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helldanger1
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A aquisição de uma sonda requer alguma ponderação para a escolha do modelo adequado às necessidades de cada pescador. Neste artigo, vou tentar enunciar as principais questões que podem influenciar a decisão a tomar na escolha dos diferentes modelos.
As sondas que utilizamos consistem num transmissor, num transdutor, num receptor e num ecrã de cristais líquidos. O seu funcionamento consiste na emissão de um impulso eléctrico pelo transmissor, que é convertido numa onda sonora pelo transdutor e enviado depois para o meio aquático. Se esta onda sonora atingir qualquer objecto, é reflectida e o seu eco atingirá o transdutor que a vai converter de novo em impulso eléctrico. Este, é recebido pelo receptor que, depois de a amplificar, a enviará para o ecrã.
Como a velocidade de propagação do som na água é conhecida e constante, é possível determinar a distância a um objecto determinado, pelo espaço de tempo decorrido entre a emissão do impulso e a recepção do eco. Como este processo é repetido muitas vezes por segundo, é apresentada no ecrã uma linha contínua correspondente ao eco mais forte, o do contorno do fundo. Além disso, também são apresentados no ecrã, todos os ecos correspondentes a objectos situados entre a superfície e o fundo, correspondentes a obstáculos ou a eventuais peixes.
A escolha de uma sonda terá que considerar os seguintes aspectos:
Em primeiro lugar, a potência do transmissor, que se for elevada aumentará a probabilidade de obter ecos perceptíveis em condições mais difíceis - zonas mais profundas, velocidades mais elevadas ou más condições aquáticas. Aumentará ainda a possibilidade de separar os detalhes mais subtis entre os objectos e os seres vivos. A potência das sondas é medida em watts (RMS) ou watts (peak-to-peak). 100 watts (RMS) correspondem aproximadamente a 800 watts (peak-to-peak). Teóricamente 75watts (RMS) ou 600 watts (peak-to-peak) permitirão detectar ecos até uma profundidade de cerca de 180 metros em condições ideais. Na prática estes valores serão muito inferiores devido a várias condicionantes envolvidas.

Em segundo lugar, a eficiência do transdutor, que deverá efectuar as conversões de sinais necessárias com um mínimo de degradação, sendo ainda capaz de detectar o mais pequeno dos ecos. Neste ponto, o tipo de transdutor e a sua correcta instalação no barco são cruciais. O ângulo do cone do transdutor determinará também a área de fundo visualizada. Ângulos mais largos (20º) apresentarão uma maior área do fundo à custa de menor capacidade de penetração (menor profundidade)
Em terceiro lugar, a sensibilidade do receptor, que deverá ser capaz de suavizar os sinais muito intensos enviados pelo transmissor e amplificar os mais pequenos ecos que regressam do transdutor. Também tem que permitir a separação de alvos muito próximos, em impulsos nítidos e separados a enviar para o ecrã.
Em quarto lugar, o ecrã, que deve possuir uma resolução vertical elevada e um bom contraste de modo a poder apresentar todos os detalhes de uma forma bem definida e clara. Estas características vão permitir a formação de "arcos" nos ecos de peixes e a apresentação de detalhes mais subtis. Valores de 120 pixéis verticais são aceitáveis, mas 160 ou 240 pixéis produzirão melhores imagens, com definição superior.
Outro aspecto a considerar é a frequência a que a sonda pode operar. A maioria das sondas utilizadas em aplicações de água doce utiliza frequências elevadas, na casa dos 200 kHz. Para água salgada ou zonas muito profundas, são mais utilizadas as sondas que operam a frequências mais baixas, na casa dos 50 kHz.
Nalguns modelos, é possível efectuar a configuração da frequência a utilizar (alta ou baixa). De notar que o transdutor seleccionado deve estar de acordo com a frequência exacta utilizada pela sonda. Assim, não é possível utilizar um transdutor de 50 kHz ou mesmo de 200 kHz numa sonda que funciona a 192 kHz.
As baixas frequências (50 kHz) conseguem uma melhor penetração e uma pesquisa mais rápida em profundidade com um feixe mais largo (30 a 45º), mas são mais susceptíveis ao ruído. Estas sondas são mais utilizadas em água salgada e para zonas mais profundas em conjunto com transdutores de grande ângulo.
As frequências elevadas (192 kHz ou 200 kHz) são as mais utilizadas para o nosso tipo de pesca em água doce a baixas profundidades. Cobrem uma área mais pequena com o seu feixe estreito, mas produzem a melhor definição, a melhor separação de alvos muito próximos e são menos susceptíveis ao ruído. Os transdutores adaptados a estas frequências têm geralmente ângulos de 20º - para baixas profundidades - ou de 8º para profundidades maiores.

