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Amalia Rodrigues

helldanger1

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Grandola, Vila Morena


Grândola, Vila Morena
Terra da Fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade!

Dentro de ti ó cidade,
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, Vila Morena

Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, Vila Morena
Terra da fraternidade!

Terra da fraternidade,
Grândola, Vila Morena
Em cada rosto igualdade
O povo é quem mais ordena!

Á sombra de uma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola,a tua vontade!

Grândula,a tua vontade,
Jurei ter por companheira
À sombra de uma azinheira
Que já nao sabia a idade!
Que já não sabia a idade!
 

helldanger1

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Grão De Arroz


O meu amor é pequenino como um grão de arroz,
É tão discreto que ninguém sabe onde mora.
Tem um palácio de oiro fino onde Deus o pôs,
E onde eu vou falar de amor a toda hora!
Cabe no meu dedal, tão pequenino é,
E tem o sonho ideal expresso em fé
É descendente de um sultão, talvez do rei Saul,
Vive na casa do botão do meu vestido azul!
O meu amor é pequenino como um grão de arroz
Tem um palácio que o amor aos pés lhe pôs!
Ai, quando o amor vier,
Seja o que Deus quiser!

O meu amor tem um perfume que saiu da flor,
É devolvido no meu lenço de cambraia.
E vem falar ao meu ouvido com tamanho ardor,
Que tenho medo que da orelha me caia!
Soeu segredos e pôs-se a pensar,
Só recebi, sorri o meu olhar!
O meu amor tem um apelo que é paixão, depois,
É tão pequeno como um pequenino grão de arroz!
Ai, quando o amor vier
Seja o que Deus quiser!
 

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Grito



Silêncio!
Do silêncio faço um grito
O corpo todo me dói
Deixai-me chorar um pouco.

De sombra a sombra
Há um Céu...tão recolhido...
De sombra a sombra
Já lhe perdi o sentido.

Ao céu!
Aqui me falta a luz
Aqui me falta uma estrela
Chora-se mais
Quando se vive atrás dela.

E eu,
A quem o sol esqueceu
Sou a que o mundo perdeu
Só choro agora
Que quem morre já não chora.

Solidão!
Que nem mesmo essa é inteira...
Há sempre uma companheira
Uma profunda amargura.

Ai, solidão
Quem fora escorpião
Ai! solidão
E se mordera a cabeça!

Adeus
Já fui para além da vida
Do que já fui tenho sede
Sou sombra triste
Encostada a uma parede.

Adeus,
Vida que tanto duras
Vem morte que tanto tardas
Ai, como dói
A solidão quase loucura.
 

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Guitarra Triste


Ninguém consegue por muito forte que seja,
Alcançar o que deseja, seja lá por ambição.
Se não tiver dando forma ao seu valor
Uma promessa de amor que alimenta uma ilusão.

Uma mulher é como uma guitarra
Não é qualquer que a abraça e faz vibrar.
Mas quem souber na forma como agarra,
Prende-lhe a alma nas mãos que sabe tocar.

Por tal razão se engana facilmente
Um coração que queria ser feliz.
Guitarra triste que busca um confidente
Nas mãos de quem não sente o pranto que ela diz.

Não há ninguém que não peça à própria vida
A fazê-la renascida por quem um dia nasceu.
E de tal forma a vida sabe mentir
O que a gente chega a sentir, o bem que ela não nos deu
 

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Havemos De Ir a Viana


Entre sombras misteriosas
em rompendo ao longe estrelas
trocaremos nossas rosas
para depois esquecê-las

Se o meu sangue náo me engana
como engana a fantasia
havemos de ir a Viana
ó meu amor de algum dia
ó meu amor de algum dia
havemos de ir a Viana
se o meu sangue não me engana
havemos de ir a Viana

Partamos de flor ao peito
que o amor é como o vento
quem pára perde-lhe o jeito
e morre a todo o momento

Se o meu sangue não me engana

Ciganos verdes ciganos
deixai-me com esta crença
os pecados têm vinte anos
os remorsos têm oitenta
 

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Júlia Florista


A Júlia florista

Boêmia e fadista
Diz a tradição
Foi nesta Lisboa
Figura de proa
Da nossa canção
Figura bizarra
Que ao som da guitarra
O fado viveu
Vendia as flores
Mas os seus amores
Jamais os vendeu

Ó Julia florista
Tua linda história
O tempo marcou
Na nossa memória
Ó Júlia florista
Tua voz ecoa
Nas noites bairristas
Boêmias, fadistas
Da nossa Lisboa

Chinela no pé
Um ar de ralé
No jeito de andar
Se a Júlia passava
Lisboa parava
Para a ouvir cantar
No ar um pregão
Na boca a canção
Falando de amores
Encostado ao peito
A graça e o jeito
Do cesto das flores.
 

