- Entrou
- Ago 29, 2007
- Mensagens
- 5,124
- Gostos Recebidos
- 0
Activistas divergem entre eliminar CO2 e defender paisagens
Enquanto David Myers observa os desfiladeiros rochosos deste cânion desértico, além dos arbustos que os carneiros selvagens comem, ele imagina um inimigo avançando pelo precipício. É a presença de um exército de refletores, geradores e torres de transmissão transformando paisagens parecidas com a que observa no deserto de Mojave. Embora o cânion Whitewater seja uma propriedade privada protegida, não o são os outros que Myers, chefe do grupo Wildlands Conservancy, luta para preservar.
Para seu desgosto, alguns de seus colegas ambientalistas estão ajudando as companhias de energia a identificar os melhores lugares para instalar a tecnologia de luz solar. O objetivo de seus antigos aliados é combater a mudança climática aproveitando a abundante luz solar do deserto, reduzindo a dependência da região em combustíveis emissores de carbono.
Myers está indignado. "Como você pode dizer que vai acabar com centenas de milhares de acres de terra para preservar o planeta?", perguntou. Enquanto a gestão Obama acelera o desenvolvimento de energia geotérmica, eólica e solar, movimentos ambientais se dividem entre combater a mudança climática e a paixão por salvar lugares especiais.
O conflito começou há quase uma década em lugares como Cape Rod, Massachusetts, onde um plano para instalar 130 turbinas eólicas em Nantucket Sound colocou ativistas do tema energético contra residentes locais que temiam que elas prejudicassem a vida aquática e a paisagem. Depois foi para oeste, em locais do Mojave como uma região plana próxima ao vale de Ivanpah, a 209 km daqui, onde uma proposta para a instalação de três grupos de 50 mil painéis solares criou incerteza a respeito do destino de tartarugas ameaçadas.
Terry Frewin, representante local da organização Sierra Club, disse que tinha questões difíceis aos reguladores estaduais. "Os desertos não precisam ser sacrificados para que as pessoas em Los Angeles possam continuar aquecendo suas piscinas", defendeu. Ambientalistas tradicionais sempre execraram as intrusões industriais. Eles combatem essa invasão desde que o escritor John Muir se opôs à represa que inundou o vale de Hetch Hetchy, próximo a Yosemite, há quase um século. Oposição similar ocorre na campanha atual contra perfurações em partes do Refúgio Nacional da Vida Selvagem no Ártico.
Em escala nacional, essa estratégia está esbarrando com as novas medidas intencionadas a mudar a forma como a eletricidade é produzida, os carros são fabricados e as pessoas vivem. "Não é suficiente dizer não às coisas", disse Carl Zichella, especialista do Sierra Club em energia renovável. "É preciso dizer sim para as coisas certas."
Por isso, ambientalistas como Zichella e Johanna Wald, advogada e eco-combatente de longa data do grupo Natural Resources Defense Council, se tornaram membros de um grupo consultivo, dominado pela indústria, que faz recomendações para os reguladores da Califórnia sobre onde as zonas de energia renovável deveriam ser criadas. "Precisamos aceitar nossa responsabilidade por algo que militamos há décadas estar prestes a acontecer", disse Wald. "Meu trabalho é assegurar que aconteça de uma forma ambientalmente responsável."
O novo secretário americano do Interior, Ken Salazar, pediu neste mês que uma força-tarefa mapeasse áreas energéticas potenciais. Para reagir a esses esforços, Myers propôs que o Congresso tornasse centenas de milhares de acres de terras federais no deserto de Mojave indisponíveis como monumento nacional. Batizado com o nome da histórica Rota 66, o monumento iria do Parque Nacional Joshua Tree à Reserva do Mojave, do Serviço de Parques Nacionais dos EUA.
O domínio abarcaria os 2.486 km² que o Wildlands Conservancy doou aos cuidados do órgão federal de administração de terras e algumas centenas a mais. Na semana passada, a senadora democrata Dianne Feinstein, da Califórnia, que é uma antiga defensora dos esforços de preservação do deserto, também propôs um monumento nacional para proteger boa parte da mesma área. "Sou uma forte defensora da energia renovável e da tecnologia limpa, mas é crucial que esses projetos sejam construídos em terras adequadas", disse Feinstein, que é presidente de um sub-comitê que supervisiona o orçamento do Departamento de Interior.
Há certa urgência na busca por áreas de energia renovável na Califórnia. Uma lei estadual de 2006 exige que 20% da energia do Estado seja produzida a partir de fontes renováveis até 2020. A meta já é difícil, segundo especialistas, mas o governador Arnold Schwarzenegger quer aumentá-la para 33%. Chegar lá significa construção rápida de usinas e linhas de transmissão.
