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Lendas de Portugal

Satpa

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A LENDA DO CASTELO DE ALMOUROL

Durante a Idade Média, o Castelo de Almourol suscitou a criação de numerosas lendas, às quais não foram decerto alheias a beleza natural do lugar e a harmonia da construção. Uma delas é a de D. Ramiro, alcaide do Castelo de Almourol.

Conta a lenda que, voltando cheio de sede de uma campanha guerreira, encontrou duas formosas mouras, mãe e filha, que traziam com elas uma bilha de água. D. Ramiro pediu à filha que lhe desse de beber. Esta, assustou-se e deixou cair a bilha. Enraivecido, D. Ramiro matou-as.

Nesse momento apareceu um rapazinho de 11 anos, filho e irmão das assassinadas. O cavaleiro logo ali o fez cativo e trouxe-o para o castelo. Quando chegou, o pequeno mouro jurou que se vingaria na mulher e na filha de D. Ramiro, duas damas muito belas.

Tempos depois, a mulher do castelão definhou e acabou por morrer, vítima de venenos que o mouro lhe foi dando a pouco e pouco. Porém, não conseguiu matar Beatriz, a filha de D. Ramiro, porque os dois se apaixonaram.

Um belo dia, D. Ramiro chegou ao Castelo na companhia de outro alcaide, a quem tinha prometido a mão de sua filha. Os jovens apaixonados, inconformados com a sorte que os esperava, fugiram sem deixar rasto.

D. Ramiro morreu pouco depois, vitimado pelo desgosto. O castelo, abandonado, caíu em ruínas.

Dizem que, nas noites de S. João, D. Beatriz e o mouro aparecem, abraçados, na torre grande do castelo. A seus pés, D. Ramiro implora perdão, mas o mouro inflexível responde-lhe com dureza:
- MALDIÇÃO!


Adapatação de:
Os Mais Belos Castelos de Portugal, ed. Verbo, Lisboa, 1992
 

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A LENDA DO CASTELO DE FARIA
BRAGA

A já desaparecida fortaleza medieval conhecida por Castelo de Faria, nos arredores de Barcelos, foi palco de uma história desencadeada pelo amor entre o rei D. Fernando e a bela Leonor Teles.

Na verdade, estava D. Fernando para desposar a filha do rei de Castela quando se apaixonou por Leonor Teles, quebrando o compromisso que tinha assumido. Despeitado, o rei castelhano desencadeou uma guerra contra Portugal, cercando Lisboa e muitas outras terras.

O Minho foi invadido pelo adiantado da Galiza, D. Pedro Rodriguez Sarmento, que se bateu com D. Henrique Manuel, tio do rei português, nos arredores de Barcelos.

Os portugueses foram derrotados e entre os reféns ficou D. Nuno Gonçalves, alcaide-mor do Castelo de Faria. No seu cativeiro, receava D. Nuno que o seu filho entregasse o Castelo de Faria logo que visse o pai refém dos castelhanos e, por esse motivo, urdiu um estratagema que o evitasse.

Pediu então ao galego D. Pedro que o levasse até aos muros do castelo para convencer o filho a entregar a fortaleza sem resistência.

Chegados ao castelo, D. Nuno pediu para falar com o seu filho, D. Gonçalo, e exortou-o a defender-se a custo da própria vida, amaldiçoando-o se não cumprisse as suas ordens.

Os castelhanos, vendo-se traídos, mataram logo ali o velho alcaide e atacaram o castelo.

A luta foi renhida e dolorosa para os portugueses que perderam muitos dos seus homens, mas D. Gonçalo, lembrando-se da maldição do pai, resistiu orgulhoso, levando os inimigos a desistir.

D. Gonçalo, apesar de premiado pela sua coragem, pediu ao rei D. Fernando autorização para abandonar o cargo de alcaide e tornou-se sacerdote.


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

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A LENDA DO CAVALUM
MADEIRA

As Furnas do Cavalum, na vila de Machico da ilha da Madeira, são umas grandes grutas escavadas na rocha de basalto que o povo diz serem a morada de um monstro.

Cavalum é um diabo em forma de um enorme cavalo com asas de morcego que deita fogo pelas narinas. Ainda é possível, em dias de temporal, ouvir os urros e as patadas do Cavalum ecoar nas paredes da gruta.

Embora haja quem diga que estes ruídos não são mais do que o eco do ribombar dos trovões, o povo afirma serem do monstro que ali foi obrigado a ficar contra a sua vontade.

Segundo a lenda, nos tempos em que o Cavalum andava à solta, foi a besta bater à porta de igreja para falar com Deus. Quando Deus lhe perguntou ao que vinha, o Cavalum disse-lhe que lhe queria propor um desafio: o monstro tinha a intenção de destruir toda a povoação, igreja incluída, e queria ver se Deus, que já estava um bocadinho velho, tinha forças para o impedir.

Deus mandou-o embora dizendo que não tinha paciência para tais brincadeiras. Mas o Cavalum, que achou que tinha sido honesto em O avisar, reuniu o vento e as nuvens e juntos despertaram uma grande tempestade que se abateu terrível sobre a povoação.

Do alto do penhasco, o Cavalum relinchava de satisfação perante a aflição dos habitantes. Mas Deus, envolvido nas suas mantas diante da lareira, não mexeu um único dedo, pensando que o Cavalum depressa se cansaria da sua brincadeira.

Mas a tempestade subiu de intensidade e o povo, atemorizado, viu as casas e os campos serem arrasados. Até o crucifixo voou pelos ares até ir parar ao mar, levado pelo vento, por indicação especial do insolente Cavalum.

Foi aí que Deus começou a ficar mesmo muito irritado e decidiu acabar com toda aquela provocação infantil. A sua primeira reacção, claro está, foi fazer com que um barco que estava no mar achasse o crucifixo.

Depois chamou o sol que apareceu com toda a sua força, afastando as nuvens, o vento, os trovões e os relâmpagos. O céu ficou azul e a felicidade voltou ao coração dos homens.

Não querendo mais ser interrompido nos seus afazeres pelas tropelias do monstro, Deus decidiu prender o Cavalum nas grutas, onde ainda hoje de vez em quando se ouvem os seus protestos de raiva e desespero.


n site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

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A Lenda Do Geraldo Geraldes, O Sem Pavor

A LENDA DO GERALDO GERALDES, O SEM PAVOR

Esta lenda passou-se no ano de 1166, no tempo em que Évora era ainda a Yeborath árabe, para grande desgosto de D. Afonso Henriques que a desejava como ponto estratégico da reconquista de Portugal aos Mouros.

Geraldo Geraldes, um homem de origem nobre que vivia à margem da lei, era chefe de um bando de proscritos que habitavam num pequeno castelo nos arredores de Yeborath.

Conhecido também pelo Sem Pavor, Geraldo Geraldes decidiu conquistar Évora para resgatar a sua honra e o perdão para os seus homens.

Disfarçado de trovador rondou a cidade e traçou a sua estratégia de ataque à torre principal do castelo que era vigiada por um velho mouro e pela sua filha.

Numa noite, o Sem Pavor subiu sozinho à torre e matou os dois mouros, apoderando-se em silêncio da chave das portas da cidade. Mobilizou os seus homens e atacou a cidade adormecida numa noite sem lua que, surpreendida, sucumbiu ao poder cristão.

