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Notícias Um cirurgião cardíaco salvou-o em adolescente. Hoje, operam juntos

Lordelo

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Ago 4, 2007
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A primeira vez que Mesfin Yana Dollar auxiliou uma cirurgia de coração aberto, a sua paciente era uma adolescente na Etiópia. Estava assustada e a chorar - e era ele próprio uns anos antes.


Mesfin sentou-se ao pé da cama da jovem, no Hospital Universitário de Emory, em Atlanta, nos Estados Unidos, e falou com ela em amárico (a língua-mãe de ambos).


"Eu passei pela mesma cirurgia. Vai ficar tudo bem", disse à jovem, contando-lhe sobre como, enquanto adolescente, também teve uma febre reumática que se tornou cardiopatia reumática.


A doença - que acontece depois de uma febre elevada, causada por infecções na garganta - provoca danos às válvulas e ao próprio músculo cardíaco.


"Eu estive na mesma mesa de operações", contou Mesfin à jovem, que o apelidou de "anjo".


O homem hoje de 40 anos nasceu numa pequena vila na Etiópia em 1985. Cresceu sem acesso à eletricidade ou água canalizada, mas mantém que foi uma infância feliz, rodeado pela sua família.


Mesfin foi diagnosticado aos 11 anos


Aos seus 11 anos, o paradigma mudou.


Inicialmente, começou a sentir que não conseguia correr tão depressa e que ficava ofegante facilmente. Depois, deixou de conseguir ir a pé para a escola, e a sua tosse mantinha-o acordado a noite toda. Os pais tentaram todos os remédios tribais que pudessem funcionar e levaram-no a médicos nas cidades vizinhas - mas sem sucesso.


Sem saber o que estava errado consigo, e farto de se sentir um empecilho para a sua família, Mesfin decidiu ir sozinho até à capital, à procura de uma solução. Lá, entrou num edifício da ordem religiosa Missionárias da Caridade, fundada por Santa Teresa de Calcutá, e foi aí que conheceu o médico Rick Rhodes.


"Entrei e vi este homem jovem, pequeno e branco, com um estetoscópio à volta do pescoço. Ele estava a brincar com as crianças e com os pacientes", recordou Mesfin em entrevista ao The Washington Post.


Hodes, veio Mesfin a saber mais tarde, vive na Etiópia a ajudar doentes com cardiopatia reumática ou problemas de coluna. É conhecido exatamente por ajudar a salvar centenas de vidas no país, muitas vezes encontrando maneiras criativas de financiar as cirurgias necessárias. O norte-americano, inclusive, adota crianças etiópias para poder acrescentá-las ao seu seguro de saúde e enviá-las para os Estados Unidos, onde podem receber melhor tratamento.


Hodes tirou o estetoscópio do pescoço e colocou-o no peito e costas de Mesfin, então com 11 anos, prestando atenção ao som do coração e dos pulmões do jovem. Assim que terminou, pediu logo uma série de exames para Mesfin e só depois lhe deu a notícia: tinha um problema cardíaco grave e ia precisar de ser operado.


Na altura, não havia possibilidade de fazer uma cirurgia de coração aberto na Etiópia e, por isso, Hodes pôs mãos à obra e começou a procurar um hospital nos Estados Unidos onde Mesfin pudesse ser operado.


"Ele apareceu do nada, diagnosticou-me e começou a arranjar soluções para eu ser operado", recordou Mesfin, que ainda hoje diz que Hodes lhe salvou a vida.


Mesfin viajou aos 15 anos para os EUA onde foi operado


Anos depois, quando o jovem já tinha 15 anos, viajou, por fim, para o território norte-americano para ser operado. O cirurgião que o operou, Jim Kauten, reparou a válvula mitral de Mesfin e o etíope ficou em repouso com uma família de acolhimento em Atlanta, enquanto recuperava.


O homem que o acolheu era, por acaso, dentista e recomendou que Mesfin arrancasse os dentes do siso antes de regressar à Etiópia. O jovem assim fez.


Ao regressar à capital, onde ficou sob o cuidado de Hodes, o local dos dentes arrancados infetou, levando a que o jovem desenvolve-se endocardite (inflamação da camada interna do coração). Hodes tentou tratar a doença, mas Mesfin continuou a ficar cada vez pior.


"Eu disse ao Dr. Rick: ‘Sabes que mais? Fizeste tudo o que era possível. Esta é a vontade de Deus, e, se eu morrer, não há problema", recordou.


Hodes recusou-se a deixar Mesfin morrer e enviou-o de volta para Atlanta, onde uma ambulância o recebeu no aeroporto e o levou de urgência para o hospital. Os médicos decidiram, em vez de uma reparação das válvulas, colocar uma válvula mecânica, para que durasse mais tempo.


No entanto, isso significava que Mesfin precisava de anticoagulantes e consultas de rotina para o resto da vida - e que, por isso, não podia regressar para a Etiópia, onde os cuidados não estavam disponíveis.


"Segunda vida". Cardiologista adota Mesfin


Foi o próprio cardiologista de Mesfin nos Estados Unidos, Allen Dollar, que acolheu o jovem na sua casa, acrescentando-o à sua família em constante crescimento de filhos biológicos e adotivos. Mesfin, eventualmente, adotou o nome de família.


"Meio que me lembrava de casa porque eu tenho 11 irmãos e duas irmãs", comentou. "Esta família é tão grande como a que eu tinha na Etiópia."


"Fui abençoado com uma segunda vida", afirmou Mesfin que, agora um adolescente nos Estados Unidos, se aplicou nos estudos e em aprender a língua, tornando-se um jovem dedicado e estudioso. Mesfin sabia que queria trabalhar na área da Saúde.


Na universidade, enquanto estudava para ser terapeuta respiratório, conheceu a mulher e, juntos, tiveram dois filhos. Mais tarde, formou-se em perfusionista cardíaco e, depois, ecocardiografista.


"Estou sempre grato", disse Mesfin. "Sou grato pela minha família, por estar nos Estados Unidos. É uma ressurreição para mim. Eu estava perdido, morto, e ressuscitei e estou a viver uma nova vida."


Hoje, com 40 anos, Mesfin faz questão de retribuir pela "segunda vida" que lhe foi dada. Todos os anos, ele e Jim Kauten (o primeiro médico a operá-lo) regressam à Etiópia onde realizam cirurgias cardíacas juntos.

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