billshcot
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( este artigo conclui no seguinte )
O comportamento de um cão sofre alterações ao longo da sua vida. O seu desenvolvimento é um processo progressivo no tempo, resultante da constante interacção de factores genéticos, fisiológicos e das experiências do indivíduo. Actualmente reconhece-se a existência de períodos sensíveis, fases em que existe uma predisposição para a aprendizagem sobre certos aspectos sociais e ambientais. A privação a determinados estímulos em fases relevantes, aumenta a probabilidade de futura ocorrência de comportamentos inapropriados ou anormais, e de menor capacidade de adaptação. Embora a maioria dos fenómenos ocorridos nos períodos sensíveis não seja irreversível, os padrões adquiridos nestas fases revelam-se de grande importância para o futuro comportamento do indivíduo, podendo a sua alteração, em posteriores estádios de desenvolvimento, debater-se com diferentes graus de dificuldade.
Estudos realizados em cães domésticos (Canis familiaris), têm revelado que, até à maturidade sexual, podem ser considerados cinco períodos de desenvolvimento nesta espécie (pré-natal, neonatal, de transição, de socialização e juvenil).
Por questões de estruturação do texto, optei por abordar, neste artigo, os principais aspectos do desenvolvimento comportamental dos cachorros até ao final da 3ªsemana de idade. As etapas seguintes serão focadas no próximo artigo a publicar.
Período pré-natal
Estudos realizados em roedores sugerem que, para além dos factores genéticos, definidos aquando da fecundação, no período pré-natal surgem influências maternais transplacentárias capazes de afectar o subsequente desenvolvimento comportamental das crias. De acordo com estes trabalhos, fêmeas sujeitas a elevados índices de stress durante a gestação tendem a produzir crias mais emocionais ou reactivas em situações de teste, com menor capacidade de aprendizagem e menor sucesso reprodutivo. Presume-se que estas influências também se verifiquem em cães, admitindo-se que os factores ambientais que afectam a cadela gestante vão influenciar o desenvolvimento do comportamento dos cachorros. Os níveis hormonais maternos parecem exercer um papel importante neste contexto, afectando a emotividade das crias através dos seus efeitos no desenvolvimento da responsividade fisiológica dos fetos ao stress. Também o efeito da testosterona (hormona masculina) no comportamento masculino parece iniciar-se ainda durante a fase pré-natal: próximo do parto, surge um “pico” dos níveis de testosterona nos machos, que se pensa afectar o cérebro em desenvolvimento, “masculinizando-o”. Segundo os resultados de estudos realizados em roedores, as homonas masculinas provenientes da circulação materna ou da proximidade e preponderância de crias masculinas influenciam o comportamento das fêmeas. Verifica-se um aumento da agressividade em fêmeas provenientes de ninhadas constituídas maioritariamente por machos, acontecendo o contrário no caso inverso.
Período neonatal (até à 2ª semana)
O comportamento maternal desempenha um papel central na vida da fêmea, sobrevivência da cria e formação social do indivíduo. A mãe constitui uma fonte inicial de aprendizagem, capaz de moldar as futuras características comportamentais da cria.
A súbita exibição de comportamentos maternais durante o parto revelou-se um indicador importante da existência de uma base hormonal para estes comportamentos. No entanto, a influência hormonal decresce, grandemente, pouco tempo após o parto, sendo importante o estabelecimento de uma relação comportamental com o recém-nascido ainda sob este predomínio, por forma a que, posteriormente, a responsividade maternal possa ser mantida pela estimulação sensorial exercida pela cria. Tal como acontece noutros mamíferos com ninho, a cadela é estimulada pela sucção, pela estimulação térmica do contacto e pelas propriedades tácteis e olfactivas dos recém-nascidos. É, no entanto, de notar que, embora raros, podem surgir episódios de canibalismo e infanticídio, que podem constituir componentes de um comportamento normal, com função adaptativa em condições adversas, ou ser resultado de uma situação patológica.
À medida que vão nascendo, os cachorros são lambidos e secos, um a um, sendo, de resto, ignorados até que a ninhada se encontre completa. O facto de a maior parte dos mamíferos lamber os recém-nascidos sugere que parte do processo de identificação das crias se baseie em pistas químicas veiculadas pela saliva seca. Uma vez nascida toda a ninhada, a progenitora lambe os cachorros e limpa-os, estimulando-os a urinar e defecar. O comportamento de lamber os neonatos é, ainda, de grande importância no processo através do qual as crias identificam a mãe. A cadela também lambe os seus próprios mamilos, deixando um rasto químico, que constitui um estímulo olfactivo fundamental para a sucção e, consequentemente, para a sobrevivência dos cachorros recém-nascidos. Para além de essencial no contexto alimentar, a amamentação funciona como um importante mecanismo de vinculação entre as crias e a progenitora.
