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Maria Augusta, histórica carnavalesca e comentarista de desfiles, morre aos 83 anos
Artista teve passagens marcantes por escolas como Salgueiro, União da Ilha, Tuiuti e Beija-Flor
Rio - A carnavalesca e ex-comentarista de desfiles de escolas de samba Maria Augusta Rodrigues, morreu nesta sexta-feira (11), aos 83 anos, no Rio. Internada no CTI do Hospital São Lucas, em Copacabana, na Zona Sul, ela enfrentava complicações decorrentes de um câncer na bexiga.
"É com pesar que o Hospital São Lucas Copacabana, da Rede Américas, informa o falecimento da Sra. Maria Augusta Rodrigues, de 83 anos, ocorrido na tarde de hoje, em decorrência de falência múltipla dos órgãos. A instituição se solidariza com os familiares e amigos", diz a nota enviada ao Dia.
Muito respeitada em todos os segmentos do carnaval, Maria Augusta era presença cativa nas quadras durante todo o ano. Comparecia a quase todos os eventos promovidos pelas escolas, como lançamento de sinopses, apresentações de protótipos e finais de samba-enredo. Na temporada de ensaios técnicos, entre janeiro e fevereiro, acompanhava tudo de perto — sempre atenta aos detalhes e à evolução das escolas na pista.
Nascida no interior do estado do Rio, em São João da Barra, teve seu primeiro contato com o samba no fim da década de 1960, no Império da Tijuca. Em 1969, estreou com título no Salgueiro com o enredo Bahia de Todos os Deuses, atuando como assistente de Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues. Voltou a vencer no Salgueiro em 1971, com "Festa para um Rei Negro", e em 1974, quando auxiliou Joãosinho Trinta em "O Rei de França na Ilha da Assombração".
Nos anos seguintes, fez história na União da Ilha do Governador, onde assinou desfiles marcantes como "Domingo" (1977) e "O Amanhã" (1978), consolidando um estilo próprio, com enredos leves e de grande apelo popular.
Na década de 1980, passou por escolas como Paraíso do Tuiuti e Tradição. Em 1993, realizou seu último trabalho como carnavalesca na Beija-Flor de Nilópolis, substituindo Joãosinho Trinta no enredo "Uni-duni-tê, a Beija-Flor escolheu: é você".
Mesmo com a forte conexão com o Salgueiro e com a Beija-Flor, a artista também tinha um grande carinho pelo Império Serrano, que a consagrou como madrinha de bateria na década de 1980. Desde então, Maria Augusta desfilava, orgulhava, todos os anos na lateral da pista, à frente dos ritmistas.
Fora da Avenida, construiu trajetória respeitada como comentarista de desfiles, com passagens pelas emissoras Band, Manchete, Globo e CNT.
Candomblecista e ex-professora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Maria Augusta exerceu papel fundamental na formação de artistas visuais e carnavalescos, como Marcia Lage, que morreu em janeiro de 2025, sua ex-aluna.
Informalmente, exerceu o papel de "embaixadora" das artes e do samba, recebendo ao longo das décadas diversos pesquisadores e profissionais estrangeiros interessados no carnaval brasileiro, facilitou intercâmbios.
Em 2004, virou enredo do Arranco, no desfile do antigo Grupo B. Em 2025, foi homenageada pela escola mirim Aprendizes do Salgueiro.
Teve sua trajetória lembrada também numa exposição no Sesc Madureira, em 2023, que reuniu desenhores, croquis e outros objetos do seu acervo pessoal, sob a idealização do pesquisador Leonardo Antan.
Solteira, a artista não teve filhos.