No dia seguinte, D. Afonso Henriques recebeu surpreendido a grande novidade e tão feliz ficou que devolveu a Geraldo Geraldes as chaves da cidade, bem como a espada que ganhara, nomeando-o alcaide perpétuo de Évora.

Ainda hoje, a cidade ostenta no brasão do claustro da Sé, a figura heróica de Geraldo Geraldes e as duas cabeças dos mouros decepadas, para além de lhe dedicar a praça mais emblemática de Évora.


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

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A Lenda Do Machico Ou Do Amor Imortal

A LENDA DO MACHICO OU DO AMOR IMORTAL
MADEIRA​

Na corte britânica de Eduardo III, vivia um homem de sangue plebeu e alma nobre, Roberto Machim, que tinha como melhor amigo e companheiro de armas o fidalgo D. Jorge.

Roberto Machim era um homem sensível e tinha o dom da palavra, por isso D. Jorge veio pedir-lhe para ir com ele esperar a sua jovem e bela prima Ana de Harfet, que D. Jorge queria impressionar.

Os primeiros olhares e as primeiras palavras trocadas entre Ana de Harfet e Roberto Machim foram suficientes para que surgisse um amor tão intenso que resignou sinceramente D. Jorge.

Mas os pais de Ana de Harfet não aceitaram a união com um pretendente de tão baixa linhagem e ordenaram o casamento de Ana com um dos fidalgos da corte.

Roberto Machim não escondeu nem a sua cólera nem a sua intenção de lutar por Ana e foi preso por ordem do rei durante alguns dias, enquanto a cerimónia de casamento se realizava.

À saída da prisão esperava-o o seu fiel amigo D. Jorge que o informou que Ana estava a morrer de amor.

Com a ajuda de D. Jorge, Ana e Roberto fugiram num barco em direcção a França, que uma brutal tempestade desviou para uma ilha paradisíaca.

Ana não resistiu à febre que a tinha assolado durante a tormenta e foi enterrada na bela ilha.

Conta-se que Roberto Machim morreu em cima da campa da sua amada e nela foi enterrado pelo seu amigo.

Um grande amor que através do nome de Roberto foi para sempre recordado na bonita vila de Machico, na Ilha da Madeira, pretensa ilha a que aportaram os dois apaixonados que passaram às crónicas portuguesas.


n site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

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A Lenda Do Milagre Da Senhora Do Monte

A LENDA DO MILAGRE DA SENHORA DO MONTE
MADEIRA

Nos primeiros tempos da colonização da ilha da Madeira, havia uma ribeira de água límpida e abundante rodeada de terras férteis que encantou os portugueses que lá chegaram.

Mas um dia um senhor poderoso resolveu ter aquela água só para si e canalizou a fonte para as suas terras.

A população desesperada, porque aquela água era imprescindível à sua sobrevivência, resolveu fazer uma procissão à Senhora do Monte, implorando para que a água voltasse a brotar naquela fonte.

O milagre aconteceu e a água encheu de novo a fonte, mas em quantidade menor do que no início.

O povo utilizou então em seu benefício a ideia do desvio da água e, construindo regos ou cales, levaram a água mais longe, tornando férteis muitos campos e quintas.

A ribeira ficou a ser conhecida como a ribeira de Cales e o milagre da Senhora do Monte ficou para sempre na memória popular.



n site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

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A Lenda Do Milagre De Ourique

A LENDA DO MILAGRE DE OURIQUE​

A Batalha de Ourique é um episódio simbólico para a monarquia portuguesa, pois conta-se que foi nela que D. Afonso Henriques foi pela primeira vez aclamado rei de Portugal, em 25 de Julho de 1139.

Foi no campo de Ourique que se defrontaram o exército cristão e os cinco reis mouros de Sevilha, Badajoz, Elvas, Évora e Beja e os seus guerreiros, que ocupavam o sul da península.

A lenda conta que um pouco antes da batalha, D. Afonso Henriques foi visitado por um velho homem que o rei já tinha visto em sonhos e que lhe fez uma revelação profética de vitória.

Contou-lhe ainda que "sem dúvida Ele pôs sobre vós e sobre a vossa geração os olhos da Sua Misericórdia, até à décima sexta descendência, na qual se diminuirá a sucessão. Mas nela, assim diminuída, Ele tornará a pôr os olhos e verá."

O rei deveria ainda, na noite seguinte, sair do acampamento sozinho logo que ouvisse a sineta da ermida onde o velho vivia, o que aconteceu.

O rei foi surpreendido por um raio de luz que progressivamente iluminou tudo em seu redor, deixando-o distinguir aos poucos o Sinal da Cruz e Jesus Cristo crucificado.

O rei emocionado ajoelhou-se e ouviu a voz do Senhor que lhe prometeu a vitória naquela e em outras batalhas: por intermédio do rei e dos seus descendentes, Deus fundaria o Seu império através do qual o Seu Nome seria levado às nações mais estranhas e que teria para o povo português grandes desígnios e tarefas.

D. Afonso Henriques voltou confiante para o acampamento e, no dia seguinte, perante a coragem dos portugueses os mouros fugiram, sendo perseguídos e completamente dizimados.

Conforme reza a lenda, D. Afonso Henriques decidiu que a bandeira portuguesa passaria a ter cinco escudos ou quinas em cruz representando os cinco réis vencidos e as cinco chagas de Cristo, carregadas com os trinta dinheiros de Judas.


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

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A Morte do Lidador

A Morte do Lidador

Num dia longínquo de 1170, Gonçalo Mendes da Maia, nomeado Lidador pelas muitas batalhas travadas e ganhas contra os Mouros, decidiu celebrar os seus 95 anos com um ataque ao famoso mouro Almoleimar.

Da cidade de Beja saiu o Lidador naquela manhã com trinta cavaleiros fidalgos e trezentos homens de armas, sabendo de antemão que o exército de Almoleimar era muitas vezes superior.

Perto do meio-dia, pararam os cavaleiros para descansar perto de um bosque onde emboscados aguardavam os mouros.

A primeira seta feriu de morte um guerreiro português, o que fez com que o exército cristão se pusesse em guarda. Frente a frente se mediam a destreza e perícia árabes, invocando Allah, e a rudeza e força cristãs, clamando por Santiago.

A batalha começou e ambos os exércitos se debateram com coragem, até que num dado momento Gonçalo Mendes e Almoleimar cruzaram espadas em cima dos seus cavalos.

Um dos vários golpes desferidos atingiu Gonçalo Mendes que, mesmo ferido, atacou com raiva Almoleimar, que ripostou.

O resultado foram dois golpes fatais, um dos quais matou o mouro e outro que deixou Gonçalo Mendes Maia ferido de morte.

O Lidador, moribundo, perseguiu com os seus homens os mouros que debandavam em fuga até que o esforço de um último golpe sobre um cavaleiro árabe lhe agravou os ferimentos.

O Lidador caiu morto na terra juncada de mais de mil corpos inimigos.

Os cerca de sessenta cristãos sobreviventes celebraram com lágrimas esta última vitória do Lidador.

Um sacerdote templário disse em voz baixa as palavras do Livro da Sabedoria: "As almas dos justos estão na mão de Deus e não os afligirá o tormento da morte".
 