Para equilibrar essa meta com a proteção do habitat de espécies ameaçadas como a tartaruga-do-deserto, Zichella, Wald e outros ambientalistas viajaram por Sacramento, São Francisco e comunidades do deserto para conhecer as especificidades da rede elétrica, das tecnologias solares e dos ecossistemas do deserto. Nem sempre foram recepcionados calorosamente.
"Somos ambientalistas", disse Jim Harvey, cuja Associação por uma Política Energética Responsável representa uma coalizão de ativistas na área do Mojave. "Essas pessoas, que supostamente estão do nosso lado, na verdade estão contra nós." O grupo de Harvey afirma que painéis solares de telhados poderiam ser vastamente expandidos em áreas de grande população ao redor de Los Angeles. Com economia de energia, isso tornaria os painéis solares do deserto desnecessários, afirma.
Zichella e outros opõem que uma adoção ampla dos caros painéis de telhados seria lenta. "O curso mais prudente é não colocar todos os ovos renováveis na mesma cesta", escreveu Zichella recentemente. Uma reconciliação entre os dois campos ambientalistas parece provável. Com metas nacional e estadual exigindo mais projetos de energia renovável, muitos dizem que os ambientalistas terão um incentivo para trabalhar em conjunto para intermediar soluções com políticos e o setor energético.
"Estamos conhecendo e compreendendo os sacrifícios entre as escolhas, e eles são difíceis", disse Pam Eaton, vice-presidente assistente da campanha de terras públicas da Wilderness Society, que está trabalhando para reduzir as diferenças entre os ambientalistas. "Temos o impacto de curto-prazo de um projeto em oposição a um problema de longo prazo, que é a mudança climática", explicou Eaton.
No Mojave, a grande briga fica em torno das linhas de transmissão de alta-voltagem. Os dois prováveis pontos de produção ficariam separados dos consumidores por dois grandes parques nacionais, várias áreas selvagens e bases militares, como a base de fuzileiros navais de Twenty Nine Palms. Tem sido difícil encontrar uma rota para o projeto Green Path North, que atravessa essas instalações, ecossistemas frágeis e comunidades enfurecidas. Uma das rotas "passa bem entre minha casa e as montanhas", disse Harvey.
Esse é o tipo de conflito que Zichella e Wald tentam aplacar. Ciente de que um debate interno é inevitável, Carl Pop, diretor-executivo do Sierra Club, sugere um maior esforço para equilibrar as prioridades em competição. "O que precisa ser feito", disse, "é mostrar que o que se está fazendo é o melhor que pode ser feito".
Enquanto David Myers observa os desfiladeiros rochosos deste cânion desértico, além dos arbustos que os carneiros selvagens comem, ele imagina um inimigo avançando pelo precipício. É a presença de um exército de refletores, geradores e torres de transmissão transformando paisagens parecidas com a que observa no deserto de Mojave. Embora o cânion Whitewater seja uma propriedade privada protegida, não o são os outros que Myers, chefe do grupo Wildlands Conservancy, luta para preservar.
Para seu desgosto, alguns de seus colegas ambientalistas estão ajudando as companhias de energia a identificar os melhores lugares para instalar a tecnologia de luz solar. O objetivo de seus antigos aliados é combater a mudança climática aproveitando a abundante luz solar do deserto, reduzindo a dependência da região em combustíveis emissores de carbono.
Myers está indignado. "Como você pode dizer que vai acabar com centenas de milhares de acres de terra para preservar o planeta?", perguntou. Enquanto a gestão Obama acelera o desenvolvimento de energia geotérmica, eólica e solar, movimentos ambientais se dividem entre combater a mudança climática e a paixão por salvar lugares especiais.
O conflito começou há quase uma década em lugares como Cape Rod, Massachusetts, onde um plano para instalar 130 turbinas eólicas em Nantucket Sound colocou ativistas do tema energético contra residentes locais que temiam que elas prejudicassem a vida aquática e a paisagem. Depois foi para oeste, em locais do Mojave como uma região plana próxima ao vale de Ivanpah, a 209 km daqui, onde uma proposta para a instalação de três grupos de 50 mil painéis solares criou incerteza a respeito do destino de tartarugas ameaçadas.
Terry Frewin, representante local da organização Sierra Club, disse que tinha questões difíceis aos reguladores estaduais. "Os desertos não precisam ser sacrificados para que as pessoas em Los Angeles possam continuar aquecendo suas piscinas", defendeu. Ambientalistas tradicionais sempre execraram as intrusões industriais. Eles combatem essa invasão desde que o escritor John Muir se opôs à represa que inundou o vale de Hetch Hetchy, próximo a Yosemite, há quase um século. Oposição similar ocorre na campanha atual contra perfurações em partes do Refúgio Nacional da Vida Selvagem no Ártico.