Após seleccionarmos a frequência de trabalho mais adequada, resta-nos a selecção do tipo de transdutor mais adequado à nossa embarcação. Não no que respeita à sua frequência, que como já vimos deverá obrigatóriamente ser idêntica à da sonda, mas sim, de acordo com o tipo de instalação que escolhermos. Os dois tipos mais frequentes são, o transdutor através do casco ("Shoot-Thru-Hull transducer") que é colado com cola epoxy ao fundo do casco de fibra de vidro e o transdutor montado no painel de popa ("Transom mount transducer") directamente em contacto com a água, ligeiramente saliente da linha limite do casco.
Este último tipo de transdutor é o mais frequente e apresenta um bom desempenho mesmo a altas velocidades. É fixo com parafusos numa base que permite que o transdutor rode se entrar em contacto com um objecto evitando assim que seja danificado. A colocação do transdutor é crítica para o bom desempenho da sonda. Se o local escolhidos possuir um fluxo de água contínuo e sem turbulência, o envio e a recepção dos sinais não será afectado. No entanto, se o fluxo de água for interrompido por uma zona mais áspera ou irregular do casco, ou pelos rebites nos cascos de alumínio, pode surgir o fenómeno da cavitação com um fluxo de bolhas de ar a interferir com a recepção do transdutor e a resultar em ruído.
Com efeito, o transdutor não está preparado para funcionar no ar. As bolhas vão reflectir o sinal enviado pelo transdutor e dada a sua proximidade produzem ecos muitos fortes que impedem o bom funcionamento da sonda, tornando difícil ou impossível a recepção dos sinais do fundo, das estruturas e dos peixes.
O transdutor colocado no interior do casco parece a solução ideal para resolver estes problemas, mas também apresenta as suas desvantagens. Só pode ser colocado em cascos de fibra de vidro sólida. O sinal não passa através de espuma, alumínio, madeira ou aço. Mesmo a fibra de vidro atenua um pouco a eficácia do transdutor, resultando nalguma perda de eficácia, mais notória a altas velocidades nas sondas menos potentes, resultando por vezes na perda de contacto com o fundo. Outro problema pode surgir na colagem do transdutor. A mistura de resina utilizada não deve permitir a formação de bolhas de ar ( a mistura deve ser feita muito lentamente ) que impediriam o seu correcto funcionamento. Este tipo de transdutor tem a vantagem de estar protegido dentro do casco contra eventuais choques com troncos, rochas ou o próprio atrelado. Se a colocação for adequada é menos afectado por fenómenos de turbulência. E nunca sofre os efeitos dos depósitos de sujidade que se acumulam no transdutor do painel de popa pelo contacto com a água.

A maioria dos utilizadores utiliza as suas sondas para se aperceber apenas da profundidade e do contorno do fundo. No entanto, a maioria das sondas actuais é capaz de nos indicar o grau de dureza desse mesmo fundo. Com efeito, a intensidade do eco de retorno depende do tipo de fundo, com a lama a areia e a vegetação a absorver e a espalhar o sinal do sonar. Um fundo rochoso, por exemplo, dada a sua maior dureza reflecte o sinal fácilmente. Assim, no ecrã, um fundo macio será representado com uma linha fina enquanto que um fundo rochoso surgirá como uma linha espessa. Nas sondas mais recentes existe uma função do tipo "Grayline" que aplica um tom cinzento claro aos sinais mais fortes, representando a negro os mais fracos. Assim um fundo rochoso surgirá como uma linha grossa e cinzenta clara, enquanto que um fundo de lama terá uma menor espessura e será mais escuro. As sondas de gama média-alta podem apresentar vários níveis de cinzento correspondente a várias níveis de intensidade do eco recebido.
Na segunda parte deste artigo, falaremos de questões relacionadas com o funcionamento das sondas como a utilização das funções automáticas de identificação dos peixes e a escolha dos níveis de sensibilidade...