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A Lenda Do Mosteiro De AlcobaÇa

A LENDA DO MOSTEIRO DE ALCOBAÇA

Em 1147, a moura renegada Zuleiman apresentou-se nos paços de Coimbra na presença de D. Pedro Afonso, irmão do primeiro rei de Portugal, surpreendendo o infante com a revelação que aquela seria a melhor altura para conquistar Santarém.

Zuleiman despeitada por ter sido abandonada por Muhamed, o alcaide de Santarém, queria vingar-se dando aos cristãos as informações que tinha sobre a defesa do castelo.

Entretanto, D. Afonso Henriques já tinha enviado o seu cavaleiro Mem Ramires a Santarém para estudar o inimigo e a astúcia e a cautela do cavaleiro foram fulcrais para a decisão do ataque.

Conta a lenda que foi na serra dos Albardos que o primeiro rei de Portugal fez a promessa de construir um mosteiro se Deus lhe desse a vitória.

Mem Ramires segurou a escada contra as muralhas por onde entraram os soldados e Santarém amanheceu cristã.

O mosteiro de Alcobaça foi construído em cumprimento de um voto do primeiro rei de Portugal, sendo juntamente com a Batalha e os Jerónimos uma das jóias mais preciosas do património arquitectónico português.

in site “Lendas de Portugal” / Distrito de Santarém
 

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A Lenda Do Pedro Sem

A LENDA DO PEDRO SEM
PORTO

A torre medieval que se encontra diante do antigo Palácio de Cristal, no Porto, é ainda hoje conhecida por Torre de Pedro Sem.

A história diz que essa torre pertencia a Pêro do Sem, doutor de leis, jurisconsulto e chanceler-mor de D. Afonso VI, no século XIV.

Mas a lenda remete para uma data posterior, no século XVI, a existência de um personagem Pedro Sem que vivia no seu Palácio da Torre.

Possuindo muitas naus na Índia, Pedro Sem era um mercador rico mas não tinha títulos de nobreza, o que muito o afectava. Era também usurário, emprestando dinheiro a juros elevados, à custa da desgraça alheia, enquanto vivia rodeado de luxo.

Estavam as suas naus a chegar, carregadas de especiarias e outros bens preciosos, quando a sua máxima ambição foi realizada através do seu casamento com uma jovem da nobreza, em troca do perdão das dívidas de seu pai.

Decorria a festa de casamento, que durou quinze dias consecutivos, quando as naus de Pedro Sem se aproximaram da barra do Douro.

O arrogante mercador acompanhado pelos seus convidados subiu à torre do seu palácio e, confiante do seu poder, desafiou Deus, dizendo que nem o Criador o poderia fazer pobre.

Nesse momento, o céu que estava azul deu lugar a uma grande tempestade!

Pedro Sem assistiu, impotente e encharcado pela chuva, ao naufrágio das suas naus.

De seguida, a torre foi atingida por um raio que fez deflagrar um incêndio que destruiu todos os seus bens.

Arruinado, Pedro Sem passou a pedir esmola nas ruas, lamentando-se a quem passava: "Dê uma esmolinha a Pedro Sem, que teve tudo e agora não tem..."


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

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Lenda Do Senhor Jesus De Ponta Delgada

A LENDA DO SENHOR JESUS DE PONTA DELGADA
AÇORES

A origem da construção da igreja do Senhor Jesus da Ponta Delgada tem origem num milagre que aconteceu há muitos, muitos anos, quando esta cidade era apenas ainda uma pequena povoação que pertencia a Vila Franca do Campo, na ilha de S. Miguel, nos Açores.

Andava uma mulher a apanhar lapas nas rochas junto ao mar quando viu de repente um crucifixo com uma imagem de Cristo em tamanho natural a boiar nas águas.

Como o acesso à imagem não era fácil, decidiu voltar à povoação, onde avisou o padre do que tinha visto. Impressionado, o sacerdote acompanhou a mulher à praia e verificou com os seus próprios olhos a veracidade do sucedido.

O padre entrou dentro do mar e retirou a imagem que foi levada em procissão pela população, que, entretanto se tinha juntado na praia, até à capela de Ponta Delgada.

No dia seguinte, perante o espanto geral, o crucifixo foi encontrado enterrado a prumo na areia da praia, perto do local onde tinha sido achado.

A população tornou a levá-lo em procissão para a capela, mas apenas horas mais tarde aparecia de novo na praia e, desta vez, o crucifixo estava rodeado de canas como que a delimitar a área de um templo.

Respeitando a vontade de Cristo, os habitantes nunca mais retiraram a imagem e iniciaram ali mesmo a construção de uma igreja que se veio a tornar na paróquia de Ponta Delgada.

Foi construído um muro para proteger o templo da fúria das águas do mar, mas, diz a lenda, embora as águas ultrapassassem o muro e chegassem ao adro, nunca se atreveram a entrar dentro da igreja.


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

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A Lenda Dos Marinhos

A LENDA DOS MARINHOS
VALADARES - MONÇÃO



Os Marinhos são uma das mais antigas famílias da Península Ibérica, existente muito antes da fundação do Reino de Portucale. Ao seu nome anda ligada uma velha lenda que tenta explicar-lhe a génese.

Um fidalgo da terra de Valadares, junto à Galiza, de nome D. Froilão, ou D. Froiaz, que era caçador e monteiro-mor, andava um dia a cavalo, perto do mar, correndo atrás de um veado, quando avistou, da encosta de um monte, uma belíssima mulher adormecida sobre a areia.

Aproximando-se sem que ela desse por isso, viu, espantado, que a mulher era nada menos que uma sereia.

Sentindo-se observada no seu sono pausado e sem sonhos, a mulher acordou sobressaltada e procurou escapar-se para o mar. Porém, dois dos escudeiros de D. Froiaz barraram-lhe o caminho e agarraram-na. Defendeu-se o melhor que pôde, usando as mãos, dando golpes com a cauda, mas de nada lhe valeu, porque num ápice os braços dos homens fecharam-se sobre ela e achou-se presa em cima do cavalo e coberta por um gibão.

D. Froiaz levou-a para o castelo. Ia encantado com aquele ser que o mar trouxera. Pediu ao capelão que a baptizasse e escolheu-lhe o nome de Marinha, a dona vinda do mar. Tão formosa era D. Marinha que o cavaleiro passou a viver com ela como se sua mulher fosse e dela lhe nasceu o primogénito.

Como os peixes, Marinha era muda. Apesar dos infinitos esforços de D. Froiaz, que se não poupou a trabalhos, não conseguíram que D. Marinha articulasse um som sequer. No entanto, os olhos da sereia eram um mar de palavras desnecessárias, revoltos de amor, encapelados de ternura. D. Marinha não precisava falar, mas a D. Froiaz faltava-lhe ouvi-la humana.

Na véspera de S. João, pela tarde, alvoroçou-se o castelo com os preparativos para os festejos nocturnos. Tinham juntado lenha em grandes pilhas e começavam a acender as tradicionais fogueiras que deveriam consumir a noite e o ano inteiro porque no dia seguinte começaria a chegar outra noite e o Inverno. Bois e carneiros estavam já esfolados e enfiados em grandes espetos assando lentamente com o rodar das horas.

D. Marinha andava passeando pelo terreiro com o filho nos braços, observando aqueles preparativos totalmente novos, completamente desconhecidos para si. De súbito, D. Froiaz arrancou-lhe o menino dos braços e fez menção de o atirar ao fogo. Enlouquecida, a sereia soltou um guincho estridente de gaivota ferida e bradou:

Filho!!

