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Os Picanços

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Luís Miguel Reino

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Os picanços são um dos grupos mais típicos da nossa avifauna e também um dos que, porventura, mais paixões pode suscitar. São mais frequentemente conhecidos pela sua agressividade e pela beleza das suas plumagens.

Em Portugal existem três espécies de picanços, sendo que duas são migradoras - picanço-de-dorso-ruivo (Lanius collurio) e picanço-barreteiro (L. senator) - e uma residente - picanço real (L. meridionalis). As duas últimas espécies encontram-se bem distribuídas na generalidade do território nacional enquanto que a primeira está restrita às montanhas, planaltos e alguns vales do extremo norte do país, podendo ser considerada como uma espécie de montanha na Península Ibérica.

Genericamente são pequenos predadores que se alimentam de insectos e de pequenos vertebrados.


Taxonomia dos picanços

As espécies que vulgarmente designamos por picanços são usualmente classificadas na família Laniidae e em três sub-famílias: Prionopinae (picanços-de-elmo); Malaconotinae (picanços-do-mato) e Laniinae (picanços típicos). Por vezes, também é considerada outra família - Vangidae, típica de Madagáscar. Alguns autores tratam ainda estas diferenças taxonómicas ao nível da família.

Todavia, e apesar das diferenças inter-específicas podemos encontrar as seguintes semelhanças dentro das 74 espécies de picanços:

I. bico em forma de gancho, com um variável e óbvio "dente" na mandíbula superior e o correspondente entalhe na mandíbula inferior;

II. patas e dedos robustos, garras aguçadas e cabeça relativamente robusta;

III. asas com dez penas primárias e cauda com doze rectrizes.
 

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Origem e distribuição dos picanços

Sibley e Ahlquist, baseando-se nos resultados da técnica molecular de hibridação do ADN, argumentaram que o ancestral dos verdadeiros picanços teria emigrado da Austrália, provavelmente para a Ásia. Este acontecimento deve ter acontecido há aproximadamente 20-30 milhões de anos, durante o Terciário.

Os géneros Corvinella e Eurocephalus apenas ocorrem em África, o género Lanius provavelmente evoluiu na Eurásia e África. A colonização da América do Norte é mais recente, tendo-se dado quase seguramente a partir do Estreito de Bering e durante o Pleistocénico. O picanço-americano (L. ludovicianus) constitui provavelmente o resultado duma primeira colonização do continente americano, tendo sido forçado a migrar para sul devido a questões climáticas. Mais recentemente, deu-se a colonização da América do Norte por parte do picanço-real-nortenho (L. excubitor).
No Sudoeste de França foi encontrado um fóssil nos depósitos do Miocénio muito semelhante aos picanços anteriores, tendo sido designado por L. miocaenus. Daqui resulta que o género Lanius já se encontrava presente na Europa há pelo menos 25-30 MA. Panov defende a origem africana do género Lanius, tendo-se expandido posteriormente pela Eurásia e mais tarde pela América do Norte. De um total de vinte e sete espécies, doze nidificam em África e outras quatro apresentam outros estatutos fenológicos neste continente. Por exemplo, a emigração do picanço-de-dorso-ruivo pode reflectir uma invasão progressiva de sul para norte, posterior ao recuo dos glaciares há 12000 anos. Independentemente da história de cada uma das espécies, os picanços encontram-se actualmente presentes na maior parte dos continentes e principais ilhas, exceptuando na Austrália, América do Sul e Madagáscar.
 

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Breve revisão do género Lanius

Em latim, Lanius significa carniceiro e laniare significa despedaçar em bocados mais pequenos. Resulta claro, que Lanius, é uma referência ao hábito dos picanços empalarem as suas presas em espigões, picos ou arame farpado. Aliás o seu comportamento, associado aos seus hábitos alimentares, deram-lhe tal reputação que muitos dos nomes vernáculos referentes aos picanços estão associados à sua aparente "crueldade".


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O habitat

Os picanços do género Lanius estão espalhados desde o Círculo Polar Árctico até ca. 33º Sul na metade sul do continente africano.
As asas arredondadas de algumas espécies aparentemente mais primitivas (e.g., picanço-real-nortenho e o picanço-de-poupa L. cristatus) poderão estar associadas a um passado florestal, provavelmente em África.

Apesar das diferentes espécies diferirem nos seus requisitos ecológicos, todas necessitam de:

I. pelo menos algumas árvores ou arbustos como protecção, coberto contra predadores, locais de nidificação e, para algumas espécies, locais de armazenamento de alimentos;

II. número variável de pontos de observação, naturais ou não, utilizados como locais privilegiados de caça;

III. terreno aberto com poisos e com áreas de matos ou de herbáceas ou, em alguns casos, solo nú onde os insectos e pequenos invertebrados são mais facilmente detectados e capturados.



 

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Porquê conservar os picanços

Uma razão óbvia para a necessidade de implementar medidas de conservação dos picanços prende-se com o decréscimo das populações de algumas espécies nas últimas décadas (por ex., picanço-real-nortenho e o picanço-barreteiro). Contudo, as flutuações das populações podem ter um carácter cíclico, não podendo ser consideradas excepcionais ou inéditas, pelo que este motivo pode ser considerado como pouco satisfatório.

Para além do seu valor de existência, apontamos algumas das razões que normalmente são consideradas como as mais importantes e justificativas da importância conservacionísta dos picanços:

I. podem ser usados como espécies modelo para o estudo do dilema dos poisos: como ser bem sucedido como predador e ao mesmo tempo sobreviver como presa?;

II. podem ser excelentes bio-indicadores para a monitorização da qualidade de determinados habitats e, inclusivamente, para a avaliação de possíveis alterações climáticas;

III. por questões estéticas, o Homem deliberou que os picanços embelezam as paisagens, são apreciados por determinados sectores da sociedade e têm por isso um valor cultural.

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Normalmente, as medidas que visam o fomento da conservação dos picanços podem ser divididas em quatro tipos principais: i) protecção de espécies; ii) protecção de locais específicos; iii) conservação a larga escala da paisagem; e iv) promoção da investigação sobre a ecologia dos picanços.

 

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Bibliografia

Cramp, S. & Perrins, C.M. (1993). The Birds of the Western Palearctic, vol. VII. Oxford University Press, Oxford.

Lefranc, N. & Worfolk, T. (1997). Shrikes. A guide to the shrikes of the world. Pica Press, Norfolk.

Olivier, G. (1944). Monographie des Pies-Grièches du genre Lanius. Lecerf, Rouen.

Tellería, J.L.; Asensio, B e Díaz, M. (1999). Aves Ibéricas. II. Paseriformes. J.M. Reyero Editor, Madrid.

Van Nieuwenhuyse, D. (1999). Global Shrike Conservation: problems, methods and opportunities. Aves, 36: 193-204.
 
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