Homenagens
A notícia da morte comoveu o mundo do samba. Diversas escolas de samba lamentaram publicamente a perda. O Salgueiro publicou um extenso texto de despedida nas redes sociais:
"É com o coração em luto, mas repleto de gratidão, que nos despedimos hoje de Maria Augusta Rodrigues, uma das maiores carnavalescas da história, salgueirense de alma e a última viva da geração que transformou para sempre o desfile das escolas de samba. Maria Augusta não foi apenas uma artista genial. Ela foi uma revolução inteira. Esteve ao lado de nomes como Fernando Pamplona, Arlindo Rodrigues, Joãosinho Trinta e Rosa Magalhães no momento mais audacioso e criativo da nossa história. Foi ali, no Salgueiro dos anos 60, que ela ajudou a reinventar o Carnaval. Com inteligência, elegância e ousadia, fez do desfile uma verdadeira aula de brasilidade, beleza e potência cultural", começou a nota.
"No nosso pavilhão, escreveu páginas inesquecíveis. Foi a mente por trás de carnavais marcantes, como 'Festa para um Rei Negro', enredo campeão em 1971. Mas sua influência não parou por aí. Deixou marcas em outras grandes escolas, comentou desfiles com sensibilidade rara e formou gerações inteiras com sua visão artística aguçada. Onde havia samba, havia Maria Augusta e onde ela estava, havia respeito, verdade e grandeza", continuou.
“Neste ano, tivemos a imensa alegria de homenageá-la em vida. Nossa escola mirim, o Aprendizes do Salgueiro, escolheu Maria Augusta como enredo para 2025. E ela viveu essa homenagem como uma criança feliz. Esteve com nossos pequenos, deu aula, riu, chorou, e desfilou com uma emoção que tomou conta de todos. A quadra se encheu de amor. Era como se ela voltasse para casa. E, de fato, voltou."
"Hoje, a casa chora. Mas também se orgulha. Porque Maria Augusta é eterna. Seu nome está escrito nas nossas paredes, nas nossas fantasias, no compasso da nossa Bateria Furiosa e no coração de cada salgueirense que aprendeu a amar o Carnaval por meio da arte. O Salgueiro agradece por tudo. Por cada ensinamento, por cada detalhe, por cada ousadia. Que sua luz siga brilhando em todos os desfiles que ainda virão, guiando novas gerações de artistas, contadores de histórias e sonhadores do samba. Descanse em paz, Augusta. Você é Salgueiro para sempre. Você é Carnaval para sempre", finalizou o Salgueiro.
O Dia

Artista teve passagens marcantes por escolas como Salgueiro, União da Ilha, Tuiuti e Beija-Flor
Rio - A carnavalesca e ex-comentarista de desfiles de escolas de samba Maria Augusta Rodrigues, morreu nesta sexta-feira (11), aos 83 anos, no Rio. Internada no CTI do Hospital São Lucas, em Copacabana, na Zona Sul, ela enfrentava complicações decorrentes de um câncer na bexiga.
"É com pesar que o Hospital São Lucas Copacabana, da Rede Américas, informa o falecimento da Sra. Maria Augusta Rodrigues, de 83 anos, ocorrido na tarde de hoje, em decorrência de falência múltipla dos órgãos. A instituição se solidariza com os familiares e amigos", diz a nota enviada ao Dia.
Muito respeitada em todos os segmentos do carnaval, Maria Augusta era presença cativa nas quadras durante todo o ano. Comparecia a quase todos os eventos promovidos pelas escolas, como lançamento de sinopses, apresentações de protótipos e finais de samba-enredo. Na temporada de ensaios técnicos, entre janeiro e fevereiro, acompanhava tudo de perto — sempre atenta aos detalhes e à evolução das escolas na pista.
Nascida no interior do estado do Rio, em São João da Barra, teve seu primeiro contato com o samba no fim da década de 1960, no Império da Tijuca. Em 1969, estreou com título no Salgueiro com o enredo Bahia de Todos os Deuses, atuando como assistente de Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues. Voltou a vencer no Salgueiro em 1971, com "Festa para um Rei Negro", e em 1974, quando auxiliou Joãosinho Trinta em "O Rei de França na Ilha da Assombração".
Nos anos seguintes, fez história na União da Ilha do Governador, onde assinou desfiles marcantes como "Domingo" (1977) e "O Amanhã" (1978), consolidando um estilo próprio, com enredos leves e de grande apelo popular.