Com o guincho saltou-lhe da boca um bocado de carne que a impedia de falar, mas não de olhar. A partir daí, D. Marinha passou a dizer tudo naturalmente e acabou esquecendo a linguagem silenciosa e vital do mar.

D. Froiaz casou com ela e em memória deste dia, a que chamou feliz, baptizou a criança com o nome de João Froiaz Marinho.

Foi este o primeiro dos Marinhos, o filho de D. Froiaz e de D. Marinha. A sua casa era muito perto da Galiza, na terra de Valadares e chamavam-lhe Torre dos Marinhos.


"Lendas Portuguesas" Recolha de Fernanda Frazão
Edit. "Amigos do Livro"
 

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A Lenda Dos Sete Ais

A LENDA DOS SETE AIS
SINTRA

Esta é uma lenda estranha que está na origem do nome de um local do concelho de Sintra e que remonta a 1147, data em que D. Afonso Henriques conquistou Lisboa aos Mouros.

Destacado para ocupar o castelo de Sintra, D. Mendo de Paiva surpreendeu a princesa moura Anasir, que fugia com a sua aia Zuleima.

A jovem assustada gritou um "Ai!" e quando D. Mendo mostrou intenção de não a deixar sair, outro "Ai!" lhe saiu da garganta.

Zuleima, sem lhe explicar a razão, pediu-lhe para nunca mais soltar nenhum grito do género, mas ao ver aproximar-se o exército cristão a jovem soltou o terceiro "Ai!".

D. Mendo decidiu esconder a princesa e a sua aia numa casa que tinha na região e querendo levar a jovem no seu cavalo, ameaçou-a de a separar da sua aia se ela não acedesse e Anasir deixou escapar o quarto "Ai!".

Pouco depois de se instalar na casa, a princesa moura apaixonou-se por D. Mendo de Paiva, retribuindo o amor do cavaleiro cristão que em segredo a mantinha longe de todos.

Um dia, a casa começou a ser rondada por mouros e Zuleima receava que fosse o antigo noivo de Anasir, Aben-Abed, que apesar de na fuga se ter esquecido da sua noiva, voltava agora para castigar a sua traição.

Zuleima contou a D. Mendo que uma feiticeira lhe tinha dito que a princesa morreria ao pronunciar o sétimo "Ai!".

Entretanto, Anasir curiosa pela preocupação da aia em relação aos seus "Ais", exprimiu o quinto e o sexto consecutivamente, desesperando a sua aia que continuou a não lhe revelar o segredo.

D. Mendo partiu para uma batalha e passados sete dias foi Aben-Abed que surpreendeu Anasir, que soltou o sétimo "Ai!", ao mesmo tempo que o punhal do mouro a feria no peito.

Enlouquecido pela dor, D. Mendo de Paiva tornou-se no mais feroz caçador de mouros do seu tempo.


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A Lenda Dos Tripeiros

A LENDA DOS TRIPEIROS
PORTO

No ano de 1415, construíam-se nas margens do Douro as naus e os barcos que haveriam de levar os portugueses, nesse ano, à conquista de Ceuta e, mais tarde, à epopeia dos Descobrimentos.

A razão deste empreendimento era secreta e nos estaleiros os boatos eram muitos e variados: uns diziam que as embarcações eram destinadas a transportar a Infanta D. Helena a Inglaterra, onde se casaria; outros diziam que era para levar El-Rei D. João I a Jerusalém para visitar o Santo Sepulcro.

Mas havia ainda quem afirmasse a pés juntos que a armada se destinava a conduzir os Infantes D. Pedro e D. Henrique a Nápoles para ali se casarem...

Foi então que o Infante D. Henrique apareceu inesperadamente no Porto para ver o andamento dos trabalhos e, embora satisfeito com o esforço despendido, achou que se poderia fazer ainda mais.

E o Infante confidenciou ao mestre Vaz, o fiel encarregado da construção, as verdadeiras e secretas razões que estavam na sua origem: a conquista de Ceuta.

Pediu ao mestre e aos seus homens mais empenho e sacrifícios, ao que mestre Vaz lhe assegurou que fariam para o infante o mesmo que tinham feito cerca de trinta anos atrás aquando da guerra com Castela: dariam toda a carne da cidade e comeriam apenas as tripas.

Este sacrifício tinha-lhes valido mesmo a alcunha de "tripeiros". Comovido, o infante D. Henrique disse-lhe então que esse nome de "tripeiros" era uma verdadeira honra para o povo do Porto.

A História de Portugal registou mais este sacrifício invulgar dos heróicos "tripeiros" que contribuiu para que a grande frota do Infante D. Henrique, com sete galés e vinte naus, partisse a caminho da conquista de Ceuta.


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Padeira De Aljubarrota

PADEIRA DE ALJUBARROTA

Chamava-se Brites de Almeida e era tão feia e tão matulona que chegou a fazer-se passar por homem. Na verdade, as profissões que teve pela vida fora foram quase todas masculinas, já que, logo em criança, repudiou a sua condição de mulher.

Parece que nasceu em Faro. Os pais eram gente muito pobre e humilde que vivia de uma pequena taberna.

Desde miúda, Brite revelou-se corpulenta e viva. Era ossuda e muito feia, com os seus cabelos crespos, o nariz adunco e uma boca excessivamente rasgada.

Os pais exultaram com o seu nascimento, porque o aspecto forte da criança os levou a crer que tinham ali uma rapariga de trabalho, tanto mais que trazia seis dedos em cada mão.

Mas os pobres enganaram-se! Brites mostrou-se logo na infância desordeira e destemida, preferindo mil vezes andar à pancada com a miudagem e vagabundear pelas redondezas do que ajudar os pobres pais a mudar as pipas e a servir canecas de vinho aos clientes.

Enfim, amargurou-lhes a vida!

Teria uns vinte e seis anos quando ficou órfã. Isso não a ralou grande coisa, porque lhe deu a possibilidade de ser senhora absoluta de si, sem recriminações.

Vendeu, então, os parcos bens que lhe tinham ficado dos pais, que incluíam uma casita em Loulé, comprou gado e partiu.

Andou de vila em vila, de feira em feira. Pelos caminhos conviveu com toda a casta de vagabundos, desde almocreves e soldados a frades e pedintes.

Quando calhava dormia a céu aberto, comia pão com azeitonas. Adestrava-se no manejo das armas, aprendeu a esgrimir e a utilizar o pau; meteu-se em bulhas e nunca deixou sem resposta uma provocação.

De tudo isto resultou uma larga fama de valentaça.

Apesar disso, certo soldado alentejano, atraído pela fama de Brites, que corria já todo o Sul do País, procurou-a e propôs-lhe casamento. Ela porém, que não estava nada interessada em perder a sua adorada independência e que não era lá muito inclinada a sentimentalismos, tanto ouviu que acabou por anuir com uma condição: lutarem antes do casamento!

E a briga foi de tal ordem que o soldado acabou estirado no chão, ferido de morte. Ao ver o estado em que pusera o «noivo», Brites montou a primeira mula que achou à mão e fugiu com medo da justiça.

Dirigiu-se a Faro e daí embarcou para Espanha. Não chegou contudo, ao reino vizinho, porque o barco em que seguía foi abordado por piratas mouros, que a levaram para a Mauritânia, onde foi vendida como escrava.

