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Recursos Humanos no apoio a autistas precisam de formação

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Recursos Humanos no apoio a autistas precisam de formação

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Doutorada em arquitectura mas especialista na área do autismo, Isabel Cottineli é presidente da Federação Portuguesa de Autismo e dirigente da Associação internacional Autismo Europa. Doutorada em arquitectura mas especialista na área do autismo, Isabel Cottineli é presidente da Federação Portuguesa de Autismo e dirigente da Associação internacional Autismo Europa. Está no arquipélago a convite da Universidade dos Açores para dar apoio à pós-graduação em educação especial.
Como é que uma arquitecta se dedica ao ensino especial na área da deficiência, em especial o autismo?
A minha área, dentro da arquitectura, é a psicologia do espaço. Sempre trabalhei as questões da comunicação visual e das representações . Trabalhei a primeira integração que se fez em Portugal com os alunos cegos. Depois tive um filho autista e os desafios começaram a colocar-se neste âmbito.
Hoje fala-se mais em inclusão. Porquê?
Antes pensava-se na integração destas crianças no meio normal, isto é, a norma existia e as pessoas deviam estar integradas nela. A partir da declaração de Salamanca, em 1994, evoluiu-se, defendo-se que as crianças têm direito à diferença e a escola é que tem de se adaptar a elas e não o contrário. E quem diz a escola diz a sociedade.
Isso está mesmo a acontecer?
Já se mudaram muitas coisas, mas esta mudança não é fácil porque é a própria sociedade que tem de mudar. Há casos que funcionaram, outros não. O que é preciso é não desistir.
A escola tem sabido acompanhar essa necessidade?
Há momentos em que há avanços; outros em que se verificam recuos, mas de uma maneira geral acho que já demos passos muito significativos.
Como é que estamos em matéria de recursos humanos?
Temos feito um grande esforço mas estamos muitíssimo longe do que seria desejável para apoiar convenientemente estas crianças. Há, sobretudo, falta de formação.
Como é que se ultrapassa essa limitação?
Devemos aproveitar a experiência das diversas associações que estão no terreno e fazer delas parceiros decisivos para dar resposta às necessidades que o projecto de inclusão exige. Uma pessoa que acaba uma licenciatura pode ter os conhecimentos teóricos, que são importantes, mas precisa de ganhar prática para aprender as estratégias para lidar com estes problemas.
Conhece a realidade Açores. Como é que estamos?
Há 20 anos que mantenho uma relação estreita com o trabalho aqui desenvolvido e devo dizer-lhe que, ao nível da intervenção precoce, os Açores estão muito à frente. Têm já as equipas multidisciplinares criadas, o que é muito difícil no Continente.
Em muitas áreas as queixas são sempre as mesmas: faltam estruturas de acolhimento...
São de facto muito importantes. Aliás, diria que no caso dos autistas são mesmo decisivos. A escola não esgota as soluções. Depois dos 18 anos eles saem das escolas e se não tiverem aprendido algo mais do que os conteúdos da escola será muito difícil. É nos centros de acolhimento que eles ganham as ferramentas para o resto da vida.
Como é que está a ser feita a inclusão dos autistas no mercado de trabalho?
Na lei há oportunidades, mas no autismo é difícil porque os autistas são muito imprevisíveis por causa das crises de comportamento e das dificuldades de interacção com os outros. É difícil encontrar um emprego para o autista.
Como é que se consegue dar um projecto de vida a um autista?
Um dos projectos que estamos a fazer, a nível europeu, é o desenvolvimento das aprendizagens ao longo da vida.
Os autistas gostam muito de informática, mas gostam também das artes e de música. Como têm interesses restritivos, temos procurado transformar esses interesses em mais-valias, potenciando-as, quer através da constituição de oficinas quer na criação de uma orquestra. Em Lisboa, por exemplo, temos uma banda que é composta só por autista (e de baixo nível), que está a ser sempre solicitada. Temos, igualmente, oficinas que fazem peças que hoje são requisitadas por exemplo por costureiros como o José António Tenente. Julgo que o que temos de fazer é valorizar as suas capacidades e fazê-los sentirem-se úteis e válidos, e talvez criar empregos protegidos. Uma sociedade inclusiva é isso que faz.||

Fonte:Açoriano Oriental

 
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