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A "hipocrisia" ocidental no conflito do Médio Oriente
Os líderes europeus expressaram o seu apoio pelo ‘direito de defesa’ de Israel, mesmo depois de terem condenado os ataques do Estado hebreu em Gaza.
Nas últimas semanas, desde os recentes ataques israelitas ao Irão, várias capitais europeias têm apelado à diplomacia sem condenar os atos do estado hebreu. Muitos deles, incluindo Londres, Paris e Berlim, reagiram de forma inesperada depois de terem visto as suas relações com o primeiro-ministro israelita Netanyahu deterioradas depois de críticas à situação humanitária na Faixa de Gaza.
Em causa está uma vontade comum, a de impedir que Teerão tenha na sua pose, enquanto um Estado islâmico, uma arma nuclear.
“Israel tem o direito de se defender e o Irão não deve desenvolver armas nucleares”, declarou muito rapidamente o chanceler alemão Friedrich Merz. Durante a mesma tarde, o britânico Keir Starmer sublinhou “o direito de Israel à autodefesa” e as “preocupações de longa data” do seu país relativamente ao programa nuclear iraniano.
Emmanuel Macron, presidente francês, deu uma conferência de imprensa no passado dia 13 onde demonstrou também o seu apoio a Israel, defendendo o direito do Estado judeu se “defender” e que França iria “fazer parte das operações para defender Israel se estiver na posição de o fazer”, apesar de esclarecer que não iria participar em nenhuma “operação ofensiva”.
Em resposta à hipocrisia dos países ocidentais que possuem armamento nuclear, restringindo o Irão, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Esmaeil Baqaei ,disse através do X que “Israel ataca instalações nucleares pacíficas, bombardeia casas e mata iranianos a sangue frio em violação flagrante do direito internacional, no entanto, Macron escolhe ‘distorcer’ o programa nuclear do Irão. A hipocrisia é impressionante”.
Joana Ricarte, especialista em relações internacionais, explica ao Correio da Manhã que o “mantra” construído para apoiar o direito à defesa de Israel se deve essencialmente a dois fatores. O primeiro é a “ligação histórica com Israel” e de uma “culpa relacionada com a perseguição povo judaico” durante décadas na Europa. O segundo deve-se à presença de regimes autocráticos no Médio Oriente, que envolvem Israel e cuja preocupação dos países do ocidente é “não colocar Israel vulnerável”.
Esta questão da hipocrisia da União Europeia dá-se ainda “no contexto de uma cimeira da NATO cujo objetivo é o aumento do gasto em defesa” e de convencer o presidente norte-americano de que é possível chegar aos 5%. A questão dos EUA também poderá ser uma preocupação para os Estados-membros uma vez que “uma ação mais rígida [por parte de Washington] pode passar uma mensagem que não é do interesse dos membros da NATO”, não alterando o “contexto da contradição” verificada.
Os interesses económicos passam, talvez de forma mais despercebida, “pelo gasto em defesa” e o esforço que a NATO está a fazer para chegar ao valor pedido por Donald Trump. De maneira mais evidente, este conflito entre o Irão e Israel ameaça o comércio global, segundo a especialista, “mais de 20% do comércio marítimo passa pelo mar vermelho”.
O caso de um bloqueio marítimo pode ameaçar o aumento da inflação na Europa, e o preço do petróleo, impactando “países como a Alemanha” que desde a “interrupção da relação com a Rússia devido às sanções” implementadas depois do inicio do conflito com a Ucrânia, viu os preços a aumentar.
Em Portugal também se fez ouvir o eco da preocupação com o projeto nuclear iraniano. Através de uma publicação no X, o primeiro-ministro Luís Montenegro afirmou que “é uma séria ameaça à segurança mundial” apelando “à máxima contenção de todas as partes e ao regresso às negociações com vista a encontrar uma solução diplomática”.
O controlo do desenvolvimento de armamento nuclear por parte de Teerão trata-se portanto de um “contexto histórico”, explica Joana Ricarte, iniciado no pós Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria e a corrida ao armamento. Não se tratou apenas da aquisição de armamento nuclear por parte de países europeus, mas também da “Coreia do Norte, a Rússia, a Índia e o Paquistão” e “essa proliferação foi parada por consenso sob a ideia de que maior proliferação podia gerar maior risco”.
Baseia-se então numa lógica de “dissuasão” de que “quem já tem fica e quem não tem não adquire” com exceção de Israel “que não é considerado hostil para o Ocidente”. A especialista lembra contudo que o projeto nuclear do Irão, que teve início na década de 50, contou “com o apoio dos estados europeus e dos EUA para fins civis”.
Por sua vez, os grandes poderes europeus, França, Alemanha e Reino Unido foram signatários em 2015, juntamente com o Irão, a União Europeia, os Estados Unidos, a Rússia e a China, do acordo de Viena (Plano de Ação Conjunto Global) destinado a limitar a expansão do programa nuclear iraniano, denunciado por Donald Trump.
Recentemente a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) aprovou uma resolução onde declarou que o Irão não está a cumprir as suas obrigações do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. O chefe da AIEA afirmou que os inspetores não conseguiram determinar se o programa nuclear iraniano era “exclusivamente pacífico”.