Adquiriu-a um senhor que já tinha dois outros escravos portugueses e Brites não descansou enquanto não achou meio de fugir.

Para isso combinaram todos três matar o seu senhor e, na primeira oportunidade, cravaram-lhe uma adaga no peito e fugiram. Embarcaram com destino a Portugal, mas a viagem foi difícil: um enorme temporal encapelou o mar e enovelou o vento. O barco rolou ao deus-dará dias e dias, sem timoneiro que lhe valesse, velas rotas, mastro quebrado. Por fim, por um acaso, deu à costa, na Ericeira.

Brites, que se julgava procurada pela justiça real ainda por causa da luta com o soldado alentejano, enfrentando a sua necessidade de sobrevivência, vestiu-se de homem e cortou os cabelos.

A corpulência e aspecto masculino, proporcionaram-lhe a oportunidade de exercer o ofício de almocreve, ofício que bem conhecia dos seus tempos de vanguarda, ofício que lhe possibilitava a combinação de um modus vivendi que lhe agradava de sobremaneira.

Assim, enquanto lhe apeteceu e agradou, viveu a vida agitada e desbragada a que se habituara nas terras do sul.

Um dia, porém, farta daquele ofício e da terra, partiu. Passava por Aljubarrota quando ouviu dizer na taberna que a padeira da terra necessitava de ajudante. Aceitou o lugar e, tempos depois, acabou sendo dona do negócio, por morte da patroa. Diz-se que por ali se fixou até ao fim dos seus dias, acabando casada com um honesto lavrador – certamente da sua força, que de outro modo não podia ser.

Em Aljubarrota era conhecida como a Brites Pesqueira, provavelmente por se saber que da Ericeira chegara. Em Aljubarrota amanheceu o dia 14 de Agosto de 1385.

Até ela chegavam os clamores da batalha, o ruído do terçar das armas, os gritos surdos dos moribundos e os relinchos dos cavalos enlouquecidos pelo cheiro do sangue e pelo barulho da refrega. Não pôde resistir. Pegou na primeira arma que achou, esquecida no solo por um fugitivo, e juntou-se à hoste dos portugueses que tentava expulsar o invasor.

Derrotados os castelhanos, voltou para casa cansada, coberta de farrapos manchados, mais desgrenhada que nunca mas com uma intensa sensação de leveza. Mal entrou pressentiu que qualquer coisa de anormal se passava e logo desconfiou ter-se ali escondido algum fugitivo castelhano.

Intrigou-a a porta do forno fechada e correu a abri-la. Espantada, achou lá dentro sete castelhanos, apavorados. Intimidou-os a sair, mas como, a coberto do pânico, os homens fingissem dormir, Brites pegou na pá do seu ofício e tanto chuçou para dentro que os desgraçados não resistiram aos golpes e morreram.

Depois disto, numa excitação colectiva, provocada por um exacerbado nacionalismo e pelas circunstâncias de guerra aberta que se vivera nesse dia, Brites tomou o comando de um grupo de mulheres da povoação e partiu à cata dos foragidos, que se sabia estarem escondidos pela região, perseguindo-os sem quartel.

Diz a lenda que o resto da vida de Brites de Almeida foi calma e harmoniosa, casada com o seu lavrador.

Contudo, o feito daquele dia nunca mais se apagou da memória dos Portugueses e, apesar da barbárie do acto em si, acabou por tornar-se como que um símbolo da independência do Reino.

Durante anos, a pá, que a tradição conta ser ainda a mesma, foi religiosamente guardada como bandeira de Aljubarrota.

Quando sob o domínio espanhol dos Filipes, foi escondida dentro de uma parede, donde só foi retirada depois da aclamação de D. João IV, em 1640.

Durante séculos, no dia 14 de Agosto, nas comemorações da batalha, aquela pá era levada em procissão e nunca passou nenhuma personalidade nacional em Aljubarrota que lhe não fosse mostrado aquele famigerado instrumento.


Retirado do livro “Lendas Portuguesas” Investigação, Recolha e textos de Fernanda Frazão
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Temos neste post o desenvolvimento da guerra de Aljubarrota
http://www.gforum.tv/board/1277/91696/padeira-de-aljubarrota.html
 

Satpa

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A Lenda Do Milagre Da NazarÉ

A LENDA DO MILAGRE DA NAZARÉ

Creio que toda a gente conhece a lenda do milagre do Sítio da Nazaré, na qual D. Fuas Roupinho escapou por pouco às teias do Diabo, que o tentou sob a forma de um veado.

Mas antes de recordarmos essa velha história vamos conhecer um pouco mais da figura desse semi-herói do tempo do primeiro rei de Portugal.

D. Fuas Roupinho era um guerreiro de nobre ascendência, companheiro indómito de Afonso Henriques.

Diz a lenda que era seu meio-irmão, mas na verdade foi aio de um filho bastardo do velho conde D. Henrique, D. Pedro Afonso, este sim meio-irmão e companheiro de armas de Afonso Henriques.

Em 1179, D. Fuas era alcaide-mor de Coimbra. Certo dia, encontrava-se ele no Castelo de Leiria, vieram trazer-lhe a notícia de que se encontrava na Alcáçova de Porto de Mós o rei mouro de Mérida, Gamir, que, como era seu costume, repousava das batalhas naquela região sobre todas preferida pelas belezas naturais.

O cristão pensou que aquela era uma oportunidade única de livrar a Península de mais alguns muçulmanos, já que nessa altura tinha consigo um grupo de guerreiros suficientemente forte e coeso para cair sobre os infiéis.

Assim, mandou os charameleiros, tocarem a reunir e algum tempo depois tinha reunidos no terreiro do Castelo de Leiria todos os cavaleiros que minutos antes andavam espalhados pela vila.

Era um burburinho no terreiro. Os ginetes de guerra escoiceavam impacientes, batendo com os cascos na terra seca e solta, obrigando os condéis a prodígios de força e equilíbrio para os segurarem.

Os cavaleiros, reunidos em trono de D. Fuas Roupinho, acompanhados pelos seus criados, combinavam a táctica da surtida. Era um grupo ricamente colorido com os seus briais de cores vivas onde se viam as armas de suas casas, por debaixo dos quais brilhavam as cotas de malha.

De capacete debaixo do braço e com as espadas e punhais prontas a utilizar, discutiam acaloradamente o melhor caminho a tomar para Porto de Mós de modo a não serem avistados pelas vigias mouras.

Por fim, montaram precipitadamente e a hoste saiu de Leiria num trote alegre e descuidado, parecendo querer desmentir a sanha guerreira com que viriam a atacar Gamir e a sua gente.

Destes, uns passeavam despreocupadamente pelos campos em redor de Porto de Mós e os outros descansavam na Alcáçova. Nem uns nem outros deram pela chegada dos cristãos, e, apesar de serem muito mais numerosos do que a hoste de D. Fuas, foram derrotados e chacinados, quase sem terem tido oportunidade de se defender.

Os mouros sobreviventes foram levados como prisioneiros para Coimbra, onde o alcaide-mor os entregou a D. Afonso Henriques. E, como recompensa, o Rei deu a D. Fuas a alcaidaria de Porto de Mós.