Os cachorros nascem com o sistema neurosensorial imaturo, encontrando-se particularmente dependentes da progenitora. No período neonatal, a interacção social limita-se à mãe, sendo todo o comportamento das crias direccionado para a alimentação e solicitação de outros cuidados maternais, através de gemidos e arrastando-se, com o pescoço para a frente, à procura de um mamilo e de calor. Durante esta fase, a defecação e a eliminação de urina não são expontâneas, dependendo da estimulação da região anogenital, pela fêmea. Embora cachorros orfãos, artificialmente alimentados, possam ter as suas necessidades nutricionais satisfeitas, esta situação implica geralmente a não satisfação das necessidades tácteis e sociais. Estes animais tendem a mamar mais uns nos outros e noutros objectos. A ausência materna pode, inclusivamente, ser a causa de desordens compulsivas, como “mamar e mascar” lã ou outros tecidos. É importante ter em conta que os mesmos problemas podem acontecer quando as ninhadas são demasiado grandes.
Embora já sejam sensíveis a estímulos tácteis e a certos estímulos gustativos e olfactivos, as capacidades motoras das crias são ainda muito limitadas, os olhos e os canais auditivos encontram-se fechados e não funcionais. Neste período, existem vários reflexos que tenderão a desaparecer gradualmente, com a maturação do sistema nervoso central (S.N.C). Nos primeiros três dias há uma dominância do reflexo flexor, isto é, quando segurado pelo pescoço, o cachorro flecte as patas. Pelo contrário, entre o quarto dia e as quatro semanas de idade, estende-as (reflexo extensor). O reflexo de Magnus está presente durante as primeiras duas semanas: quando se vira a cabeça do cachorro para um lado, ele estende as patas desse lado, enquanto flecte as do lado oposto. O reflexo de pista (rooting reflex) é mais evidente alguns dias após o nascimento: o cachorro empurra o focinho contra uma mão “em concha”, arrastando-se para a frente. Este reflexo é utilizado pela mãe, na condução dos cachorros, que, ao serem lambidos na cabeça, se orientam para a fêmea movendo-se contra ela.
Dentro dos limites das suas capacidades sensoriais e comportamentais, os cachorros podem aprender associações simples, não sendo, no entanto, provável que as consequências, do que é aprendido no período neonatal, sejam evidentes em fases posteriores do desenvolvimento. De acordo com os resultados de alguns estudos, os cachorros com menos de uma semana podem aprender a evitar uma corrente de ar, podendo mesmo mover-se de uma superfície confortável para uma desconfortável.
O manuseamento prudente dos neonatos expõe-nos a estímulos sensoriais, influenciando, de forma benéfica, o seu desenvolvimento físico e comportamental. Uma situação de stress moderado, permite a maturação mais rápida do S.N.C., a abertura mais precoce dos olhos, o crescimento mais rápido do pêlo, o aumento do ganho diário de peso, um maior desenvolvimento da coordenação motora e uma maior estabilidade emocional em situações estranhas e adversas. Os programas de manuseamento precoce, adoptados por alguns criadores, têm alcançado melhores resultados relativamente à resistência a situações de stress, estabilidade emocional e capacidade de aprendizagem. É, no entanto, importante notar que, pelo contrário, a exposição a um nível excessivo de stress, durante o período neonatal, pode conduzir a atrasos no desenvolvimento.
Período de transição (3ª semana)
Este período caracteriza-se por rápidas transformações. As capacidades sensoriais desenvolvem-se e, embora a influência materna continue a ser forte, a influência dos outros cachorros da ninhada e de certos aspectos ambientais, no desenvolvimento comportamental, começa a aumentar. Nesta fase as crias já ganem por se encontrarem em ambientes não familiares, e não apenas por fome ou frio.
