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Pode não estar nenhum inseto ou bicho por perto, mas só de ouvir falar começa logo com comichão em algumas partes do corpo? A verdade é que esta é uma situação frequente e não acontece só a algumas pessoas.
O agregador de blogues HuffPost falou com alguns especialistas para perceber o melhor este fenómeno. Será que existe alguma coisa que possa fazer para evitar ficar assim mal de fala de baratas ou aranhas, por exemplo?
"O cérebro não processa apenas a realidade — ele constrói-a. Quando ouve falar de insetos na cabeça de alguém ou imagina percevejos num colchão, o seu cérebro ativa os mesmos circuitos neurais como se estivesse acontecer", revela a neurologista Shaheen E. Lakhan.
"A isto chama-se comichão contagiosa e é impulsionado por uma combinação de ativação somatossensorial, um processo emocional e de atividade de neurónios-espelho", continua.
Assim, o cérebro é capaz de gerar o mesmo tipo de sensações quando não existe um estímulo físico e próximo de só. Logo, não é preciso que tenha realmente uma aranha na sua cabeça para sentir alguma coisa.
"O córtex somatossensorial é ativado, a parte do cérebro responsável por processar sensações corporais como tato, temperatura e dor. Essa ativação ocorre como se houvesse insetos de verdade no seu couro cabeludo."
Tal pode acontecer mesmo de ouvir e pensar alguma coisa, como se vir que algo está a acontecer com alguém que está à sua frente. "Esse espelho neural contribui para a nossa capacidade de sentir empatia e compreender as ações e intenções dos outros. No caso da comichão contagiosa, esse espelho estende-se à própria sensação", continua a especialista.
O cérebro é o culpado
Assim, o cérebro é capaz de recriar em si essa mesma experiência, o que acaba por fazer com que tenha o mesmo tipo de sensações. Mas, existe motivo para o nosso cérebro fazer algo deste género?
"Seja um inseto real ou imaginário, a resposta do cérebro é quase a mesma, e esse processo existe, de uma perspectiva evolutiva, para nos proteger, porque insetos podem ser contagiosos, podem picar e podem criar problemas", explicou a neurocientista Friederike Fabritius.
Desta forma, as redes cerebrais acabam por criar uma espécie de proteção, para nos manter protegidos de uma certa ameaça. "A comichão que sente é a tentativa exagerada do seu cérebro de protegê-lo, independentemente de haver ou não uma ameaça real."
Deu ainda um exemplo. "Se estiver a assistir assistir a um documentário sobre uma infestação de piolhos, o couro cabeludo pode começar a formigar, mesmo que esteja limpo e desobstruído. O cérebro está a tentar ser proativo, como um alarme de incêndio a disparar uma vez que sente o cheiro a fumo."
Apesar de ser algo frequente, esta não é uma situação comum a todas as pessoas e pode ser verificada mais numas do que noutras. "Algumas pessoas são mais ansiosas e hipervigilantes do que outras. Quando está stressado, nervoso ou ansioso, é mais provável que sinta comichão por insetos fantasma", continua.
E será que podem existir formas de controlar este tipo de comichão?
Sendo algo que se cria no cérebro, em que o cérebro é de certa forma engando, podem existir formas de conseguir contornar esta comichão. O especialista acredita que sim.
"Comece por reconhecer que a sensação vem do seu cérebro, não do seu corpo. Só isso já lhe dá poder sobre a mesma. Experimente a reformulação cognitiva. Lembre-se de que isso é uma falha cerebral, não algo real."
Pode também fazer algo mais físico, como passar as mãos por água ou pegar num objeto com texturas. "O objetivo é dar ao cérebro um novo sinal que possa processar. Poderá também relaxar e ficar menos vigilante, de forma a reduzir este tipo de stress que possa sentir."
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