Em escala nacional, essa estratégia está esbarrando com as novas medidas intencionadas a mudar a forma como a eletricidade é produzida, os carros são fabricados e as pessoas vivem. "Não é suficiente dizer não às coisas", disse Carl Zichella, especialista do Sierra Club em energia renovável. "É preciso dizer sim para as coisas certas."
Por isso, ambientalistas como Zichella e Johanna Wald, advogada e eco-combatente de longa data do grupo Natural Resources Defense Council, se tornaram membros de um grupo consultivo, dominado pela indústria, que faz recomendações para os reguladores da Califórnia sobre onde as zonas de energia renovável deveriam ser criadas. "Precisamos aceitar nossa responsabilidade por algo que militamos há décadas estar prestes a acontecer", disse Wald. "Meu trabalho é assegurar que aconteça de uma forma ambientalmente responsável."
O novo secretário americano do Interior, Ken Salazar, pediu neste mês que uma força-tarefa mapeasse áreas energéticas potenciais. Para reagir a esses esforços, Myers propôs que o Congresso tornasse centenas de milhares de acres de terras federais no deserto de Mojave indisponíveis como monumento nacional. Batizado com o nome da histórica Rota 66, o monumento iria do Parque Nacional Joshua Tree à Reserva do Mojave, do Serviço de Parques Nacionais dos EUA.
O domínio abarcaria os 2.486 km² que o Wildlands Conservancy doou aos cuidados do órgão federal de administração de terras e algumas centenas a mais. Na semana passada, a senadora democrata Dianne Feinstein, da Califórnia, que é uma antiga defensora dos esforços de preservação do deserto, também propôs um monumento nacional para proteger boa parte da mesma área. "Sou uma forte defensora da energia renovável e da tecnologia limpa, mas é crucial que esses projetos sejam construídos em terras adequadas", disse Feinstein, que é presidente de um sub-comitê que supervisiona o orçamento do Departamento de Interior.
Há certa urgência na busca por áreas de energia renovável na Califórnia. Uma lei estadual de 2006 exige que 20% da energia do Estado seja produzida a partir de fontes renováveis até 2020. A meta já é difícil, segundo especialistas, mas o governador Arnold Schwarzenegger quer aumentá-la para 33%. Chegar lá significa construção rápida de usinas e linhas de transmissão.
Para equilibrar essa meta com a proteção do habitat de espécies ameaçadas como a tartaruga-do-deserto, Zichella, Wald e outros ambientalistas viajaram por Sacramento, São Francisco e comunidades do deserto para conhecer as especificidades da rede elétrica, das tecnologias solares e dos ecossistemas do deserto. Nem sempre foram recepcionados calorosamente.
"Somos ambientalistas", disse Jim Harvey, cuja Associação por uma Política Energética Responsável representa uma coalizão de ativistas na área do Mojave. "Essas pessoas, que supostamente estão do nosso lado, na verdade estão contra nós." O grupo de Harvey afirma que painéis solares de telhados poderiam ser vastamente expandidos em áreas de grande população ao redor de Los Angeles. Com economia de energia, isso tornaria os painéis solares do deserto desnecessários, afirma.
Zichella e outros opõem que uma adoção ampla dos caros painéis de telhados seria lenta. "O curso mais prudente é não colocar todos os ovos renováveis na mesma cesta", escreveu Zichella recentemente. Uma reconciliação entre os dois campos ambientalistas parece provável. Com metas nacional e estadual exigindo mais projetos de energia renovável, muitos dizem que os ambientalistas terão um incentivo para trabalhar em conjunto para intermediar soluções com políticos e o setor energético.
"Estamos conhecendo e compreendendo os sacrifícios entre as escolhas, e eles são difíceis", disse Pam Eaton, vice-presidente assistente da campanha de terras públicas da Wilderness Society, que está trabalhando para reduzir as diferenças entre os ambientalistas. "Temos o impacto de curto-prazo de um projeto em oposição a um problema de longo prazo, que é a mudança climática", explicou Eaton.
No Mojave, a grande briga fica em torno das linhas de transmissão de alta-voltagem. Os dois prováveis pontos de produção ficariam separados dos consumidores por dois grandes parques nacionais, várias áreas selvagens e bases militares, como a base de fuzileiros navais de Twenty Nine Palms. Tem sido difícil encontrar uma rota para o projeto Green Path North, que atravessa essas instalações, ecossistemas frágeis e comunidades enfurecidas. Uma das rotas "passa bem entre minha casa e as montanhas", disse Harvey.
Esse é o tipo de conflito que Zichella e Wald tentam aplacar. Ciente de que um debate interno é inevitável, Carl Pop, diretor-executivo do Sierra Club, sugere um maior esforço para equilibrar as prioridades em competição. "O que precisa ser feito", disse, "é mostrar que o que se está fazendo é o melhor que pode ser feito".
The New York Times