Quando os olhos abrem, por volta do 13º dia (entre o 10º e o 16º), a visão é ainda deficiente, sendo a resposta à luz e a objectos em movimento fraca e variável. O pavilhão auricular abre entre o 14º e o 18º dias de vida, surgindo as primeiras “respostas de susto” a sons altos (cerca do 16º dia). A resposta à dor é, nesta altura, similar à de um adulto. Do 12º ao 14º dia, as crias começam a aguentar o seu peso em pé. Esta capacidade deve-se ao facto de, nessa fase, terem já reflexos ao tacto nos quatro membros. Embora de forma desajeitada, os cachorros conseguem andar, sendo também capazes de rastejar para a frente e para trás.
Durante esta fase, a defecação e a micção passam a ser expontâneas, não dependendo da estimulação da região anogenital, pela fêmea. Já com os seus mecanismos de termorregulação suficientemente desenvolvidos, os cachorros começam, sempre que possível, a sair do ninho para eliminar, evitando fazê-lo nos locais onde dormem e onde se alimentam. Esta é, pois, uma tendência natural que deverá ser aproveitada para o treino de higiene, sendo, neste contexto, de notar que as preferências pelo substracto de eliminação estarão, geralmente, bem desenvolvidas por volta da 8ª semana e meia de idade.
No período de transição, surgem os primeiros comportamentos de brincadeira e os primeiros sinais sociais, tais como, rosnados e o abanar da cauda. É, também, nesta fase, que nascem os dentes, ocorrendo as primeiras dentadas.
Neste período, a relação entre a cadela e as crias é, ainda fundamentalmente de cedência (pela fêmea) e solicitação (pelas crias) de cuidados maternais. Quando, na perspectiva custos/benefícios, esta relação começa a ser prejudicial para a fêmea, mas não para as suas crias, surge o “conflito mãe-cria”. Nesta altura, a cadela deixa de estimular os cachorros a mamarem, passando estes a fazê-lo por si. Posteriormente, a fêmea passará a desencorajar estas tentativas. Na fase de transição, a mãe pode começar a regurgitar alimentos para os cachorros. No entanto, e provavelmente devido à pressão selectiva exercida pelos humanos, a regurgitação não é muito frequente em grande parte das raças de cães domésticos.
No que se refere à capacidade de aprendizagem, e, embora os níveis de aprendizagem e a estabilidade das respostas, verificados em adultos, não sejam atingidas antes da 4ª-5ª semana, o desempenho em termos de associações melhora bastante no período de transição. Na 4ª semana de idade, os cachorros já se encontram preparados para uma aprendizagem mais complexa.
O comportamento de um cão sofre alterações ao longo da sua vida. O seu desenvolvimento é um processo progressivo no tempo, resultante da constante interacção de factores genéticos, fisiológicos e das experiências do indivíduo. Actualmente reconhece-se a existência de períodos sensíveis, fases em que existe uma predisposição para a aprendizagem sobre certos aspectos sociais e ambientais. A privação a determinados estímulos em fases relevantes, aumenta a probabilidade de futura ocorrência de comportamentos inapropriados ou anormais, e de menor capacidade de adaptação. Embora a maioria dos fenómenos ocorridos nos períodos sensíveis não seja irreversível, os padrões adquiridos nestas fases revelam-se de grande importância para o futuro comportamento do indivíduo, podendo a sua alteração, em posteriores estádios de desenvolvimento, debater-se com diferentes graus de dificuldade.
Estudos realizados em cães domésticos (Canis familiaris), têm revelado que, até à maturidade sexual, podem ser considerados cinco períodos de desenvolvimento nesta espécie (pré-natal, neonatal, de transição, de socialização e juvenil).
Por questões de estruturação do texto, optei por abordar, neste artigo, os principais aspectos do desenvolvimento comportamental dos cachorros até ao final da 3ªsemana de idade. As etapas seguintes serão focadas no próximo artigo a publicar.
Período pré-natal
Estudos realizados em roedores sugerem que, para além dos factores genéticos, definidos aquando da fecundação, no período pré-natal surgem influências maternais transplacentárias capazes de afectar o subsequente desenvolvimento comportamental das crias. De acordo com estes trabalhos, fêmeas sujeitas a elevados índices de stress durante a gestação tendem a produzir crias mais emocionais ou reactivas em situações de teste, com menor capacidade de aprendizagem e menor sucesso reprodutivo. Presume-se que estas influências também se verifiquem em cães, admitindo-se que os factores ambientais que afectam a cadela gestante vão influenciar o desenvolvimento do comportamento dos cachorros. Os níveis hormonais maternos parecem exercer um papel importante neste contexto, afectando a emotividade das crias através dos seus efeitos no desenvolvimento da responsividade fisiológica dos fetos ao stress. Também o efeito da testosterona (hormona masculina) no comportamento masculino parece iniciar-se ainda durante a fase pré-natal: próximo do parto, surge um “pico” dos níveis de testosterona nos machos, que se pensa afectar o cérebro em desenvolvimento, “masculinizando-o”. Segundo os resultados de estudos realizados em roedores, as homonas masculinas provenientes da circulação materna ou da proximidade e preponderância de crias masculinas influenciam o comportamento das fêmeas. Verifica-se um aumento da agressividade em fêmeas provenientes de ninhadas constituídas maioritariamente por machos, acontecendo o contrário no caso inverso.