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Lá Na Minha Aldeia


Lá na minha aldeia, não se vira o vira,
Bater o pé!
Não se vira o vira,
Bater o pé!
Pára, Maria,
Que assim como eu faço é que é!
Que assim como eu faço é que é!

Se o vira avançou de jeito
É porque o vira é dançado
De maneira que o sujeito
Não leva o par agarrado.
E hoje, nas danças modernas,
Apertados à tabela,
Não se sabe se as pernas
São dele ou são dela!
São dele ou são dela!

Nas festas da minha aldeia,
Tudo vem dançar pra rua.
Em noites de lua cheia,
Tudo vira, até a lua!
E nos teus olhos, amor,
Quando o luar se altera,
Os meus se encandeiam
E eu não sou quem era!

Repara, Maria,
Que assim como eu faço é que é!
Que assim é que é!
 

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Lá Porque Tens Cinco Pedras



Lá porque tens cinco pedras
Num anel de estimação
Agora falas comigo
Com cinco pedras na mão!

Enquanto nesses brilhantes
Tens soberba e tens vaidade,
Eu tenho as pedras da rua
Pra passear à vontade!

Pobre de mim, não sabia
Que o teu olhar sedutor
Não errava a pontaria
Como a pedra do pastor

Mas não passas sorridente
Ah, lá de ar satisfeito
Pois hei de chamar-te "a pedra"
Pelo mal que me tens feito!

E hás de ficar convencido
Da afirmação consagrada:
Quem tem telhados de vidro
Não deve andar à pedrada"
 

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Lá Vai Lisboa


Vai de corações ao alto nesta lua
E a marcha segue contente
As pedrinhas de basalto cá da rua
Nem sentem passar a gente
Olha o castelo velhinho, que é coroa
Desta Lisboa sem par!
Abram, rapazes, caminho,
Que passar vai a Lisboa
Que vai a Alfama passar!

Lá vai Lisboa com a saia cor de mar
Cada bairro é um noivo que com ela vai casar!
Lá vai Lisboa com seu arquinho e balão,
Com cantiguinhas na boca e amor no coração!

Bairro novo, bairro velho, gente boa
Em casa não há quem fique!
Vai na marcha todo o povo de Lisboa,
Da Graça a Campo d'Ourique!
Olha o castelo velhinho, que é coroa
Desta Lisboa sem par!
Abram, rapazes, caminho,
Que passar vai a Lisboa!
Que vai a Alfama passar!
 

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Lá Vai Serpa, Lá Vai Moura


Lá vai Serpa, lá vai Moura
Ai, as Pias ficam no meio!
Em chegando à minha terra
Ai, ninguém tem arreceio!

Abalei da minha terra
Olhei para trás chorando:
- Adeus, terra da minh'alma,
Que tão longe vais ficando!
 

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Lágrima


Cheia de penas me deito
E com mais penas me levanto
Já me ficou no meu peito
O jeito de te querer tanto

Tenho por meu desespero
Dentro de mim o castigo
Eu digo que não te quero
E de noite sonho contigo

Se considero que um dia hei-de morrer
No desespero que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile no chão
E deixo-me adormecer

Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias de chorar
Por uma lágrima tua
Que alegria me deixaria matar
 

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Lago


Desci por não ter mais força
Às águas verdes, sem fundo,
Mesmo que voltem as forças
Não quero voltar ao mundo!

Desci por não ter mais força
Até ao fundo das águas
Mesmo que voltem as forças,
Não voltarei a ser escrava!

Desci por não ter mais forças
Às águas verdes, sem fim.
Mesmo que voltem as forças,
Não me separo de mim!
 

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Lavava No Rio, Lavava


Amália Rodrigues - Lavava No Rio, Lavava
by Amália Rodrigues


Lavava no rio, lavava
Gelava-me o frio, gelava,
Quando ia ao rio lavar.
Passava fome, passava,
Chorava, também chorava,
Ao ver minha mãe chorar!
Cantava, também, cantava!
Sonhava, também, sonhava!
E, na minha fantasia,
Tais coisas fantasiava,
Que esquecia que chorava,
Que esquecia que sofria!

Já não vou ao rio lavar,
Mas continuo a chorar!
Já não sonho o que sonhava!
Já não lavo no rio!
Por que me gela este frio
Mais do que então gelava?

Ai, minha mãe, minha mãe
Que saudades desse bem,
Do mal que eu não conhecia!
Dessa fome que eu passava,
Do frio que nos gelava,
E da minha fantasia!

Já não temos fome, mãe!
Mas já não temos também
O desejo de a não ter!
Já não sabemos sonhar,
Já andamos a enganar
O desejo de morrer!
 