Em seguida, D, Fuas Roupinho dirigiu-se a Lisboa incumbido pelo Rei de organizar, juntamente com os homens-bons da cidade, uma armada que fizesse frente aos mouros que na costa faziam corso e impediam a pesca e o tráfego comercial. Já bem intenso nessa época.

Os portugueses de então não tinham grande prática da faina marítima, mas, utilizando os conhecimentos náuticos dos pescadores e a coragem e audácia natural dos guerreiros, foi-lhes possível vencer os piratas mouros.

Esta batalha deu-se junto ao cabo Espichel e os vencedores trouxeram apresados vários navios que, segundo conta a lenda, lhes possibilitaram a surtida seguinte, até Ceuta. Aí surpreenderam os mouros, que novamente sofreram muitas baixas e perderam um grande número de navios, uns porque foram afundados, outros porque vieram para o reino.

Conta-se que, depois destas batalhas, D. Fuas Roupinho foi para Porto de Mós repousar e praticar a dua distracção favorita: a montaria.

Diz a nossa história que tudo se passou no dia 14 de Setembro de 1182. D. Fuas saíra com os companheiros para a mata do Sítio. Levavam lanças e bestas, os seus olifantes ou buzinas de caça e iam vestidos mais levemente do que quando partiram para a guerra.

Sobre as túnicas curtas tinham colocado uma capa que esvoaçava quando galopavam e em substituição da loriga tinham coberto os cabelos com gorros de pele.

Lentamente, embrenharam-se nos caminhos da mata, olhando à volta com atenção para descortinarem entre o arvoredo as hastes de um veado ou rastos de lebres e javalis. Estava um nevoeiro espesso e D. Fuas acabou por perder-se dos companheiros.

De repente, viu um veado enorme, de porte real, que parecia desafiá-lo, e esporeou a montanha para não perder aquela oportunidade. O veado deixou que o cavaleiro se aproximasse audaciosamente e lançou-se em louca correria em direcção à beira do penhasco rochoso.

D. Fuas, que galopava meio cego de entusiasmo, não reparou onde se encontrava senão quando viu o veado atirar-se no abismo. Tentou sopear o cavalo, mas a velocidade era tal que nenhuma força humana o conseguiria parar.

Num segundo, o cavaleiro anteviu as consequências e insensivelmente invocou a Senhora da Nazaré que, de imediato, surgiu no céu, frente à montada. O cavalo estacou imediatamente, fincando com tanto desespero os cascos traseiros na rocha, que ainda hoje existe.

No fundo do precipício, nas rochas frente ao mar, o veado estatelou-se e desfez-se em fumo negro: era o Diabo a tentar o cavaleiro.

Em agradecimento deste miraculoso salvamento, D. Fuas mandou construir a capela da Memória, ali, junto à lapa onde fora encontrada a imagem da Senhora da Nazaré, no mesmo sítio onde o seu cavalo estacara.

Dois anos mais tarde, D. Fuas morreu, não em perseguição de demónios com corpo de veado, mas dando luta aos mouros com a sua armada de vinte e dois navios, nas costas de Ceuta.


Retirado do livro “Lendas Portuguesas” Investigação, Recolha e textos de Fernanda Frazão, Amigos do Livro, Editores, LDA.
 

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O Milagre Das Rosas

O MILAGRE DAS ROSAS

Isabel de Aragão foi, e é ainda, a mais popular rainha de Portugal.

A mulher d'el-rei D. Dinis é talvez muito mais conhecida como Rainha Santa Isabel, santa de muitos altares por esse país fora, lendária pelos seus prodígios que o povo lhe atribui, entre os quais o célebre milagre das rosas.

Com doze anos apenas, veio ela para Portugal, tendo casado em Trancoso com D. Dinis, que muito a amou então.

Trazia consigo a fama de excepcionais virtudes que a natureza acrescentara aos dotes físicos de uma beleza pouco vulgar, calma e equilibrada.

Tão maravilhado ficou o rei-poeta que logo lhe fez tantas doações de senhorios de terras como nenhuma outra rainha portuguesa até então possuíra.

Uma antiga Relação descreve do seguinte modo a benemerência desta mulher sem par:

«Mandava Isabel vestir os farrapos que avistava, visitava os enfermos ulcerosos, punha sem repugnância as mãos sobre as cabeças dos doentes e fazia-os tratar pelos seus médicos e enfermeiros. Distribuía, nos dias solenes do ano, numerosos socorros pelos domicílios às pessoas necessitadas e a muitos mosteiros, tanto do reino como estrangeiros. Os seus haveres entravam sempre, em quantidade maior ou menor, para todas as edificações eclesiásticas e, algumas vezes, para as de utilidade geral, como fontes, pontes e caminhos.(...) Deleitava-se em compor as frequentes discórdias entre as casas nobres; procurava por todos os modos proteger as donzelas e viúvas, para que a miséria as não lançasse na perdição. Os seus costumes eram, em tudo, modestos, humildes e castos.»

Porém, esta mulher, que toda a vida tentou distribuir e dar amor, não foi feliz.

Bem depressa D. Dinis a trocou por várias outras mulheres, de quem tinha filhos que trazia para a corte. Quase esquecida pelo marido, Isabel procurou manter, sempre, uma serenidade exemplar e tratou, frequentemente, de apaziguar os ódios e lutas que as intrigas palacianas acendiam no filho, o futuro rei Afonso IV, e no próprio Rei, como de resto é bem conhecido.

O célebre milagre das rosas aconteceu numa época em que D. Dinis decidira pôr cobro àquilo que dizia ser um esbanjamento do tesouro público, por sua mulher.

Segundo conta a lenda, tão querida do nosso povo, passou-se o caso como vou contar:

Foi D. Dinis avisado por um homem do Paço que no dia seguinte, contrariando as ordens reais, sairia Isabel com ouro e prata para distribuir pelos pobres.

Exaltado, D. Dinis resolveu imediatamente que ao outro dia iria surpreender a Rainha quando ela fosse a sair com o carregamento de esmolas.

Na manhã seguinte, uma gélida manhã de sol de Janeiro, estava D. Isabel com as aias no jardim, trazendo a ponta do manto recolhida e plena de moedas, quando lhe surgiu el-Rei fingindo-se encontrado.

Empalideceu a Rainha, conhecendo como conhecia os acessos do marido, receosa do que diria se descobrisse o dinheiro que trazia.

Saudaram-se, contudo, cortesmente e D. Dinis perguntou:
- Onde ides, senhora, tão pela manhã?
- Armar os altares do Convento de Santa Cruz, meu senhor!
- E que levais no regaço, minha rainha?
Houve um instante de hesitações antes que a Rainha respondesse:
- São rosas, real senhor!
- Rosas, senhora rainha? - gritou encolerizado D. Dinis. - Rosas, em Janeiro?! Quereis, sem dúvida, enganar-me!
Digna e muito muito lentamente, largando a ponta do manto, respondeu Isabel:
- Senhor, não mente uma Rainha de Portugal!
E todos viram cair-lhe do manto, do local onde sabiam só haver moedas, uma chuva belíssima de rosas, brancas, ímpares.


Retirado do livro "Lendas Portuguesas" dos Amigos do Livro, Editores, LDA.
 