Na década de 1980, passou por escolas como Paraíso do Tuiuti e Tradição. Em 1993, realizou seu último trabalho como carnavalesca na Beija-Flor de Nilópolis, substituindo Joãosinho Trinta no enredo "Uni-duni-tê, a Beija-Flor escolheu: é você".
Mesmo com a forte conexão com o Salgueiro e com a Beija-Flor, a artista também tinha um grande carinho pelo Império Serrano, que a consagrou como madrinha de bateria na década de 1980. Desde então, Maria Augusta desfilava, orgulhava, todos os anos na lateral da pista, à frente dos ritmistas.
Fora da Avenida, construiu trajetória respeitada como comentarista de desfiles, com passagens pelas emissoras Band, Manchete, Globo e CNT.
Candomblecista e ex-professora da Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Maria Augusta exerceu papel fundamental na formação de artistas visuais e carnavalescos, como Marcia Lage, que morreu em janeiro de 2025, sua ex-aluna.
Informalmente, exerceu o papel de "embaixadora" das artes e do samba, recebendo ao longo das décadas diversos pesquisadores e profissionais estrangeiros interessados no carnaval brasileiro, facilitou intercâmbios.
Em 2004, virou enredo do Arranco, no desfile do antigo Grupo B. Em 2025, foi homenageada pela escola mirim Aprendizes do Salgueiro.
Teve sua trajetória lembrada também numa exposição no Sesc Madureira, em 2023, que reuniu desenhores, croquis e outros objetos do seu acervo pessoal, sob a idealização do pesquisador Leonardo Antan.
Solteira, a artista não teve filhos.
Homenagens
A notícia da morte comoveu o mundo do samba. Diversas escolas de samba lamentaram publicamente a perda. O Salgueiro publicou um extenso texto de despedida nas redes sociais:
"É com o coração em luto, mas repleto de gratidão, que nos despedimos hoje de Maria Augusta Rodrigues, uma das maiores carnavalescas da história, salgueirense de alma e a última viva da geração que transformou para sempre o desfile das escolas de samba. Maria Augusta não foi apenas uma artista genial. Ela foi uma revolução inteira. Esteve ao lado de nomes como Fernando Pamplona, Arlindo Rodrigues, Joãosinho Trinta e Rosa Magalhães no momento mais audacioso e criativo da nossa história. Foi ali, no Salgueiro dos anos 60, que ela ajudou a reinventar o Carnaval. Com inteligência, elegância e ousadia, fez do desfile uma verdadeira aula de brasilidade, beleza e potência cultural", começou a nota.
"No nosso pavilhão, escreveu páginas inesquecíveis. Foi a mente por trás de carnavais marcantes, como 'Festa para um Rei Negro', enredo campeão em 1971. Mas sua influência não parou por aí. Deixou marcas em outras grandes escolas, comentou desfiles com sensibilidade rara e formou gerações inteiras com sua visão artística aguçada. Onde havia samba, havia Maria Augusta e onde ela estava, havia respeito, verdade e grandeza", continuou.
“Neste ano, tivemos a imensa alegria de homenageá-la em vida. Nossa escola mirim, o Aprendizes do Salgueiro, escolheu Maria Augusta como enredo para 2025. E ela viveu essa homenagem como uma criança feliz. Esteve com nossos pequenos, deu aula, riu, chorou, e desfilou com uma emoção que tomou conta de todos. A quadra se encheu de amor. Era como se ela voltasse para casa. E, de fato, voltou."
"Hoje, a casa chora. Mas também se orgulha. Porque Maria Augusta é eterna. Seu nome está escrito nas nossas paredes, nas nossas fantasias, no compasso da nossa Bateria Furiosa e no coração de cada salgueirense que aprendeu a amar o Carnaval por meio da arte. O Salgueiro agradece por tudo. Por cada ensinamento, por cada detalhe, por cada ousadia. Que sua luz siga brilhando em todos os desfiles que ainda virão, guiando novas gerações de artistas, contadores de histórias e sonhadores do samba. Descanse em paz, Augusta. Você é Salgueiro para sempre. Você é Carnaval para sempre", finalizou o Salgueiro.
O Dia