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- Set 24, 2006
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Chícharo, o mal amado
O que vos proponho hoje caros correlegionários da lusofonia e caros amantes não lusófonos dos prazeres da mesa, é uma partilha multicultural dos sabores e dos saberes desta imensa babel do paladar que é a gastronomia. Uma troca de "repetidos" gastronómicos que ajudem a dar sabor à nossa existência e que enriqueçam a Sodoma e a Gomorra que existem escondidas nas nossas papilas gustativas. Hoje é o chícharo, amanhã conquilhas ou mesmo acarajé. Ou moamba, quiçá....! A panela está do nosso lado e cabe a vocês e a nós enchê-la com o que de melhor nos aprouver.
Por quem sois, não temais, porque vale mesmo tudo: mail, fax, comentários, carta, cinta e tudo o que no momento vos ocorra. O importante é mesmo partilhar e dar a conhecer à malta os pequenos grandes tesouros escondidos da nossa "mui nobre arte de bem rapar todos os tachos". Em frente, pois, que a vossa dízima ao paladar não cairá em saco roto. E agora, ao chícharo que a conversa já vai longa.
Praticamente desaparecido do léxico gastronómico português desde a década de quarenta, o chícharo está de volta. E em boa hora, diga-se, pois esta leguminosa muito semelhante em aspecto ao tremoço, de cultivo fácil, extremamente nutritiva e de paladar suave, conjuga-se às mil maravilhas, isolada ou em conjunto, com uma miríade de sabores tão díspares como os que vão da petinga e do peixe do rio aos enchidos, do bacalhau ao entrecosto e ao cabrito, da sopa às migas, das tartes ao pudim, sem esquecer, obviamente, o licor.
O chícharo é consumido no mundo e na península ibérica desde tempos imemoriais, como o provam os achados arqueológicos que o situam de forma horizontal nas civilizações que dominaram este canto à beira-mar plantado. Durante anos reinou à mesa dos portugueses essencialmente devido ao facto do seu fácil cultivo e propagação, quase uma planta infestante, sabor suave e capacidades nutritivas que o colocaram como um alimento acessível e quase gratuito. Alcandorado, pela força das circunstâncias, ao topo da gastronomia portuguesa durante o período de depressão política e económica do Estado Novo, quando a fome grassava à mesa dos portugueses, o chícharo foi votado ao ostracismo pela vontade do povo lusitano em varrer da memória os tempos difíceis da crise quando por fim os melhores dias chegaram.
Consumido sob diversos nomes e formas de confecção, por humanos e animais, da América à Ásia, o Lathyrus sativus L., o chícharo, parece querer recuperar em Portugal o lugar ao sol que já foi seu e fazer jus à criatividade culinária dos portugueses: pelo quinto ano consecutivo a "Capital do Chícharo", Alvaiázere, pequena cidade situada nas Terras de Sicó, levou a efeito este mês o V Festival do Chícharo, numa tentativa frutífera de recuperação do património gastronómico da região, em que o chícharo foi rei e senhor no recinto da Feira e nos restaurantes e tasquinhas da região.
Mas o manancial de receitas com chícharo, virtualmente inesgotável, será sempre uma ode à criatividade, venha ela do Brasil, do México, de Cabo Verde ou de Angola, de Portugal, de Moçambique ou da Índia. Por isso mesmo, por esse elan criativo que sabemos existir por essas terras de Deus e do Demo, vos sugerimos que se não inibam e que, caso conheçam algum "tesouro gastronómico" que envolva o bendito chícharo, o partilhem connosco. Ao chícharo, pois!
Leia mais: Chícharo, o mal amado

O que vos proponho hoje caros correlegionários da lusofonia e caros amantes não lusófonos dos prazeres da mesa, é uma partilha multicultural dos sabores e dos saberes desta imensa babel do paladar que é a gastronomia. Uma troca de "repetidos" gastronómicos que ajudem a dar sabor à nossa existência e que enriqueçam a Sodoma e a Gomorra que existem escondidas nas nossas papilas gustativas. Hoje é o chícharo, amanhã conquilhas ou mesmo acarajé. Ou moamba, quiçá....! A panela está do nosso lado e cabe a vocês e a nós enchê-la com o que de melhor nos aprouver.
Por quem sois, não temais, porque vale mesmo tudo: mail, fax, comentários, carta, cinta e tudo o que no momento vos ocorra. O importante é mesmo partilhar e dar a conhecer à malta os pequenos grandes tesouros escondidos da nossa "mui nobre arte de bem rapar todos os tachos". Em frente, pois, que a vossa dízima ao paladar não cairá em saco roto. E agora, ao chícharo que a conversa já vai longa.
Praticamente desaparecido do léxico gastronómico português desde a década de quarenta, o chícharo está de volta. E em boa hora, diga-se, pois esta leguminosa muito semelhante em aspecto ao tremoço, de cultivo fácil, extremamente nutritiva e de paladar suave, conjuga-se às mil maravilhas, isolada ou em conjunto, com uma miríade de sabores tão díspares como os que vão da petinga e do peixe do rio aos enchidos, do bacalhau ao entrecosto e ao cabrito, da sopa às migas, das tartes ao pudim, sem esquecer, obviamente, o licor.


O chícharo é consumido no mundo e na península ibérica desde tempos imemoriais, como o provam os achados arqueológicos que o situam de forma horizontal nas civilizações que dominaram este canto à beira-mar plantado. Durante anos reinou à mesa dos portugueses essencialmente devido ao facto do seu fácil cultivo e propagação, quase uma planta infestante, sabor suave e capacidades nutritivas que o colocaram como um alimento acessível e quase gratuito. Alcandorado, pela força das circunstâncias, ao topo da gastronomia portuguesa durante o período de depressão política e económica do Estado Novo, quando a fome grassava à mesa dos portugueses, o chícharo foi votado ao ostracismo pela vontade do povo lusitano em varrer da memória os tempos difíceis da crise quando por fim os melhores dias chegaram.
Consumido sob diversos nomes e formas de confecção, por humanos e animais, da América à Ásia, o Lathyrus sativus L., o chícharo, parece querer recuperar em Portugal o lugar ao sol que já foi seu e fazer jus à criatividade culinária dos portugueses: pelo quinto ano consecutivo a "Capital do Chícharo", Alvaiázere, pequena cidade situada nas Terras de Sicó, levou a efeito este mês o V Festival do Chícharo, numa tentativa frutífera de recuperação do património gastronómico da região, em que o chícharo foi rei e senhor no recinto da Feira e nos restaurantes e tasquinhas da região.


Mas o manancial de receitas com chícharo, virtualmente inesgotável, será sempre uma ode à criatividade, venha ela do Brasil, do México, de Cabo Verde ou de Angola, de Portugal, de Moçambique ou da Índia. Por isso mesmo, por esse elan criativo que sabemos existir por essas terras de Deus e do Demo, vos sugerimos que se não inibam e que, caso conheçam algum "tesouro gastronómico" que envolva o bendito chícharo, o partilhem connosco. Ao chícharo, pois!
Leia mais: Chícharo, o mal amado