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Nemátodo espalhou-se pelo Centro e produtores culpam ministério

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Nemátodo espalhou-se pelo centro e produtores culpam ministério

A divulgação, feita sábado pelo Ministério da Agricultura, de que há novos focos de nemátodo no coração da maior mancha de pinhal do país deixou os proprietários florestais revoltados por não terem sido informados do que se passava e por o ministro ter dito que a situação era "incontrolável".

Acusam o Governo de "irresponsabilidade" por estas declarações, feitas "sem acautelar as consequências que podem ter a nível europeu", pondo em risco a fileira e lançando o pânico no sector.

O nemátodo do pinheiro é um organismo de quarentena, que foi detectado em Portugal em 1999. Na altura, Bruxelas ameaçou fechar as fronteiras nacionais e obrigou o país a provar que o problema estava circunscrito à Península de Setúbal e que estavam a ser tomadas medidas. No ano passado foi feita uma faixa de contenção entre Vila Franca e Odemira para tentar que a praga não se espalhasse para fora da zona afectada.

Agora, ao ser detectado no pinhal interior, as consequências podem ser graves. "Em Setúbal tínhamos barreiras naturais, como os rios Tejo e Sado, mas no centro não existem, o que torna a situação gravíssima para Portugal e para a Europa", diz José Miguel Lupi Caetano, da Aflops, a primeira associação, em Setúbal, afectada pelo problema.

Num comunicado de sábado, o ministério informa que, "na sequência de análises realizadas em amostras recolhidas nos concelhos de Arganil e Lousã, foram detectados exemplares de pinheiros bravos infectados". Adianta que "o Governo vai publicar uma portaria demarcando duas novas áreas de pinhal, totalizando 6500 hectares, na freguesia de Sarzedo, em Arganil, e na freguesia da Lousã, onde serão aplicadas as medidas especiais [abate de árvores]." A portaria saiu ontem e inclui, além da zona afectada de Arganil e Lousã, uma zona de restrição que abrange freguesias de 17 concelhos onde as práticas florestais e a venda de madeira terão de seguir certas regras.

"Isto é muito grave e os produtores ficaram a saber disto pelos jornais, em que o ministro escancara o problema, ao mesmo tempo que acrescenta [ao Expresso] que a situação é incontrolável", acusou Luís Dias, da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP). O dirigente considera que com estas declarações o ministro põe em causa quaisquer negociações com Bruxelas sobre as acções que o país poderá tomar de forma a evitar um embargo à madeira portuguesa.

"As declarações do ministério a reconhecer a existência de um novo foco de nemátodo da madeira do pinheiro na região centro, incluindo um conjunto de falsidades e argumentos tecnicamente insustentáveis, são um sinal claro da incompetência e irresponsabilidade do ministério perante a floresta portuguesa", refere a União da Floresta Mediterrânica (Unac).

Críticas duras

"Irresponsabilidade" é também a forma como a Forestis, a federação onde estão as duas associações de Arganil e Lousã afectadas pelo problema, classifica o anúncio do ministério.

"Face à gravidade do problema, deveria ter sido feita uma divulgação calma e serena", diz Rosário Alves, desta organização. "Em vez disso, lançou-se o pânico sobre a possível ruína das economias destas regiões."

Os proprietários criticam também as declarações feitas por Jaime Silva ao Expresso. O ministro dá o exemplo do Canadá, assolado pela mesma doença, acrescentando que "eles já chegaram à conclusão de que não podem fazer nada, vão esperar que as árvores desenvolvam uma autodefesa, só que isso pode levar anos". E sublinha: "Temos que nos habituar a este tipo de pragas que vieram para ficar."

"O nemátodo é uma doença originária do Canadá, onde não causa problemas à exploração florestal", contrapõe a Unac. "O Canadá tem um plano integrado, em que abateram as árvores afectadas, trataram da madeira, valorizando-a, e replantaram as áreas abatidas", diz Luís Dias. "Cá só se abateram as árvores e este ano nem isso fizeram, deixando o problema alastrar", acrescenta. Para a Unac, a culpa da situação é do Governo: "A detecção de novos focos resulta do deficiente controlo dos fluxos de madeira e que se agravou com a integração do Corpo Nacional da Guarda Florestal na GNR." A CAP e a Forestis referem o mesmo.

As organizações frisam que já apresentaram propostas ao Governo para atacar o problema, mas não obtiveram resposta. "Se o ministério definisse e implementasse, de forma séria e consistente, estratégias adequadas a estes problemas não teríamos de "nos habituar a este tipo de pragas que vieram para ficar"", frisa a Unac. Luís Dias lembra o que Portugal pode ficar a perder: "O pinhal nacional tem sérios concorrentes no País Basco e na Aquitânia e, se Bruxelas fecha as fronteiras, estão em causa grandes indústrias, serrações e milhares de postos de trabalho."

Fernando Rolin, da Associação das Indústrias de Madeiras e do Mobiliário de Portugal, diz que, "com esta situação, a acumular a outros problemas do pinhal, se calhar a indústria baseada na floresta de pinho tem de se reestruturar", procurando outras espécies. Lamenta que as declarações do ministro indiciem "um baixar de braços". "O pinho é a sustentação de muitas zonas rurais", alerta.

Confrontado com estas críticas, o ministério respondeu que "em nenhuma das afirmações do ministro se pode retirar tal conclusão". E acrescenta: "Não havendo um produto químico eficaz, temos de estar preparados para o enfrentar por alguns anos com as únicas medidas decididas pela União Europeia e que passam pelo abate e remoção das árvores atingidas." E observa que "as áreas afectadas não chegam a dez por cento da área total de pinhal e, dentro destas, as árvores efectivamente infectadas são em número muito reduzido, pelo que a sustentabilidade da fileira não está em causa". As medidas de combate obrigam ao abate, além das árvores infectadas, de todas as que as rodeiam.

22.04.2008
Ana Fernandes
Público
 
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