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Libertação


Fui à praia, e vi nos limos
A nossa vida enredada,
Ó meu amor, se fugirmos,
Ninguém saberá de nada!

Na esquina de cada rua,
Uma sombra nos espreita.
E nos olhares se insinua,
De repente, uma suspeita.

Fui ao campo, e vi os ramos
Decepados e torcidos.
Ó meu amor, se ficamos,
Pobres dos nossos sentidos!

Em tudo vejo fronteiras,
Fronteiras ao nosso amor.
Longe daqui, onde queiras,
A vida será maior!

Nem as esperanças do céu
Me conseguem demover.
Este amor é teu e meu,
Só na Terra o queremos ter.
 

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Lisboa a Noite


Lisboa andou de lado em lado
Foi ver uma toirada, depois bailou, bebeu.
Lisboa ouviu cantar o fado
Rompia a madrugada quando ela adormeceu.

Lisboa não parou a noite inteira
Boêmia, estabanada, mas bairrista
Foi à sardinha assada lá na feira
E à segunda sessão de uma revista

Dali pro Bairro Alto enfim galgou
No céu a lua cheia refulgia
Ouviu cantar o fado, então sonhou
Que era saudade aquela voz que ouvia
 

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Lisboa Antiga



Lisboa, velha cidade,
Cheia de encanto e beleza!
Sempre a sorrir tão formosa,
E no vestir sempre airosa.
O branco véu da saudade
Cobre o teu rosto linda princesa!

Olhai, senhores, esta Lisboa d'outras eras,
Dos cinco réis, das esperas e das toiradas reais!
Das festas, das seculares procissões,
Dos populares pregões matinais que já não voltam mais!

Lisboa, velha cidade,
Cheia de encanto e beleza!
Sempre a sorrir tão formosa,
E no vestir sempre airosa.
O branco véu da saudade
Cobre o teu rosto linda princesa!

Olhai, senhores, esta Lisboa d'outras eras,
Dos cinco réis, das esperas e das toiradas reais!
Das festas, das seculares procissões,
Dos populares pregões matinais que já não voltam mais!
 

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Lisboa Dos Milagres



Lisboa, gaiata, de chinela no pé
Lisboa, travessa, que linda que ela é!
Lisboa, bailarina, que bailas a cantar
Sereia pequenina que nos guarda pelo mar

Lisboa, vem pra rua que o Santo Antônio é teu
São Pedro deu-te a lua e o mundo escureceu
Comprei-te um manjerico e trago-te um balão
Em casa é que eu não fico ó meu rico São João

Lisboa faz surgir, ai, que milagre é aquele?
Cantigas a florir num cravo de papel
Nos arcos enfeitados poisaram as estrelas
E há anjos debruçados nos telhados das vielas
 

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Lisboa Em Festa


Hoje é dia de festa na cidade
Lisboa vai pra rua pra cantar
Mas achou que era fraca a claridade
Que lhe vinha do alto, do luar!
Lisboa que está assim, dá gosto vê-la
E nem tanto balão era preciso!
Porque cada balão é uma estrela!
E cada rapariga um sorriso!

Lisboa cá vem
Risonha a cantar
Vá, deixem passar as raparigas!
Lisboa cá vem
Que a venha escutar
Quem queira aprender novas cantigas!
Cantar uma trova
E sem ter fadiga
P'la cidade inteira andou à toa
Na Lisboa nova,
Na Lisboa antiga
Lisboa é sempre Lisboa!

Quando Lisboa vem cantar pra rua
Para alegrar os nossos corações
Parece que no céu a própria lua
Se debruça a ouvir suas canções
Os bairros da cidade estão em festa
Os santos saem na rua aos seus altares
E não há noite alegre como esta
Que é dedicada aos santos populares!
 

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Lisboa Não Sejas Francesa



Não namores os franceses
Menina, Lisboa,
Portugal é meigo às vezes
Mas certas coisas não perdoa
Vê-te bem no espelho
Desse honrado velho
Que o seu belo exemplo atrai
Vai, segue o seu leal conselho
Não dês desgostos ao teu pai

Lisboa não sejas francesa
Com toda a certeza
Não vais ser feliz
Lisboa, que idéia daninha
Vaidosa, alfacinha,
Casar com Paris
Lisboa, tens cá namorados
Que dizem, coitados,
Com as almas na voz
Lisboa, não sejas francesa
Tu és portuguesa
Tu és só pra nós

Tens amor às lindas fardas
Menina, Lisboa,
Vê lá bem pra quem te guardas
Donzela sem recato, enjoa
Tens aí tenentes,
Bravos e valentes,
Nados e criados cá,
Vá, tenha modos mais decentes
Menina caprichosa e má

Lisboa não sejas francesa
 

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Longe Daqui


Em sonho lá vou de fugida,
Tão longe daqui, tão longe.
É triste viver tendo a vida,
Tão longe daqui, tão longe.

