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Qual é o objetivo dos ataques israelitas ao Irão?
Netanyahu pretende desmantelar o projeto nuclear do Irão, que é ainda um dos principais financiadores do grupo rebelde Hamas, mas será esse o único objetivo dos ataques israelitas?
Depois de Israel ter lançado um ataque inesperado ao Irão, na sexta-feira passada, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, falou diretamente para os iranianos. Em inglês disse-lhes que tinha chegado a altura para se erguerem contra um “regime opressivo e maléfico”.
Desde então, a operação israelita foi apresentada como estando a “abrir o caminho para alcançar a liberdade” do povo iraniano, que tem estado sob o regime repressivo no que toca aos direitos de liberdade de expressão. Segundo a Amnistia Internacional, tem-se verificado ainda ondas de violência contra minorias étnicas e religiosas e pessoas da comunidade LGBTQ+, assim como uma intensificação de repressão contra mulheres que desafiam as leis do uso obrigatório do véu.
Agora que o confronto militar entre Israel e o Irão se tem vindo a intensificar, e o leque de alvos de se expande, qual é o verdadeiro objetivo de Israel?
Desmantelar o projeto nuclear iraniano
A carreira do primeiro-ministro israelita há mais tempo em funções ficou marcada, desde cedo, com a sua ambição de alertar o mundo sobre os perigos da República Islâmica do Irão, acreditando que este constitui a maior ameaça da região.
Não só por poder ter armamento nuclear, mas também por armar e financiar os grupos rebeldes que se opõem a Netanyahu como o Hamas na Palestina e o Hezbollah no Líbano, assim como os Houthis no Iémen que foram atacados recentemente pelos EUA.
À estação televisiva britânica BBC, um funcionário próximo de Netanyahu descreveu-o como estando “a fazer tudo”, sublinhando a ideia de que o principal objetivo de Israel é desmantelar e enfraquecer o programa nuclear iraniano, apesar de já terem havido negociações para tal entre os EUA e o Irão.
Ao longo dos anos, presidentes norte-americanos e generais próximos do primeiro-ministro israelita têm vindo a dissuadi-lo de atacar as reservas nucleares do Irão. Até o presidente dos EUA, Donald Trump, já admitiu que não deu uma luz verde aos recentes ataques.
O objetivo de Netanyahu foi contestado por países do Médio Oriente, mas também pela Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA, sigla em inglês), cujo diretor-geral, Rafael Grossi, alertou que as “instalações nucleares nunca devem ser atacadas, independentemente do contexto ou das circunstâncias”.
Descarrilar as negociações de paz
Donald Trump, o maior aliado de Israel e Netanyahu, tem vindo a demonstrar e a retrair o seu apoio aos ataques ao Irão. No início da semana passada pediu que Israel parasse de ameaçar militarmente o Irão porque um ataque poderia “estragar tudo” no que diz respeito às negociações que têm vindo a decorrer entre os EUA e o Irão. Mas depois de Israel ter atacado instalações e matado oficiais iranianos, o presidente norte-americano descreveu os golpes como “excelentes” e alertou que “ainda há muito por vir”.
Este domingo, através de uma publicação na sua rede social, Truth Social, Trump declarou: “Vamos ter PAZ entre Israel e o Irão em breve! Muitas chamadas e reuniões estão a acontecer agora”.
Os negociadores iranianos suspeitam agora que as conversações, que deveriam ser retomadas em Mascate, capital de Omã, no domingo, não passaram de uma manobra para convencer Teerão, a capital iraniana, de que um ataque israelita não estava iminente, apesar das tensões crescentes.
Outros especialistas também veem o momento dos ataques como estratégico. À BBC, Ellie Geranmayeh, vice-diretora do programa para o Médio Oriente e Norte de África do Conselho Europeu de Relações Externas, afirmou que “os ataques sem precedentes de Israel foram concebidos para acabar com as hipóteses do Presidente Trump chegar a um acordo para conter o programa nuclear iraniano”.
“Embora alguns funcionários israelitas argumentem que estes ataques visavam reforçar a influência dos EUA na via diplomática, é evidente que o seu momento e a sua natureza em grande escala se destinavam a fazer descarrilar completamente as conversações”, concluiu.
Enfraquecer o Irão na sua totalidade
Em Teerão, estes ataques não se tratam apenas de acabar com mísseis nucleares e supersónicos, para muitos iranianos, ao verem prédios de civis e estruturas elétricas atacadas, isto pode representar um passo cada vez mais longe da “libertação” prometida por Netanyahu.
À estação de televisão britânica, Vali Nasr, professor de Estudos do Médio Oriente e Negócios Estrangeiros na Universidade de Johns Hopkins, explica que os iranianos veem isto como “Israel a querer, de uma vez por todas, enfraquecer as capacidades do Irão enquanto Estado”. Assim como “mudar a balança do poder entre Israel e o Irão de uma forma decisiva, e derrubar a República Islâmica como um todo, se possível”.
“Talvez no início, quando quatro ou cinco oficiais pouco populares foram mortos, pode ter havido um sentimento de alívio”, acrescenta o professor, “mas agora os seus prédios estão a ser alvejados, civis estão a ser mortos, e as infraestruturas energéticas estão sob ataque”.
No sábado, Netanyahu avisou que Israel iria atacar “todos os locais e todos os alvos do regime dos ayatollah”. “Não vejo um cenário em que a maioria dos iranianos se coloque do lado do agressor contra o seu país enquanto este o bombardeia e veja isso como uma libertação”, defende Nasr.