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O Monstro De Aljubarrota

O MONSTRO DE ALJUBARROTA

Há muito que os dois exércitos estavam frente a frente, sem que se decidissem a iniciar o ataque. O meio-dia tinha passado sobre o campo há muitas horas atrás. Os castelhanos eram muito superiores em número e contudo mantinham-se à torreira do sol, dentro de armaduras de ferro que mais pareciam fornalhas infernais, sem darem um passo, sem fazerem um gesto.

Perguntar-se-á como é possível que 22 000 combatentes sejam capazes de esperar quase um dia inteiro de Verão frente a cerca de 7000 adversários, tão cansados de esperar quanto eles, tão cheios de sede e de calor. Assim aconteceu, porém, nesta batalha memorável, nos campos de Aljubarrota, no dia 14 de Agosto de 1385.

Conta a lenda que os invasores hesitavam em atacar por sentirem da parte do exército português uma serenidade quase sobrenatural. E, contudo, do outro lado, os portugueses sentiam a mesma expectativa que antecede a batalha, a mesma sede que os castelhanos, o mesmo calor infernal que os invasores, o mesmo pânico interior.

Há horas, pois, que os dois exércitos estavam frente a frente, à espera de ordens para atacar.

Passariam cinco horas depois do meio-dia quando os invasores se decidiram a atacar, depois de um imenso estrondo que transtornou de medo os combatentes de ambas as partes.

Feria-se dura a batalha. Os portugueses, entrincheirados nas suas posições, defendiam com denodo ante as cometidas furiosas dos castelhanos. Apesar da sua superioridade numérica, estes não conseguiram desfazer o quadrado que as gentes de D. João I havia formado no terreno, e o desespero começava a nascer no coração dos invasores.

Diz-se que entretanto os castelhanos souberam que andava por entre as fragosidades do terreno uma fera horrorosa, um monstro infernal. Mandaram um grupo de homens procurá-la e trazê-la à tenda do Rei de Castela.

Nesse grupo de homens que partiu em busca do monstro dos infernos ia o famoso bruxo de Castela, lá das bandas de Toledo, para que com os seus sortilégios e conhecimentos diabólicos pudesse convencer ou compelir a fera a auxiliar o seu exército.

Assim que o monstro foi achado no campo, o bruxo de Toledo fez sobre ele sinais cabalísticos, rezou em surdina misteriosos abracadabras e o bicho tornou-se num cordeirinho manso.

Levado à tenda do Rei de Castela, combinaram então com ele o modo como assustaria o inimigo, do outro lado do campo, e puseram-no em liberdade, depois de o bruxo o livrar da sua influência, invertendo os sinais que antes fizera e proferindo os abracadabras no sentido contrário.

Largaram a fera à frente do exército castelhano para que esta devorasse os portugueses. Estes, assombrados e tomados de terror pelos terríveis rugidos e pelo aspecto do monstro que deitava fogo pelos olhos e estilhaçava homens com as suas garras aguçadas, começaram a fugir como se uma legião infernal os perseguísse.

D. João I, também ele cheio de medo e desespero, lembrou-se de repente do seu patrono S. Jorge e, invocando-o cheio de fé, pediu a intervenção da Virgem Maria.

Imediatamente se viu descer do céu, numa bola de fogo, o santo, que, montado num belíssimo cavalo branco e brandindo a sua lança, se precipitou sobre a fera.

Durante um momento, o tempo que durou a batalha entre o monstro e S. Jorge, não se ouviu um gemido em todo o campo; apenas os urros e rugidos do monstro e o bramar de S. Jorge alentando o seu cavalo se fizeram ouvir misturados com o silêncio da noite que vinha chegando.

S. Jorge derrubou a fera dos olhos de fogo, cravando neles a sua lança, e, em seguida, virou-se para os castelhanos e investiu contra eles desbaratando-lhes as sólidas formações.

Os portugueses, reanimados e de novo cheios de fé e coragem, avançaram com o Condestável à frente e completaram a destruição do inimigo, deixando no campo, por onde passavam, uma estrada de cadáveres e moribundos.

Estava ganha a batalha nessa mesma hora em que morria docemente o dia 14 de Agosto de 1385, um dia que fora quente e duro.

A lenda porém não termina com a chegada da noite. Diz ainda que, com os ossos dos castelhanos, os portugueses calcetaram uma rua em Aljubarrota, que já desapareceu com o uso. E acrescenta que em memória do socorro de S. Jorge, D. João e mandou edificar a ermida e fazer a imagem do santo, em pedra, a cavalo e matando o monstro.


Retirado do livro “Lendas Portuguesas” Investigação, Recolha e textos de Fernanda Frazão
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A Lenda Das Obras Da Santa EngrÁcia

A LENDA DAS OBRAS DA SANTA ENGRÁCIA

Simão Pires, um cristão novo, cavalgava todos os dias até ao convento de Santa Clara para se encontrar às escondidas com Violante. A jovem tinha sido feita noviça à força por vontade do seu pai fidalgo que não estava de acordo com o seu amor.

Um dia, Simão pediu à sua amada para fugir com ele, dando-lhe um dia para decidir. No dia seguinte, Simão foi acordado pelos homens do rei que o vinham prender acusando-o do roubo das relíquias da igreja de Santa Engrácia que ficava perto do convento. Para não prejudicar Violante, Simão não revelou a razão porque tinha sido visto no local.

Apesar de invocar a sua inocência foi preso e condenado à morte na fogueira que se realizaria junto da nova igreja de Santa Engrácia, cujas obras já tinham começado.

Quando as labaredas envolveram o corpo de Simão, este gritou que era tão certo morrer inocente como as obras nunca mais acabarem.

Os anos passaram e a freira Violante foi um dia chamada a assistir aos últimos momentos de um ladrão que tinha pedido a sua presença. Revelou-lhe que tinha sido ele o ladrão das relíquias e sabendo da relação secreta dos jovens, tinha incriminado Simão.

Pedia-lhe agora o perdão que Violante lhe concedeu.

Entretanto, um facto singular acontecia: as obras da igreja iniciadas à época da execução de Simão pareciam nunca mais ter fim. De tal forma que o povo se habitou a comparar tudo aquilo que não mais acaba às obras de Santa Engrácia.

in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

Satpa

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A Lenda Da Santa Joana Princesa

A LENDA DA SANTA JOANA PRINCESA

A princesa D. Joana, filha do rei Afonso V, revelou desde muito tenra idade uma grande vocação religiosa. Esta filha primogénita, apesar de ser obrigada a viver na Corte pela sua posição, afastava-se o mais possível de festas e convívios e passava grande parte do seu tempo a rezar e a meditar.

A princesa era, dizia-se, muito bela e teve muitos pretendentes, entre estes muitas cabeças coroadas, mas a todos recusou alegando a sua intenção de se tornar freira.

Com a autorização real, entrou D. Joana para Odivelas, mudando-se mais tarde para o Convento de Santa Clara de Coimbra, mas acabando por resolver professar no Convento de Jesus, em Aveiro.

Esta última decisão foi contestada tanto pelo rei como pelo povo, dado que o Convento de Jesus era muito pobre e, na opinião geral, indigno de uma princesa.

Por outro lado, o povo discordava da vocação da princesa e não queriam que ela professasse. Perante tanta discórdia D. Joana decidiu não professar, mas declarou que usaria o véu de noviça para sempre e insistiu em ingressar no Convento de Jesus, vivendo na humildade e na pobreza e aplicando as rendas que possuía no socorro dos pobres.