Correio da Manhã

Os líderes europeus expressaram o seu apoio pelo ‘direito de defesa’ de Israel, mesmo depois de terem condenado os ataques do Estado hebreu em Gaza.
Nas últimas semanas, desde os recentes ataques israelitas ao Irão, várias capitais europeias têm apelado à diplomacia sem condenar os atos do estado hebreu. Muitos deles, incluindo Londres, Paris e Berlim, reagiram de forma inesperada depois de terem visto as suas relações com o primeiro-ministro israelita Netanyahu deterioradas depois de críticas à situação humanitária na Faixa de Gaza.
Em causa está uma vontade comum, a de impedir que Teerão tenha na sua pose, enquanto um Estado islâmico, uma arma nuclear.
“Israel tem o direito de se defender e o Irão não deve desenvolver armas nucleares”, declarou muito rapidamente o chanceler alemão Friedrich Merz. Durante a mesma tarde, o britânico Keir Starmer sublinhou “o direito de Israel à autodefesa” e as “preocupações de longa data” do seu país relativamente ao programa nuclear iraniano.
Emmanuel Macron, presidente francês, deu uma conferência de imprensa no passado dia 13 onde demonstrou também o seu apoio a Israel, defendendo o direito do Estado judeu se “defender” e que França iria “fazer parte das operações para defender Israel se estiver na posição de o fazer”, apesar de esclarecer que não iria participar em nenhuma “operação ofensiva”.
Em resposta à hipocrisia dos países ocidentais que possuem armamento nuclear, restringindo o Irão, o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Esmaeil Baqaei ,disse através do X que “Israel ataca instalações nucleares pacíficas, bombardeia casas e mata iranianos a sangue frio em violação flagrante do direito internacional, no entanto, Macron escolhe ‘distorcer’ o programa nuclear do Irão. A hipocrisia é impressionante”.
Joana Ricarte, especialista em relações internacionais, explica ao Correio da Manhã que o “mantra” construído para apoiar o direito à defesa de Israel se deve essencialmente a dois fatores. O primeiro é a “ligação histórica com Israel” e de uma “culpa relacionada com a perseguição povo judaico” durante décadas na Europa. O segundo deve-se à presença de regimes autocráticos no Médio Oriente, que envolvem Israel e cuja preocupação dos países do ocidente é “não colocar Israel vulnerável”.
Esta questão da hipocrisia da União Europeia dá-se ainda “no contexto de uma cimeira da NATO cujo objetivo é o aumento do gasto em defesa” e de convencer o presidente norte-americano de que é possível chegar aos 5%. A questão dos EUA também poderá ser uma preocupação para os Estados-membros uma vez que “uma ação mais rígida [por parte de Washington] pode passar uma mensagem que não é do interesse dos membros da NATO”, não alterando o “contexto da contradição” verificada.
Os interesses económicos passam, talvez de forma mais despercebida, “pelo gasto em defesa” e o esforço que a NATO está a fazer para chegar ao valor pedido por Donald Trump. De maneira mais evidente, este conflito entre o Irão e Israel ameaça o comércio global, segundo a especialista, “mais de 20% do comércio marítimo passa pelo mar vermelho”.
O caso de um bloqueio marítimo pode ameaçar o aumento da inflação na Europa, e o preço do petróleo, impactando “países como a Alemanha” que desde a “interrupção da relação com a Rússia devido às sanções” implementadas depois do inicio do conflito com a Ucrânia, viu os preços a aumentar.
Em Portugal também se fez ouvir o eco da preocupação com o projeto nuclear iraniano. Através de uma publicação no X, o primeiro-ministro Luís Montenegro afirmou que “é uma séria ameaça à segurança mundial” apelando “à máxima contenção de todas as partes e ao regresso às negociações com vista a encontrar uma solução diplomática”.
O controlo do desenvolvimento de armamento nuclear por parte de Teerão trata-se portanto de um “contexto histórico”, explica Joana Ricarte, iniciado no pós Segunda Guerra Mundial, a Guerra Fria e a corrida ao armamento. Não se tratou apenas da aquisição de armamento nuclear por parte de países europeus, mas também da “Coreia do Norte, a Rússia, a Índia e o Paquistão” e “essa proliferação foi parada por consenso sob a ideia de que maior proliferação podia gerar maior risco”.
Baseia-se então numa lógica de “dissuasão” de que “quem já tem fica e quem não tem não adquire” com exceção de Israel “que não é considerado hostil para o Ocidente”. A especialista lembra contudo que o projeto nuclear do Irão, que teve início na década de 50, contou “com o apoio dos estados europeus e dos EUA para fins civis”.
Por sua vez, os grandes poderes europeus, França, Alemanha e Reino Unido foram signatários em 2015, juntamente com o Irão, a União Europeia, os Estados Unidos, a Rússia e a China, do acordo de Viena (Plano de Ação Conjunto Global) destinado a limitar a expansão do programa nuclear iraniano, denunciado por Donald Trump.
Recentemente a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) aprovou uma resolução onde declarou que o Irão não está a cumprir as suas obrigações do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. O chefe da AIEA afirmou que os inspetores não conseguiram determinar se o programa nuclear iraniano era “exclusivamente pacífico”.
Correio da Manhã