçado na linha da vida

E mais te reza na linha do amor que terás de sofrer
O desencanto do leve frescor de uma outra mulher
Já que a má sorte assim o quis e tua sina que diz
Que até morrer terás de ser sempre infeliz

Não podes fugir ao negro fado mortal, ao teu destino
fatal
Que uma má estrela domina
Tu podes mentir às leis do teu coração
Mas nem quer queiras, quer não, tens de cumprir a tua
sina

Cruzando a espada da linha da vida traçada na mão
Eis uma cruz, a feição mal contida que foi uma ilusão
Amor que, em segredo, agiu quase a medo pra teu
sofrimento
E foi essa a imagem que é dada a miragem do meu
pensamento

E vais ainda tão rés ao destino que tens de amargar
E a tua estrela de brilho divino deixou de brilhar
É a estrela de Deus que marcou, mas que bem pouco
brilhou
E cuja luz, aos pés da cruz, já se apagou.
 

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Mariza - Tasco da Mouraria

Cresce a noite pelas ruas de Lisboa
E os meninos como eu foram dormir
Só eu fico com o sonho que já voa
Nesta estranha minha forma de sentir

Deixo o quarto com passinhos de menina
Num silêncio que respeita o mais sagrado
Quando o brilho dos meus olhos na cortina
Se deleitam ao ouvir cantar o fado

Meu amor, vai-te deitar, já é tarde
Diz meu pai sempre que vem perto de mim
Nesse misto de orgulho e de saudade
De quem sente um novo amor no meu jardim

E adormeço nos seus braços de guitarra
Doce embalo que renasce a cada dia
Esse sonho de cantar a madrugada
Que foi berço num tasco da Mouraria
 

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Mariza - Terra D'água

Minha terra dágua, ao cair da mágoa
Aconteça estarmos sós
E a minha alma faz-se voz
Pra contar que as penas
Das águas serenas que o teu fado quis
O meu país

Minha pátria dágua, os meus olhos afago
A quem mil noites te sonhar
E em meu fado, este cantei
Minha terra dágua
Ao cair da mágoa, por ti, sou feliz
O meu país.
 

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Mariza - Toada do Desengano

Este amor, este meu fado,
Tão vivido e magoado
Entre o sim e o todavia,
Este amor desgovernado,
Marcado a fogo e calcado
Em funda melancolia

Este amor dilacerado,
Este amor que noite e dia
Me arrebata e me agonia,
Este amor desenganado,
De saudades macerado,
A encher-me a vida vazia,

Este amor alucinado,
Este amor que desvaria
Entre o luto e a alegria,
Sendo assim desencontrado
Meu amor desesperado,
Que outro amor eu cantaria?
 

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Mariza - Transparente

Como a água da nascente
Minha mão é transparente
Aos olhos da minha avó.

Entre a terra e o divino
Minha avó negra sabia
Essas coisas do destino.
Desagua o mar que vejo
Nos rios desse desejo
De quem nasceu para cantar.

Um Zambéze feito Tejo
De tão cantado q'invejo
Lisboa, por lá morar.

Vejo um cabelo entrançado
E o canto morno do fado
Num xaile de caracóis.

Como num conto de fadas
Os batuques são guitarras
E os coqueiros, girassóis.

Minha avó negra sabia
Ler as coisas do destino
Na palma de cada olhar.

Queira a vida ou que não queira
Disse deus à feiticeira
Que nasci para cantar.
 

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Mariza - Vielas de Alfama

Horas mortas, noite escura
Uma guitarra a trinar
Uma mulher a cantar
O seu fado de amargura

E através da vidraça
Enegrecida e quebrada
A sua voz magoada
Entristece quem lá passa

Refrão:

Vielas de Alfama
Ruas de Lisboa antiga
Não há fado que não diga
Coisas do vosso passado

Vielas de Alfama
Beijadas pelo luar
Quem me dera lá morar
Pra viver junto do fado

A lua às vezes desperta
E apanha desprevenidas
Duas bocas muito unidas
Numa porta entreaberta

Então a lua corada
Ciente da sua culpa
Como quem pede desculpa
Esconde-se envergonhada

Refrão
 

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Mariza - Vozes do Mar

Quando o sol vai caindo sobre as águas
Num nervoso de líqueo de ouro intenso
de onde vem essa voz cheia de mágua
com que falas à terra ó mar imeso
Ó mar

Tu falas de festins e cavalgadas
de cavaleiros errantes ao luar
falas de caravelas encantadas
que dormem em teu seio a soluçar
tens cantos de epopeias
Tens anseios de amarguras
tu tens também receios ó mar
cheio de esperança e magestade
de onde vem essa voz ó mar amigo
talvez a voz de um Portugal antigo
Chamando por Camões numa saudade
Chamando por Camões numa saudade

Tu falas de festins e cavalgadas
De cavaleiros errantes ao luar
Falas de caravelas encantadas
que dormem em teu seio a soluçar
tens cantos de epopeias
tens anseios de amarguras
tu tens também receios ó mar
Cheio de esperança e magestade
de onde vem essa voz ó mar amigo
talvez a voz de um Portugal antigo
Chamando por Camões numa saudade
Chamando por Camões numa saudade
 
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