Período neonatal (até à 2ª semana)
O comportamento maternal desempenha um papel central na vida da fêmea, sobrevivência da cria e formação social do indivíduo. A mãe constitui uma fonte inicial de aprendizagem, capaz de moldar as futuras características comportamentais da cria.
A súbita exibição de comportamentos maternais durante o parto revelou-se um indicador importante da existência de uma base hormonal para estes comportamentos. No entanto, a influência hormonal decresce, grandemente, pouco tempo após o parto, sendo importante o estabelecimento de uma relação comportamental com o recém-nascido ainda sob este predomínio, por forma a que, posteriormente, a responsividade maternal possa ser mantida pela estimulação sensorial exercida pela cria. Tal como acontece noutros mamíferos com ninho, a cadela é estimulada pela sucção, pela estimulação térmica do contacto e pelas propriedades tácteis e olfactivas dos recém-nascidos. É, no entanto, de notar que, embora raros, podem surgir episódios de canibalismo e infanticídio, que podem constituir componentes de um comportamento normal, com função adaptativa em condições adversas, ou ser resultado de uma situação patológica.
À medida que vão nascendo, os cachorros são lambidos e secos, um a um, sendo, de resto, ignorados até que a ninhada se encontre completa. O facto de a maior parte dos mamíferos lamber os recém-nascidos sugere que parte do processo de identificação das crias se baseie em pistas químicas veiculadas pela saliva seca. Uma vez nascida toda a ninhada, a progenitora lambe os cachorros e limpa-os, estimulando-os a urinar e defecar. O comportamento de lamber os neonatos é, ainda, de grande importância no processo através do qual as crias identificam a mãe. A cadela também lambe os seus próprios mamilos, deixando um rasto químico, que constitui um estímulo olfactivo fundamental para a sucção e, consequentemente, para a sobrevivência dos cachorros recém-nascidos. Para além de essencial no contexto alimentar, a amamentação funciona como um importante mecanismo de vinculação entre as crias e a progenitora.
Os cachorros nascem com o sistema neurosensorial imaturo, encontrando-se particularmente dependentes da progenitora. No período neonatal, a interacção social limita-se à mãe, sendo todo o comportamento das crias direccionado para a alimentação e solicitação de outros cuidados maternais, através de gemidos e arrastando-se, com o pescoço para a frente, à procura de um mamilo e de calor. Durante esta fase, a defecação e a eliminação de urina não são expontâneas, dependendo da estimulação da região anogenital, pela fêmea. Embora cachorros orfãos, artificialmente alimentados, possam ter as suas necessidades nutricionais satisfeitas, esta situação implica geralmente a não satisfação das necessidades tácteis e sociais. Estes animais tendem a mamar mais uns nos outros e noutros objectos. A ausência materna pode, inclusivamente, ser a causa de desordens compulsivas, como “mamar e mascar” lã ou outros tecidos. É importante ter em conta que os mesmos problemas podem acontecer quando as ninhadas são demasiado grandes.
Embora já sejam sensíveis a estímulos tácteis e a certos estímulos gustativos e olfactivos, as capacidades motoras das crias são ainda muito limitadas, os olhos e os canais auditivos encontram-se fechados e não funcionais. Neste período, existem vários reflexos que tenderão a desaparecer gradualmente, com a maturação do sistema nervoso central (S.N.C). Nos primeiros três dias há uma dominância do reflexo flexor, isto é, quando segurado pelo pescoço, o cachorro flecte as patas. Pelo contrário, entre o quarto dia e as quatro semanas de idade, estende-as (reflexo extensor). O reflexo de Magnus está presente durante as primeiras duas semanas: quando se vira a cabeça do cachorro para um lado, ele estende as patas desse lado, enquanto flecte as do lado oposto. O reflexo de pista (rooting reflex) é mais evidente alguns dias após o nascimento: o cachorro empurra o focinho contra uma mão “em concha”, arrastando-se para a frente. Este reflexo é utilizado pela mãe, na condução dos cachorros, que, ao serem lambidos na cabeça, se orientam para a fêmea movendo-se contra ela.