Mais triste será quem não sofre,
Do amor a prisão sem grades.
No meu coração há um cofre,
Com jóias que são saudades.

Tenho o meu amor para além do rio,
E eu cá deste lado cheinha de frio.
Tenho o meu amor para além do mar,
E tantos abraços e beijos p'ra dar.

Ó bem que me dá mil cuidados,
Tão longe daqui, tão longe.
A lua me leva recados,
Tão longe daqui, tão longe.

Quem me dera este céu adiante,
Correndo veloz no vento.
Irás a chegar num instante,
Onde está o men pensamento.

Tenho o meu amor para além do rio,
E eu cá deste lado cheinha de frio.
Tenho o meu amor para além do mar,
E tantos abraços e beijos p'ra dar,
Tenho o meu amor para além do mar.
 

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Loucura


É loucura querer-te bem,
Sou irmã da desventura
Tinhas razão minha mãe

É loucura adorar-te
Estar cedente de ternura
Sem mesmo poder beijar-te

Chorai, chorai
Guitarras da minha terra
O vosso pranto encerra
Minha vida amargurada

E se é loucura
Amar-te desta maneira
Quer eu queira
Quer não queira
Não posso amar-te calada

Hei-de ser
Sombra tua
Hei-de subir e descer
Os degraus da tua rua

Adorar-te
Serei louca
Mas a loucura é bem pouca
Para o que tenho passado
 

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Lua, Luar


Lua, luar
Vai dizer ao meu amor pra vim cá, ô luar!
Faz sumana que eu não drumo,
Treis meis que eu não posso ir lá, ô luar!

Eu só lá de Pirancão,
Meu nome certo, eu não sei!
Nasci dentro do cangaço
No cangaço me criei
Meu fuzil é minha escola,
Meu punhal é minha lei!
A macaco não me entrego,
No cangaço morrerei!

Me chamam de catingueira,
Cangaceiro e cantador,
No gatilho eu sou formado,
E no repente eu sou doutor!
Pra homem eu sou valente
Mas pra mulé eu não sou!
Cabra macho, eu dou peixeira,
Pra mulé só dou amor!
 

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Madrugada De Alfama


Mora num beco de Alfama
e chamam-lhe a madrugada,
mas ela, de tão estouvada
nem sabe como se chama.

Mora numa água-furtada
que é a mais alta de Alfama
e que o sol primeiro inflama
quando acorda à madrugada.
Mora numa água-furtada
que é a mais alta de Alfama.

Nem mesmo na Madragoa
ninguém compete com ela,
que do alto da janela
tão cedo beija Lisboa.

E a sua colcha amarela
faz inveja à Madragoa:
Madragoa não perdoa
que madruguem mais do que ela.
E a sua colcha amarela
faz inveja à Madragoa.

Mora num beco de Alfama
e chamam-lhe a madrugada;
são mastros de luz doirada
os ferros da sua cama.

E a sua colcha amarela
a brilhar sobre Lisboa,
é como a estatua de proa
que anuncia a caravela,
a sua colcha amarela
a brilhar sobre Lisboa.
 

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Mal Aventurado


Mudei terra, mudei vida
Mudei paixão em paixão!
Vi a alma de mim partida!
Nunca, do meu coração,
Vi minha dor despedida!
E eu, mal aventurado,
Morro-me andando assim
Entre cuidado e cuidado.

Eu morrerei, e acabara!
E meu mal fora acabado!
Não vira tal perdição
De meio de tanta coisa,
Perdido, tudo em vão
Porque paixão não repousa
Em outra maior paixão

Oh quem bem aventurado
Fora já, se me matara
Minha dor e meu cuidado,
Minha dor e meu cuidado!
 

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Maldição


Que destino ou maldição
Manda em nós, meu coração,
Um do outro assim perdidos?
Somos dois gritos calados,
Dois fados desencontrados,
Dois amantes desunidos!

Por ti, sofro e vou morrendo,
Não te encontro, nem te entendo,
A mim, digo sem razão:
Coração, quando te cansas
Das nossas mortas esperanças?
Quando paras, coração?

Nesta luta, nesta agonia
Canto e choro de alegria
Sou feliz e desgraçada!
Que sina tua, meu peito!
Que nunca estás satisfeito,
Que dás tudo e não tens nada!

Na gelada solidão,
Que tu me dás, coração,
Não é vida, nem morte;
É lucidez, deaatino,
De ler no próprio destino,
Sem poder mudar-lhe a sorte.
 
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