A sua caridade era tão grande que depressa ficou conhecida como santa. Mas a bela princesa adoeceu de peste e morreu em grande sofrimento.

Quando o seu enterro passou pelos jardins do convento deu-se um facto insólito: as flores que ela havia tratado em vida caiam sobre o seu caixão prestando-lhe uma última homenagem.

Após este primeiro milagre, muitos outros foram atribuídos a Santa Joana Princesa, levando a que, duzentos anos depois, o Papa Inocêncio XII concedesse a beatificação a esta infanta de Portugal.


in site “Lendas de Portugal” / Cidade de Lisboa
 

Candido

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Que belo trabalho "satpa"!...

Mesmo não acrediando nestas lendas, gosto muito de as ler.

Obrigado.

Abraço
 

xatux

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Lenda de Belmonte

LENDA DE BELMONTE




A lenda mais antiga é a que caminha de lá para cá, no sentido do curso do sol, e é assim:

Carámo era um pastor que apascentava ovelhas nas encostas dos montes da Grécia, onde então os deuses habitavam. Ora o nosso pastor vivia pobremente e dormia umas noites debaixo das estrelas, outras nos vãos que os penedos fazem nas grandes serranias.

E, já cansado, decidiu construir uma casa para si. Mas onde? Qual o lugar do Mundo onde ele pudesse ter a certeza de que o seu gado encontraria sempre pasto, quer na força das invernias quer no rigor da estiagem? Respostas destas só os deuses sabem dar. Ele foi a Delfos e lá trocou uma rês por um oráculo. O que os deuses lhe disseram foi isto: « Segue confiado as tuas cabras. Depois de um longo caminho elas acabarão por parar. É aí que deves edificar a tua moradia. ». O pastor obedeceu. Durante anos seguiu pacientemente o trilho do rebanho até parar ali exactamente na testa de um belo monte virado à veia rica onde corre o Zêzere e rodeado de pastagens verdes. Lá fez a sua casa com pedra arrancada à montanha e esse foi o começo de Belmonte.

A outra lenda também inclui um pastor, mas o percurso é diferente:

Nascera ali naqueles outeiros, mas nunca saíra da miséria. A força da neve e a fúria dos lobos nunca deixavam o rebanho crescer muito. Vivia portanto descontente e sonhava com uma vida melhor.

Ora aconteceu-lhe que, quando dormia no bardo, escutou vozes que lhe diziam: « Vai a Belém que lá está o teu bem. Vai a Belém que lá está o teu bem. » O sonho repetiu-se três vezes e, entre pastores, é certo e sabido que o mesmo aviso sonhado, quando se repete três vezes, é sinal de verdade. O pastor deixou portanto tudo o mais e meteu-se por esse mundo fora a caminho de Belém. O Belém da lenda de Belmonte só podia ser portanto o lugar célebre da Palestina, a cidade onde se venera a lembrança do presépio. E era esse o aviso dos sonhos: em Belém está o bem de todos, porque lá nasceu a revelação da Lei Nova.

Mas o pastor não era teólogo, e quando depois de muitas fadigas chegou a Belém, não viu lá nada do que buscava. Descoroçoado e arrependido, desabafou com um pastor dos muitos que então havia na Terra Santa: « Vá lá um homem fiar-se em avisos! Três noites a fio sonhei...» E contou-lhe a história toda. O outro consolou-o: também ele sonhava que muito longe dali um pastor tinha uma cabrinha branca que teimava em não se deitar senão em cima de certa pedra, e que quem levantasse aquela pedra iria achar um tesouro. Mas ele, homem de juízo, não acreditava em coisas dessas. O nosso bom pastor ouviu, calou, meteu pés a caminho e foi direito à pedra onde a cabrinha se deitava. Escavou e lá estava o tesouro: uma cabra e um cabrito em ouro maciço. O resto da história é o remate da esperteza campónia. Entrou no palácio e disse ao rei: « Trago ali um presente para Vossa Alteza. Quereis antes a cabra ou cabrito?. » O rei achou graça e preferiu o cabrito que sempre é mais tenro. Mas quando viu que era de ouro fez um reparo: « Maroto, não me preveniste que era de ouro...» « Pois fique Vossa Alteza com os dois e que lhe façam bom proveito. » Reconhecido, o rei mandou dar ao pastor tudo quanto se avistasse do mais alto da Serra de Belmonte. Assim começa o poder dos Cabrais e é isso o que as cabras do túmulo de D. Maria Gil estão a recordar.


Outros

Dada a sua excepcional situação como posição estratégica (ponto de convergência de antigas vias militares), Belmonte disputou desde cedo de um lugar privilegiado na organização espacial do território.

Com a conquista romana (60 a.C.), o velho castro lusitano, então existente foi transformado numa sólida fortaleza, capaz de servir de base à ocupação e de apoio à estrada que, vindo de Mérida, cruzava o Tejo em Alcântara, dirigindo-se por Idanha e Belmonte para a Guarda.

Da permanência romana, perduram pontes, troços de estrada e marcos milenários, mas é a Torre de Centum Cellas o testemunho mais famoso desta presença.

Em 1199, D. Sancho I deu foral à Vila de Belmonte. D. Dinis confirma o foral e restaura o Castelo Medieval.

Em 18 de Abril de 1385 D. João I dá autonomia ao Concelho, desligando-o do termo e foro da Covilhã.

Em 1442, D. Afonso V doa o Castelo de Belmonte a Fernão Cabral, pai de Pedro Álvares Cabral.

D. Manuel I concede a 10 de Junho de 1510, um segundo foral mais ampliado.

Sede de Concelho desde 1199, data do seu primeiro foral, só em 1898 se constitui em definitivo como tal, tendo até então sofrido diversas vicissitudes, que ora o extinguem, ora o restauram.

Na Vila de Belmonte existiram no passado duas Freguesias, a de São Tiago e a de Santa Maria.

Da Freguesia de Belmonte fazem parte a Vila de Belmonte, e as povoações da Gaia, Belmonte Gare e Quinta das Pereiras.

Desde pelo menos o Século XIII que coexistem em Belmonte, Cristãos e Judeus, presença esta testemunhada pela inscrição hebraica estudada por Samuel Schwarz em 1925, datada de 1297, e que segundo o estudioso, teria pertencido a uma sinagoga, indicando a existência de uma comunidade judaica relativamente numerosa, tanto na Vila como nos seus arredores.

Nos dias de hoje a Comunidade Judaica de Belmonte, pratica sem quaisquer condicionalismos a religião hebraica, dispondo de uma Sinagoga e de um Cemitério.

ACTIVIDADES ECONÓMICAS
Indústria de confecções, agricultura, comércio, serviços, turismo cultural.

MUSEUS:
Museu Judaico, Ecomuseu do Zêzere e Museu do Azeite.

PATRIMÓNIO CULTURAL E HISTÓRICO
Castelo de Belmonte, Igreja de São Tiago, Igreja Matriz, Igreja de São Tiago e Panteão dos Cabrais, Capelas de Santo António e de Santo Antão, Calvário, Pelourinho, Solar dos Cabrais, Tulha dos Cabrais e vestígios de calçada romana.

OUTROS LOCAIS DE INTERESSE TURÍSTICO:
Antiga Judiaria, Praia Fluvial e Piscinas Municipais de Belmonte.







 
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O Incrível Milagre do Galo de Barcelos – Folclore Português​


 
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