Dentro dos limites das suas capacidades sensoriais e comportamentais, os cachorros podem aprender associações simples, não sendo, no entanto, provável que as consequências, do que é aprendido no período neonatal, sejam evidentes em fases posteriores do desenvolvimento. De acordo com os resultados de alguns estudos, os cachorros com menos de uma semana podem aprender a evitar uma corrente de ar, podendo mesmo mover-se de uma superfície confortável para uma desconfortável.
O manuseamento prudente dos neonatos expõe-nos a estímulos sensoriais, influenciando, de forma benéfica, o seu desenvolvimento físico e comportamental. Uma situação de stress moderado, permite a maturação mais rápida do S.N.C., a abertura mais precoce dos olhos, o crescimento mais rápido do pêlo, o aumento do ganho diário de peso, um maior desenvolvimento da coordenação motora e uma maior estabilidade emocional em situações estranhas e adversas. Os programas de manuseamento precoce, adoptados por alguns criadores, têm alcançado melhores resultados relativamente à resistência a situações de stress, estabilidade emocional e capacidade de aprendizagem. É, no entanto, importante notar que, pelo contrário, a exposição a um nível excessivo de stress, durante o período neonatal, pode conduzir a atrasos no desenvolvimento.
Período de transição (3ª semana)
Este período caracteriza-se por rápidas transformações. As capacidades sensoriais desenvolvem-se e, embora a influência materna continue a ser forte, a influência dos outros cachorros da ninhada e de certos aspectos ambientais, no desenvolvimento comportamental, começa a aumentar. Nesta fase as crias já ganem por se encontrarem em ambientes não familiares, e não apenas por fome ou frio.
Quando os olhos abrem, por volta do 13º dia (entre o 10º e o 16º), a visão é ainda deficiente, sendo a resposta à luz e a objectos em movimento fraca e variável. O pavilhão auricular abre entre o 14º e o 18º dias de vida, surgindo as primeiras “respostas de susto” a sons altos (cerca do 16º dia). A resposta à dor é, nesta altura, similar à de um adulto. Do 12º ao 14º dia, as crias começam a aguentar o seu peso em pé. Esta capacidade deve-se ao facto de, nessa fase, terem já reflexos ao tacto nos quatro membros. Embora de forma desajeitada, os cachorros conseguem andar, sendo também capazes de rastejar para a frente e para trás.
Durante esta fase, a defecação e a micção passam a ser expontâneas, não dependendo da estimulação da região anogenital, pela fêmea. Já com os seus mecanismos de termorregulação suficientemente desenvolvidos, os cachorros começam, sempre que possível, a sair do ninho para eliminar, evitando fazê-lo nos locais onde dormem e onde se alimentam. Esta é, pois, uma tendência natural que deverá ser aproveitada para o treino de higiene, sendo, neste contexto, de notar que as preferências pelo substracto de eliminação estarão, geralmente, bem desenvolvidas por volta da 8ª semana e meia de idade.
No período de transição, surgem os primeiros comportamentos de brincadeira e os primeiros sinais sociais, tais como, rosnados e o abanar da cauda. É, também, nesta fase, que nascem os dentes, ocorrendo as primeiras dentadas.
Neste período, a relação entre a cadela e as crias é, ainda fundamentalmente de cedência (pela fêmea) e solicitação (pelas crias) de cuidados maternais. Quando, na perspectiva custos/benefícios, esta relação começa a ser prejudicial para a fêmea, mas não para as suas crias, surge o “conflito mãe-cria”. Nesta altura, a cadela deixa de estimular os cachorros a mamarem, passando estes a fazê-lo por si. Posteriormente, a fêmea passará a desencorajar estas tentativas. Na fase de transição, a mãe pode começar a regurgitar alimentos para os cachorros. No entanto, e provavelmente devido à pressão selectiva exercida pelos humanos, a regurgitação não é muito frequente em grande parte das raças de cães domésticos.
No que se refere à capacidade de aprendizagem, e, embora os níveis de aprendizagem e a estabilidade das respostas, verificados em adultos, não sejam atingidas antes da 4ª-5ª semana, o desempenho em termos de associações melhora bastante no período de transição. Na 4ª semana de idade, os cachorros já se encontram preparados para uma aprendizagem mais complexa.