Correio da Manhã

Netanyahu pretende desmantelar o projeto nuclear do Irão, que é ainda um dos principais financiadores do grupo rebelde Hamas, mas será esse o único objetivo dos ataques israelitas?
Depois de Israel ter lançado um ataque inesperado ao Irão, na sexta-feira passada, o primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, falou diretamente para os iranianos. Em inglês disse-lhes que tinha chegado a altura para se erguerem contra um “regime opressivo e maléfico”.
Desde então, a operação israelita foi apresentada como estando a “abrir o caminho para alcançar a liberdade” do povo iraniano, que tem estado sob o regime repressivo no que toca aos direitos de liberdade de expressão. Segundo a Amnistia Internacional, tem-se verificado ainda ondas de violência contra minorias étnicas e religiosas e pessoas da comunidade LGBTQ+, assim como uma intensificação de repressão contra mulheres que desafiam as leis do uso obrigatório do véu.
Agora que o confronto militar entre Israel e o Irão se tem vindo a intensificar, e o leque de alvos de se expande, qual é o verdadeiro objetivo de Israel?
Desmantelar o projeto nuclear iraniano
A carreira do primeiro-ministro israelita há mais tempo em funções ficou marcada, desde cedo, com a sua ambição de alertar o mundo sobre os perigos da República Islâmica do Irão, acreditando que este constitui a maior ameaça da região.
Não só por poder ter armamento nuclear, mas também por armar e financiar os grupos rebeldes que se opõem a Netanyahu como o Hamas na Palestina e o Hezbollah no Líbano, assim como os Houthis no Iémen que foram atacados recentemente pelos EUA.
À estação televisiva britânica BBC, um funcionário próximo de Netanyahu descreveu-o como estando “a fazer tudo”, sublinhando a ideia de que o principal objetivo de Israel é desmantelar e enfraquecer o programa nuclear iraniano, apesar de já terem havido negociações para tal entre os EUA e o Irão.
Ao longo dos anos, presidentes norte-americanos e generais próximos do primeiro-ministro israelita têm vindo a dissuadi-lo de atacar as reservas nucleares do Irão. Até o presidente dos EUA, Donald Trump, já admitiu que não deu uma luz verde aos recentes ataques.
O objetivo de Netanyahu foi contestado por países do Médio Oriente, mas também pela Agência Internacional de Energia Atómica (IAEA, sigla em inglês), cujo diretor-geral, Rafael Grossi, alertou que as “instalações nucleares nunca devem ser atacadas, independentemente do contexto ou das circunstâncias”.
Descarrilar as negociações de paz
Donald Trump, o maior aliado de Israel e Netanyahu, tem vindo a demonstrar e a retrair o seu apoio aos ataques ao Irão. No início da semana passada pediu que Israel parasse de ameaçar militarmente o Irão porque um ataque poderia “estragar tudo” no que diz respeito às negociações que têm vindo a decorrer entre os EUA e o Irão. Mas depois de Israel ter atacado instalações e matado oficiais iranianos, o presidente norte-americano descreveu os golpes como “excelentes” e alertou que “ainda há muito por vir”.
Este domingo, através de uma publicação na sua rede social, Truth Social, Trump declarou: “Vamos ter PAZ entre Israel e o Irão em breve! Muitas chamadas e reuniões estão a acontecer agora”.
Os negociadores iranianos suspeitam agora que as conversações, que deveriam ser retomadas em Mascate, capital de Omã, no domingo, não passaram de uma manobra para convencer Teerão, a capital iraniana, de que um ataque israelita não estava iminente, apesar das tensões crescentes.
Outros especialistas também veem o momento dos ataques como estratégico. À BBC, Ellie Geranmayeh, vice-diretora do programa para o Médio Oriente e Norte de África do Conselho Europeu de Relações Externas, afirmou que “os ataques sem precedentes de Israel foram concebidos para acabar com as hipóteses do Presidente Trump chegar a um acordo para conter o programa nuclear iraniano”.
“Embora alguns funcionários israelitas argumentem que estes ataques visavam reforçar a influência dos EUA na via diplomática, é evidente que o seu momento e a sua natureza em grande escala se destinavam a fazer descarrilar completamente as conversações”, concluiu.
Enfraquecer o Irão na sua totalidade
Em Teerão, estes ataques não se tratam apenas de acabar com mísseis nucleares e supersónicos, para muitos iranianos, ao verem prédios de civis e estruturas elétricas atacadas, isto pode representar um passo cada vez mais longe da “libertação” prometida por Netanyahu.
À estação de televisão britânica, Vali Nasr, professor de Estudos do Médio Oriente e Negócios Estrangeiros na Universidade de Johns Hopkins, explica que os iranianos veem isto como “Israel a querer, de uma vez por todas, enfraquecer as capacidades do Irão enquanto Estado”. Assim como “mudar a balança do poder entre Israel e o Irão de uma forma decisiva, e derrubar a República Islâmica como um todo, se possível”.
“Talvez no início, quando quatro ou cinco oficiais pouco populares foram mortos, pode ter havido um sentimento de alívio”, acrescenta o professor, “mas agora os seus prédios estão a ser alvejados, civis estão a ser mortos, e as infraestruturas energéticas estão sob ataque”.
No sábado, Netanyahu avisou que Israel iria atacar “todos os locais e todos os alvos do regime dos ayatollah”. “Não vejo um cenário em que a maioria dos iranianos se coloque do lado do agressor contra o seu país enquanto este o bombardeia e veja isso como uma libertação”, defende Nasr.
Correio da Manhã